quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Fugindo dos ogros


Capítulo 12: E o final...

Amanda viajou na maionese, completamente: essa história da homossexualidade do namorado era só uma forma de afastá-lo, pois para ela era muito difícil entender o afastamento. Em sua estrutura mental, a protagonista entendia afastamento como sinônimo de falta, completa, de amor! Por outro lado, Rodrigo estava sentindo muita falta da namorada, porque ficaram bem grudados durante os três primeiro meses. Não via a hora de terminar a prova para o doutorado, queria muito ter tempo para a amada.
        Imagina a configuração comportamental que irá surgir desses dois tipos de pensamentos antagônicos! Observe que há um mesmo propósito: os dois curtirem, só que uma das cabeças imaginava que o propósito era outro, neste caso: Rodrigo fugir da Amanda igual ao Leão da Montanha, como dizia o personagem do desenho: “Saída pela esquerda”. Esse era o pensamento e a certeza de Amanda, uma certeza falaciosa, ancorada em medos pessoais. Isso lembra outro casal da literatura, não tão tragicamente como estes, mas o mesmo tipo de conjuntura. E tal conjuntura seria uma pressuposição sobre algo que não é real. Ao invés de checar, acaba-se acreditando em ideias infundadas. O mais duro de tudo é que mesmo se Amanda fosse conferir, minutos depois, ela voltaria a acreditar nas mentiras que conta para si mesma, uma posição bem patológica para com o relacionamento amoroso. Já Julieta, se tivesse um WhatsApp ligaria, imediatamente, para Romeu, ou vice-versa, que a história foi recontada tantas vezes que já não sei quem é quem. Mas mandando uma mensagem para Romeu, na mesma hora, descobriria que a morte era uma farsa e teríamos um final feliz, como era do desejo dos dois.
        No entanto, nosso casal moderno não iria se matar fisicamente, mas emocionalmente, Amanda estava na beira do precipício para empurrar o relacionamento penhasco abaixo.  Até então, ela estava inconsciente desse procedimento, mas quando revelou a neura para os amigos que, naturalmente, percebiam o interesse de Rodrigo por ela. Tiveram que dar-lhe outra sacudida. Mostraram, claramente, que precisava se segurar, não a deixaria perder mais este relacionamento.
        Amanda só sabia se sentir segura se o casal estivesse grudado, mas não dava, né? Rodrigo não tinha percebido essa patologia porque foram, somente, três meses e nesse começo estava achando perfeitamente normal a grudação. Só que sendo adulto e prático quando a vida requeriu foco, ele teve que tomar uma atitude equilibrada e voltar para os afazeres da vida.
        O problema agora era segurar as neuras de Amanda e os amigos, novamente, se mobilizaram para impedir que ela cometesse a maior burrada da vida e perdesse o primeiro bom namorado que conquistou. Precisavam deter a síndrome de Ogrinha que a protagonista manifestava há tanto tempo. E a síndrome consistia em ligar para Rodrigo cobrando satisfação ou então bater na porta dele, vociferando, sobre a suposta homossexualidade do namorado e se colocando em um suposto papel superior, no qual diria: “Quer ficar com seu namoradinho? Fica, tem muito homem me querendo”. Obviamente, essa ira vinda do nada era o gatilho para qualquer ser humano saudável perceber a patologia e pensar que era muito cedo para enfrentar um problema tão sério. Como os laços estavam começando a serem forjados, o relacionamento iria se desfazer.
        Entretanto, como segurar aquele vulcão da natureza querendo fazer besteira. Diálogo, era a saída! Rodrigo e Amanda já eram amigos. Naturalmente um bom amigo não foge com o primeiro problema surgido. Iam abrir o jogo com o namorado da protagonista, colocar as cartas na mesa. Reverter o famoso senso comum que prega os relacionamentos líquidos, no qual não existe diálogo e quase amarram o casal a uma comportamento “maneiro”, sem cobranças e sem DRs.
        Marcaram, mais uma vez, a famosa reunião de aconselhamento e conseguiram de Rodrigo um tempo livre para a conversa. Os amigos introduziram a conversa falando que não é “normal” que entre um casal sejam os amigos que falem e não o casal, mas pediram que ele relevasse e contaram como era o esquema mental de Amanda. Apesar da situação ser delicada e a exposição dos verdadeiros sentimentos da amiga serem muito fortes, era necessário a atitude que tomaram. E, mesmo inusitado, o namorado entendeu, já tinha intuído que acontecia algo parecido, isso por causa das outras situações de enfrentamento que viu os amigos realizarem com Amanda. O que não conseguia ver era o quanto ela se sentia, realmente, não merecedora de um relacionamento! Qualquer tentativa de algo sério, o gatilho era disparado e com o terror que ela tinha de uma antiga profecia autorrealizável surgia. Assim, ela ia ao longo da vida repetindo o ciclo e realizava a profecia sempre.
        Rodrigo deixou claro com todas as letras, primeiro que não era gay e ele teve que achar engraçado tal pressuposição, até porque isso foi dito de uma maneira bem leve. Se tivesse sido dito aos gritos de acusação, ela teria perdido, com certeza, o amado. Depois que o relacionamento com o orientador era profissional, e que ele não sumiria mais tanto. No entanto, ele fez uma exigência, pediu que ela procurasse, imediatamente, uma terapia, pois amiga terapeuta não é possibilidade de terapia.
        Naquela noite, Rodrigo passou na casa da namorada indo embora porque precisava estudar, no dia seguinte. E, conseguindo dela a promessa de que iria tentar, de todas as formas, não pirar.
        Ela tentou, mas não era tão fácil, sentiu em um primeiro momento que não tinha superado nada, apesar de tudo, e que a dor de ser abandonada continuava ali, latente... E se agarrou na terapia que começou, além disso, acabou descobrindo um grupo de apoio, onde pode se refugiar quando se sentia abandonada.
        Aos poucos foi se curando, mas esse aos poucos, doía cada momento. De qualquer forma, já conseguia entender que Ogro é um rótulo muito feio para tratar as pessoas. No fundo, somos todos ogros, em algum momento ou em alguns momentos. E contra os momentos ogros há sempre o discernimento e a assertividade para dizer não àquilo que não faz bem. E principalmente, se o coração está muito vazio o risco de preenchê-lo com o que não faz bem é muito grande, mas quando temos amigos tudo fica bem mais fácil.
            E nas primeiras semanas de Dezembro, Amanda surge com um lindo vestido branco e Rodrigo a espera na frente e encaminha-se até ela para lhe dar a mão e... comemorarem sua entrada para o doutorado. Pensaram que eles estavam casando, né? Ô! povo casamenteiro! Deixa a festa rolar! DJ bota o som na caixa!
Margareth Sales

domingo, 29 de novembro de 2015

Fugindo dos ogros




Capítulo 11: O afastamento

        Amanda não sabia o que estava acontecendo, não havia um término oficial, mas um afastamento. Ele avisou por whatsApp que não estaria com ela final de semana, tinha que ver Pedro. E quem era Pedro? Ele respondeu que era o orientador dele. Nesse primeiro momento, porque ele avisou e explicou, mesmo que por mensagem, ela compreendeu e ficou tranquila.
        No entanto, como em três meses eles estavam muito grudados e ao cair da tarde do Domingo que ela se deu conta que ficou os três dias do fim de semana sozinha: o desespero bateu. Mobilizou todos os amigos, novamente, e eles, sempre, solícitos vieram para uma sessão de filme no domingo à noite para o famoso “concílio”. Amanda pontuou os acontecimentos para saber de seus amigos se eles achavam que Rodrigo estava terminando o namoro? Em uníssono, responderam que não, que o que estava acontecendo era perfeitamente natural para alguém que estava tentando o doutorado. Pediram para ela lembrar o quanto foi cansativa a Especialização que ela fez, imagine um doutorado que exige muito mais leitura?
        A protagonista acalmou-se novamente e mandou uma mensagem carinhosa apoiando o namorado em sua incursão exploratória no conhecimento acadêmico. Ele respondeu com um emoticon piscando, ela gelou! Esperava que ele respondesse que estava com saudade, que pararia tudo para vê-la e que eles nunca mais se desgrudariam. Os amigos pressentiram a neura e disseram para ela acalmar, as coisas iriam se resolver.
        Terminou o Domingo sozinha, dormiu, rapidamente, depois que seus amigos foram embora. Teve vontade de ligar para Rodrigo, mas estava tentando ser menos chorona e alertada pelos amigos para segurar a onda. Começava a pressentir que, talvez, fosse as suas neuras que a fizeram nunca ter alguém real ao seu lado ao mesmo tempo que dizia para si mesmo: “Nada! Eles não gostam de você mesmo e vai perder mais este!” Se sentia como nos desenhos, de um lado o anjinho como uma voz sensata falando para se segurar e, do outro, o diabinho dizendo para bater, nesse momento, na porta de Rodrigo e pedir satistações se ele tinha terminado com ela ou não?!” Mas dormiu, era melhor assim.
        Foi trabalhar e como sempre fazia quando estava mal: usava-o para espairecer, tinha sorte em fazer algo que gostava e que ao mesmo tempo mexia com sua criatividade. Ajudava, assim, a não encanar mais do que já estava com algumas situações que vivia. Portanto, durante a semana era fácil suportar a, suposta, solidão, sua vida de trabalho era agitada e recompensadora, deixando-a a se desligar, por um tempo, de suas faltas.
        O final de semana a apavorava, mas isso já foi dito, só que agora era pior porque ela, finalmente, estava feliz e confiante e, de repente, se sente perdendo tudo, novamente.  Tentou não deixar seus pensamentos a levarem a este local, pensaria o que fazer quando chegasse o fim de semana. No momento, estava no meio da semana, olhava o celular e nenhuma mensagem do amado, nenhum oi, nada! Desviava os pensamentos, tinha mais o que fazer, não podia se prender a isso e, apesar do medo, conseguiu chegou até a sexta-feira, supostamente, sóbria.
        Entretanto, na sexta todos os seus temores vieram a tona em um medo brutal: tentava se controlar, não ia ligar, esperava pela decisão de Rodrigo, não queria cair. Mas não conseguiu resistir e ligou impositiva quando já eram umas 17 horas e perguntou se ele não iria vê-la. Ele pediu mil desculpas, mas precisava ver o Pedro urgente:
        - Pedro para lá, Pedro para cá, agora é só Pedro! Ele é sua namorada por acaso? É ele que você vai beijá-lo fim de semana?
        - Claro, o Pedro é o amor da minha vida e não posso fazer nada sem ele. Todo o meu futuro depende dele - respondeu Rodrigo secamente - Desculpa não tenho tempo para isso agora, tenho mais o que fazer, depois falo com você! - E bateu o telefone.
        Amanda ficou desnorteada pegou a bolsa e saiu sem saber para onde ia. Estava segurando o choro, pegou um táxi, não sabia o endereço que daria para o taxista e decidiu ir para a casa do ogro-mor, Paulo. Bateu desesperadamente a porta dele e ele veio atendê-la de roupão. Ela já começava a romper em choro quando percebeu que ele estava com alguém e decidiu recuar. Ele a impediu, segurando pelo braço e a abraçando. A levou para dentro e disse para ficar a vontade que a casa, continuava, sendo dela. Foi ao quarto, ela ouviu gritos e, em seguida, a desconhecida saiu bufando e sem terminar de se arrumar direito. Ele disse:
        - Pronto! Agora sou só seu! Me conte tudo?
        Amanda desabou no choro, soluçava e dizia:
        - Me apaixonei por um gay, meu namorado gosta do professor dele e, nesse momento, passa o fim de semana com o Pedro, gostosão.
        - Como assim, Amanda? Você estava namorando um gay? Já não consegue identificar macho de verdade?
        Ela chorou, ainda, mais, como não tinha percebido? Macho mesmo não fica trancado em casa estudando e, além disso, é igual ao Paulo cheio de mulher. Por isso, que Rodrigo estava sempre sozinho, era gay!
        O ogro-mor percebeu que não devia mais deixar claro a patetice da ex, precisava ir com calma, porque quem imaginaria que ela, depois de tudo, ainda bateria em sua porta em um final de semana à noite. Era muita sorte dele, precisava ir devagar porque não queria perder Amanda pela terceira vez, tinha que ter aquela mulher de volta de um jeito ou outro. E aproximou-se carinhoso dela, ela estava muito mal, chorava muito, tinha crises de falta de ar de tanto que o choro congestionava suas fossas nasais. E ele delicadamente lhe fazia carinho, estava bem próximo de dar o bote quando... o celular toca fazendo escândalo e o faz pular.
        Era o primo, queria saber onde ela estava porque tinha ido a sua casa, buscar os ingressos que ela tinha comprado para ele, na quarta-feira. Ela tinha esquecido totalmente. Ele não a achou e na hora de ir embora deu de cara com o Rodrigo descendo também, perguntou por ela, mas o jovem não sabia de seu paradeiro. Achou estranho o comportamento do namorado e resolveu ligar. Amanda responde chorando:
        - Rodrigo é gay!
        - O quê? - Espanta-se o primo - Onde você está?
        Ela conta e ele ordena-a que desça, imediatamente, iria passar lá para buscá-la.
        No entanto, antes de descer, o Ogro-mor é mais radical na investida, não iria a deixar sair dali tão fácil...
        E a finalização de toda essa história, em dezembro.
Margareth Sales

sábado, 31 de outubro de 2015

Fugindo dos ogros



Capítulo 10: Depois da conquista

        Domingo de manhã, Marina toca o interfone de Amanda. Ela acorda toda desgrenhada e morrendo de sono. Diz para a amiga subir. Ela abriu a porta e foi escovar os dentes e a amiga entrou, direto. Foi escolher uma música e qual não foi sua surpresa ao ver Rodrigo saindo do quarto de shortinho! O riso com um misto de ironia e felicidade foi facilmente reconhecido. Já Rodrigo ficou um pouco envergonhado e disse que já estava de saída.
        A protagonista pela primeira vez se sentia muito bem em sua pele, não mais aquela sensação de abandono pela frieza dos homens no dia seguinte. Sentia um carinho, um aconchego desconhecidos. E não permitiu que o namorado? fosse embora, tratou-o, exatamente, dessa forma, como namorado, e deu-lhe um selinho de bom dia. E ele descontraiu e disse:
        - Assim não vale, você escovou os dentes. Que delícia! - E ele insinuou que ia para casa escovar, mas ela tinha escova reserva e não deixou, de jeito nenhum, ele arredar o pé de lá. Foram tomar café da manhã e enquanto os pombinhos se distraíam...
        Marina ligou para os amigos para fofocar as novidades. À hora do almoço, a muvuca apareceu junto com uma parafernália de comida e bebida. Eles queriam comemorar o que achavam o melhor relacionamento, em todos os tempos, da amiga.
        Ao mesmo tempo que Rodrigo divertia-se, pois ele já conhecia a todos. Ele estranhava. Era muita gente em um relacionamento recém-começado. Ah! E sim, na cabeça dele não era, apenas, passa tempo! Já vinha nutrindo esses sentimentos pela jovem e agora que aconteceu queria dar continuidade. No entanto, nesse primeiro momento estava muito difícil, pois para fundar-se uma boa base na qual se edifique o relacionamento é preciso conhecimento e que conhecimento era esse compartilhavam, em um primeiro momento? Pois estavam vivendo o que sempre viveram: a confraternização com amigos. A intimidade parece que só nos momentos furtivos a noite e estavam sendo poucos, porque no grupo eram todos noturnos e baladeiros.
        De uma certa forma, o que Amanda não compreendia é que estava evitando a estranheza do relacionamento. Principalmente porque se colocasse na balança, mesmo tendo sido casada, mas com toda a solidão que sentia, talvez, nunca estivesse estado em um relacionamento real. E aí surgia a grande pergunta, como viver de verdade com o outro?
        Enquanto não tinha condições de encarar o relacionamento de frente, divertia-se por estar em um: junto com os amigos! O famoso carnaval brasileiro, tudo termina em samba. Até os estudos de Rodrigo ficaram um pouco comprometido com tanta agitação.
        Amanda ficou tão sozinha, em todos os sentidos, depois do término com seu marido ogro que parecia, agora, querer preencher cada mínimo espaço de solidão com companhias. Claro que em um primeiro momento era a comemoração, mas facilmente começou a cair para a fuga e já não estava ficando tão saudável.
        Ao mesmo tempo, Amanda fascinava Rodrigo, era sempre tão sorridente, divertida e topava tudo, não tinha tempo ruim: se era para sair, saía, se era para ficar em casa jogando videogame também se divertia muito, só o que não gostava era ficar sozinha. Ainda que tenha aprendido e ficado bem antes de se envolver com o vizinho, mas havia voltado o terror da solidão, novamente.
        Na realidade, tinha medo que se ficasse muito íntima, do novo namorado, seria destruída. Pensava ele ia acabar descobrindo que toda aquela dor demonstrada um tempo atrás, doía muito mais na intimidade, e tinha certeza que essa “sofrência” era um defeito muito sério e deveria esconder de todo o jeito, pois do contrário, não teria mais amigos.
        Entretanto, no sufoco da paixão do momento nada disso era visto, somente a beleza, as deliciosas noites, a conversa que nunca esgotava. Como se quisessem torcer todos os anos vividos e derramá-lo todos em um só balde para terem certeza que, agora sim, se conheciam, profundamente. Nada era ruim, tudo era muito delicioso, apaixonante e reconfortante.
        E o tempo foi passando, os três primeiros meses vieram tão rápido que pareciam três dias e eles não se desgrudavam. Só que a quantidade de leitura que Rodrigo precisava dar conta estava começando a acumular e ele precisava continuar a carreira acadêmica, indo direto para o próximo passo: o doutorado!
        Quando o namoradinho percebeu que agora estava ficando mais sério, não o relacionamento, continuava na fase Carnaval. No entanto, sua possibilidade de entrar para o doutorado começava a parecer comprometida. Teve que tomar uma atitude, mesmo adorando passar a maior parte do tempo com sua amada.
        A distância começou devagar, mas aos poucos foi aumentando e ele foi se enfurnando, novamente, nos livros. A protagonista começou a pirar, pressentia que estava perdendo seu melhor relacionamento e começou a cobrar, daquele jeito que o namorado intuía que ia acontecer, mas não o fez se segurar naquela noite que ela estava tão linda e rolou o primeiro beijo!
        Nada estava acontecendo de real, ele estava tão envolvido com ela como antes, só chegara o momento de priorizar, sentia muita falta porque estava muito acostumado com ela. Claro que ele também pensava que ela ia entender o afastamento, ela também precisava de espaço.
        Só que o afastamento matou Amanda, não conseguia se equilibrar de jeito nenhum no real, só ouvia as vozes dizendo que seria abandonada, de novo, e que ninguém seria tão maravilhoso quando Rodrigo. Por isso, aparecia de repente, quando ele estava tremendamente ocupado e fazia cena dizendo que os livros para ele eram mais importantes que ela.
        E os livros eram, realmente, muito importantes, mas ela também, não se via sem nenhum, porém ela sufocava tanto que ele tinha que tomar uma atitude. Não deixaria nunca que impedissem seu futuro acadêmico, mesmo as custas de alguém que já amava tanto. E quando ficou insuportável, ele deu um basta e gelou o mais fundo da alma de Amanda com um imenso peso de: perdi de novo!
        Mas será? Vamos ver no penúltimo capítulo.

            
Margareth Sales

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Fugindo dos Ogros




Capítulo 9: O ogro e o salto alto

Depois de toda a reviravolta necessária, pela qual estava passando, Amanda resolve, definitivamente, sair da casca. Não precisava mais ficar grudada em ninguém para se divertir, tão menos viver em função da ditadura da vida social. E nesse sentido, quando queria sair, saía e quando achava que um bom lugar para ler um livro e um dia frio, como diz Djavan, bastavam é isso que fazia!
Assim, seu olhar ficou atento para algumas situações que não conseguia enxergar antes, como, por exemplo, um casal onde ele, praticamente, arrastava a parceira, pois esta estava com dificuldade de andar, no meio do paralelepípido de salto alto! O ogro não tinha paciência, deixava bem claro que falou para ela usar um sapato baixo e que não tinha tempo para ficar esperando o andar de lesma dela. E ia ele na frente, quase como um homem das cavernas puxando-a pelo braço e ela tentando se equilibrar no salto. 
Amanda refletia sobre a situação: todo ser humano busca por afirmação. Uma mulher, nunca, usa um salto enorme para passar despercebida, ela quer ser desejada, adorada. E ela faz sacrifícios para isso, se incomoda tanto ao parceiro o fato de que o salto atrasa a vida dele, porque não buscar a mulher das havaianas. Há tantas mulheres e de vários tipos, se ele a escolhe ou ela se deixa ser escolhida, porque não valorizá-la em cada mínimo detalhe, venerando-a, como toda mulher gosta de ser venerada.
Quando a figura feminina consegue essa conjunção de intenções, sente o prazer de ser muito desejada por alguém que a admira até diante de suas futilidades, ela se abre para fazer desse parceiro a pessoa mais feliz do mundo. A protagonista agora sabia que buscava gentileza e que seu grande amor a pudesse achar bela, divertida e fácil de gostar do jeito que ela era, sem modificar-se em função do outro. 
Além do ogro e o salto alto continuou enxergando muitas outras ogrisses por aí à fora. Finalmente, pode enxergar o medo que provocava em alguns rapazes, pois eles se sentiam inferiorizados pela sua majestada. Eles fugiam dela, não porque a desprezassem, mas sabiam que ela era muito areia para o caminhãozinho destes.
E os ogros mais audazes eram meio que patéticos: pareciam um polvo, cheios de tentáculos e qualquer desculpa era desculpa para tocar. Sim, o abraço, o toque é um gesto muito bonito. No entanto, fora aqueles especialistas em abraço que vem crescendo bastante nessa sociedade líquido-moderna, abraço não é uma coisa que distribuimos para todo mundo. E esses pseudo carentes são sacais, porque impõe um toque a partir da pena, ou seja, se a dama não os abraça é porque são esnobes demais e estão rejeitando um ser humano. Ora! Ech! 
Amanda observava esses tipos e observava Rodrigo, sempre tão discreto. Sozinho, mas não fazendo disso pretexto para atacar todo o universo feminino e colecionar pessoas. Em contrapartida, ele também a estava observando, notou que todo aquele desespero, de ser caso de vida ou morte, conseguir um relacionamento, estava desaparecendo. A protagonista parecia mais centrada, serena, ciente daquilo que queria de verdade.
E nessa dança de olhares e reflexões a jovem ao sair sozinha já não achava o fim do mundo e percebia o quanto as pessoas andavam em pares. Quase uma Arca de Noé de tanto casal. O que ela refletiu sobre isso foi que como não era tão intuitivo assim encontrar um parceiro, então, poderia ser que as pessoas ficassem com as outras muito mais pelo medo da solidão, do que por um sentimento real de companheirismo. E isso de certa forma, era uma releitura dos romances antigos porque ao ser determinado pela família para um casamento sem amor, gerava-se toda a falha trágica que iria reverter em um final nos moldes românticos, mas que deixava um furo para o leitor que sempre quer um final feliz. Assim, a modernidade está inscrita nesse terror da solidão que obriga o casal romântico a ficar com o outro, sem amor. Nesse sentido, a história é ciclíca e tem repetido ao longo dos anos romances infelizes e trágicos, às vezes sob a imposição de pais castradores, outras por medo da solidão.
Diante dessas reflexões, Amanda admirava, ainda, mais o vizinho que não se deixava iludir por essas ofertas fáceis de cura da solidão. Ele tinha uma boa companhia em si mesmo e não se venderia por qualquer relacionamento que só traria dor de cabeça e não crescimento. Até que em um final de semana que a protagonista decidiu, de novo, não sair, mas curtir o aconchego do seu lar. Como estava muito quente desceu para comprar um tablito, pois não tinha estoque de sorvete nenhum e encontrou o vizinho comprando o mesmo picolé na padaria. 
Ela disse que ele estava sumido e ele percebeu que era verdade, não tinha notado e seu coração acelerou! Isso porque estava sumido por começar a nutrir um desejo que estava preocupado em lhe gerar mais encrencas que alegrias. E nesse papo casual ela acabou levando-o para seu apartamento, uma coisa perfeitamente natural para os dois vizinhos e amigos, mas não era mais natural e o coração dos dois acelerou.
Como estavam envolvidos não havia chance de um ler o outro e entender que o sinal era avance! E para qualquer ser que convive em sociedade dar esse novo passo, esse outro passo é aterrador e parece não haver solução para isso. Só que a natureza é sábia, ela criou uma criatura belissíma: a mulher! Extremamente sensual e que era a única capaz de romper com essa interdição social.
E foi assim que ocorreu, eles comeram o tablito, compraram mais dois potes no sabor napolitano e passas ao rum e subiram para caçar um clássico qualquer para assistir. Escolheram A princesa e o pebleu, em preto e branco, ao sabor do sorvete. Só que Amanda fez lambança e derramou o sorvete no decote que estava ousado e nem foi de propósito, pois era uma camiseta hiper-básica para ficar em casa. Depois de derramar o sorvete no decote ficou limpando e chupando o dedo.
Nesse ínterim, viu o olhar desejoso do amigo e aí não prestou... Ela encarou-o profundamente e se aproximou ofegante. Ele não conseguiria mais fugir, a presa estava cercada, não tinha para onde correr e sua única opção foi o melhor beijo que deu em toda a sua vida! Cheio de paixão e de desejo.
E no próximo capítulo queremos saber se isso vai dar em namoro ou vai ficar, somente, em um beijo sensual e provocante. Em Outubro!
Margareth Sales

domingo, 30 de agosto de 2015

Fugindo dos Ogros



Capítulo 8: Sozinha

As próximas semanas já não foram tão agitadas quanto às anteriores: o salto alto foi trocado pelas sandálias rasteiras e sapatos baixos, a maquiagem, pela cara limpa. Amanda ainda estava triste pelo caminho que sua vida tinha tomado. Afinal, realmente, sentia falta de um grande amor, gostava de sentir o coração acelerado e desejoso, mas precisava se centrar e escolher o homem ideal, sair do domínio dos ogros.

A protagonista começa, assim, a sair sozinha, pois conseguir, durante um tempo, sair todo final de semana com os amigos é fácil. Difícil é conseguir que, sempre, todos os amigos tenham a agenda liberada para sair em bando, afinal, andar em bando é marca da adolescência e não da idade adulta. 

Ela aproveitou um desses finais de semana para assistir ao Tom Zé. Como o show é bem performático, não daria para se sentir sozinha porque ele tinha esse jeito de Stand Up comédia, fazendo com que o humor diminua o sentimento de solidão e traga a satisfação de uma noite bem aproveitada. Percebeu algumas paqueras, mas sozinha não tinha coragem de se aproximar de ninguém e nem deixar que se aproximassem dela, o risco do desconhecido a atormentava e ela só se sentia segura quando estava acompanhada. Não gostava de andar sozinha e até para coisas simples como fazer compras ou mesmo ir ao dentista, ela arrastava alguém para a acompanhar.

E, dessa vez, ela se sentia, completamente, perdida e sozinha no mundo, mas conseguiu sobreviver a sua primeira saída solo. Até que não foi tão ruim e nem ao menos dramático, se divertiu muito no show, mas assim que acabou, correu para casa! Queria se refugiar do mundo mal, o mais rápido possível.

No dia seguinte, precisa ir ao dentista e resolveu também fazer sozinha. Tinha feito um canal que não conseguia fechar nunca, porque limpava, limpava e continuava doendo. Depois limpava, limpava, tomava antiinflamatório e continuava doendo. Dessa vez, o dentista achou onde ainda precisava limpar e a dor cessou, completamente. No final ele disse:

- Graças a Deus, porque acredito que você não aguentava mais olhar para minha cara.

Nossa amiga, na mesma hora pensou como resposta: “Na realidade, queria casar com você, mas você só trata do meu dente e nem me enxerga, seu gostoso! Casa comigo? Roupa lavada e dedicação exclusiva, seu lindo!” 

No entanto, não foi essa a resposta que deu ao dentista, somente um sorriso amarelado, parecendo concordar que já estava cansativo voltar toda hora para um tratamento que não finalizava. Amanda saiu do consultório se sentindo patética: ela era afim de todo mundo! Nunca escolheu, de verdade, um relacionamento que a satisfizesse, pegava o primeiro que queria ficar com ela.

Saindo do dentista, foi à padaria comprar um pão doce delicioso, lembrou da adolescência quando se achava tão sem valia que seria um milagre se o padeiro falasse que ela era bonita: ele nunca falou, nenhum padeiro nunca falou!

Mas seguiu a vida determinada a se encontrar, a esquecer essa obsessão pelo homem ideal e focar-se em se sentir bem consigo mesma! Por isso, mais uma semana terminava e foi ela, de novo, sair sozinha. Dessa vez, estava mais abusada, foi jantar sozinha. Foi horrível, ela sentia todo mundo olhando para ela, visualizava uns cabeções em sua direção e dizendo: “Tadinha, deve ser muito solitária, não deve ter um amigo, parece uma perdedora, né? Além disso, quem autorizou uma mulher a sair sozinha?”

Não conseguiu ficar, cancelou o pedido e disse ao garçom que estava passando mal, chegou em casa tremendo e soluçando. Não conseguia encaixar a chave na fechadura. Rodrigo a viu e veio resgatá-la. Ele perguntou o que houve e como seu corpo estava fraco, ela não resistiu e o abraçou como um apoio para o corpo e começou a chorar, convulsivamente. Rodrigo sentiu aquele corpo junto ao seu, aquele cheiro delicioso, os cabelos macios que ele acariciava, tocou-lhe no rosto e teve um desejo fortíssimo de beijá-la, mas sabia que não poderia fazer isso...

Nesse momento, da vida da protagonista, Rodrigo era a droga necessária para continuar a vida de dependência por relacionamentos. Se ele a salvasse agora, de novo, como todos fizeram, ela não conseguiria aprender a ser sozinha e, no futuro, iria desmoronar novamente. Então, o vizinho abriu-lhe a porta, a sustentou até a cama e colocou-a para dormir com um suco de maracujá que fez, ela estava abraçada com o ursinho e chorando muito. Ele sentou ao lado de sua cama, fez carinho nos cabelos, de novo e ela adormeceu.

No sábado, acordou melhor, não era uma pessoa, por natureza, deprimida, só tinha um pânico enorme de ficar sozinha e muita tristeza quando ficava, muito mais durante a noite e aos finais de semana. Foi se olhar no espelho e decidiu que iria, de novo, ao restaurante. Quando chegou a noite, se arrumou toda, pegou um táxi e foi! As cabeças cresceram e apontaram para ela, definindo-a dessa vez como mal amada, mas ela resistiu, pediu sua comida, pediu seu suco e, finalmente, depois de forçar a situação, sentiu-se bem, estava feliz e reparou que ninguém a estava observando, como achava! Cada um estava muito ocupado consigo mesmo e, principalmente, com os celulares para ficar vigiando a vida de alguém. Existia outra maneira de cuidar da vida dos outros: as redes sociais.

No Domingo, ela foi mais ousada ainda, iria pegar sua primeira sessão de cinema, sozinha! Estava se sentindo uma heroína, destemida, tomando tais posições. E ao final do primeiro mês, já estava perfeitamente habituada a fazer vários programas, somente, na companhia de si mesma. Porém, de repente, sentiu-se entediada, no começo quando era novidade, foi uma revolução, mas agora, ficou repetitivo e não era mais o sentimento de solidão, esse ela havia vencido, o sentimento era de tédio, pensou: “Quem inventou que era moderno, que era feminista fazer as coisas sozinha é um babaca!” Percebeu, então, que tem uma diferença muito grande em saber estar sozinha e querer ser sozinha, a segunda opção serve, apenas, para algumas pessoas. Ela não era misantropa, ela gostava de viver em sociedade e se divertir acompanhada, ainda que tivesse toda a habilidade para, se necessário, estar sozinha. 

Parece que no próximo mês, Amanda vai sair da casca. Confiram!
Margareth Sales

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Fugindo dos ogros


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Capítulo 7: Limpando a casa

Bem, começo esse capítulo para fazer entender uma coisa muito importante: não existe nada disso de Mané narrador no meu texto. Aqui quem fala é o ser demiurgo que bolou toda essa joça. Então, não venha dizer que eu morri, pois estou bem vivinha e da Silva que é parte do meu sobrenome. Portanto, as criaturas que eu criei serão vítimas da minha opinião e intromissão contumaz e dito isto, vamos aos acontecimentos psicológicos!

Amanda acabou por entender que para encontrar uma pessoa saudável, ela também precisava tornar-se saudável. Portanto, desistiu da busca desenfreada pela alma gêmea e decidiu dar um jeito na casa, ou seja, tratar as mazelas que a atormentavam para parar de ficar obcecada pelo encontro com o outro. Assim, percebeu que não era obrigatório dela de qualquer maneira. E se isso ocorresse ela não poderia mais se fragmentar sem volta!

Há pessoas e pessoas e, nesse caso, algumas como os amigos da Amanda são descolados e isso significa dizer que levam a vida numa boa. Outros, como Amanda, são obcecados, cada mínimo detalhe é importante, cada próximo passo, como se um passo em falso todo o processo se perdesse. São pessoas, profundamente, angustiadas que parecem, a todo momento, estar pedindo ajuda, estar buscando que o outro cure a grande inflamação que é a vida dessa pessoa.

Porque é isso mesmo, uma grande inflamação, sempre a dor e a angústia como se com um mínimo assopro fossem quebrar e sem conserto. No fundo, torna-se uma pessoa patética, mendigando por qualquer migalha de amor. Como se o mundo mau devesse algo a protagonista. Sempre procurando por segurança e nunca encontrando. E por toda essa constituição estrutural sentia-se um nada que precisa da alteridade para ser.

Amanda estava triste porque dentro do seu ser sentia que era impossível ser amada, tinha algumas ilhas de segurança quando percebia que um ou outro gostava dela, mas para ela isso era tão raro. E, por isso, foi muito angustiante descobrir que estava fantasiando que o seu vizinho gostava dela. No fundo de sua cabeça pensava que nunca ninguém gostou dela de verdade, nem aquele que, supostamente, não curtia a vida.

Obviamente, a protagonista estava firmada em esquemas estanques de comportamento, definido pelo senso comum e que via a vida como uma fórmula mágica. Como um exemplo bem banal e conhecido: se alguém não gosta de você é só sair com alguém lindo, com dinheiro e inteligente para provocar um ciúme de tal forma avassaladora que o objeto de desejo irá excomungar a quinta geração por não ter dado atenção aquela criatura tão magnífica que consegue chamar atenção de um partido tão bom quanto esse que está saindo. Tem pessoas que, realmente, pensam que se o relacionamento não for igualzinho aquele que a telenovela mostra, então, estão vivendo numa grande farsa.

Havia, assim, um esquema na cabeça da protagonista desde que conheceu o universo dos romances, via folhetim televisivo. O esquema era: ela vai ao local da paquera bem arrumada, um lindo homem a vê, naquela multidão de pessoas, se usar óculos, então, ainda fica mais difícil. Encaminha-se em sua direção, se apresenta e a convida para sair. Um ano e meio depois, mais ou menos, ela vai dar aquela festa de princesa que sempre sonhou, com seu lindo vestido branco para “causar” nos 800 amigos do facebook e receber o carinho de todos com o: “agora assim você é feliz, realizou o que todo mundo acha que deve ser”. Só faltam as letrinhas: The End em inglês ou O fim, em Português.

A vida nunca correspondeu ao esquema, ninguém nunca a tirou para dançar. Na adolescência enquanto todos tinham namoradinhos, ela estava, sempre, sozinha. Sem dúvida ouvia o quanto era bonita, inteligente, superdivertida, mas por dentro, fora do olhar do outro, sentia-se sem atrativos, estabanada e burra! Burra sim, uma pessoa inteligente conseguia conquistar. Os rapazes só se aproximavam dela para saber da amiga. Sempre se interessavam pelas amigas, nunca por ela. Seu primeiro namorado foi aos 19 anos, Ogro criado no mais puro boteco da esquina e cheirando a cerveja e cigarro, ele a tratava como lixo, nunca aparecia e nunca deixava ela terminar. Quando começou a namorar o ex-marido, em sua cabeça ouvia que se não ficasse com aquele, ninguém mais iria gostar dela. Ou ficaria com o ogro-mor ou sozinha pelo resto da vida e o medo da solidão trazia-lhe pânico.

Agora, todas essas lembranças a invadiam, nunca tinha falado de como via essa situação para ninguém e fez uma reunião de descarrego, no caso, abrir o verbo e falar o quanto se sentia mal com tudo e o quanto toda aquela alegria que ela demonstrava era falsa, sentia-se, profundamente, vazia.

Marina ficou chocada com o desabafo, sendo psicóloga nunca poderia imaginar que os sentimentos da amiga eram tão contundentes, afinal, ela era, extremamente, funcional e uma pessoa de sucesso. Claro, no olhar do outro, no olhar da protagonista, tudo era uma farsa e muito pesado de manter.

Rodrigo estava nessa sessão de desabafo e, também ficou surpreendido. E sabia que a nova amiga era sim desejável, ele a desejava, só que ela nunca conseguiu perceber quando alguém legal a queria. Ele nunca disse nada, não por ser tímido, nerd, apenas, porque ele conhecia a amiga e vizinha, se ele entrasse nesse relacionamento... Daqui a duas semanas, ela já estava comprando a passagem para passar a lua-de-mel em Paris. Ele nunca pensou em casar, gostava da vida de solteiro e, também, não iria iludir outro ser humano com promessas que não tinha intenção nenhuma de cumprir. Sabia que se decidisse ter um relacionamento com Amanda teria uma companheira maravilhosa, só que, também, pegajosa e carente e isso assusta, os maduros privilegiam a autonomia.

Só que o desabafo da protagonista mexeu com as estruturas sóbrias do vizinho e ele ficou doido para cuidar dela, principalmente, depois da convulsão de choros. Ela estava profundamente sexy e desamparada. Ficou assustado com o seu desejo e agora? Será que Rodrigo vai conquistar a vizinha? No próximo mês!
Margareth Sales

terça-feira, 30 de junho de 2015

Fugindo dos ogros


Capítulo 6: Revelações

Christiano era amigo de infância do Juliano que como era primo de Amanda acabou, por extensão, tornando-se amigo da Amanda. Durante a adolescência, Christiano até teve uma quedinha por Amanda. Porém, ela nunca pode enxergar aquele que gostava dela, sempre foi atrás dos, supostos, impossíveis, pois construiu em sua cabeça a noção de que valor estava ancorado ao outro, ou seja, só quando conseguisse o ideal, o impossível era que seria valorizada de verdade!

Com o tempo, a quedinha que Christiano sentiu foi arrefecendo, pois ele escolheu buscar alguém mais acessível, não quem só queria os que não podia ter para provar que tendo era merecedora ao conseguir o impossível. Provar seu valor, mostrar que era tão especial que fez quem nem a via, achá-la especial. Grande engano... O esquema só funcionava assim na cabeça da protagonista. Na vida real, a história era bem diferente.

Dessa forma, é notório que Amanda nunca enxergou a realidade, mas tratou a vida, sempre, como um conto de fadas, sem chegar ao final feliz e por esse motivo não percebeu quando os bons partidos chegaram até ela e, nunca, soube que, seu amigo, Christiano havia se interessado. No entanto, isso tinha muito tempo e ele nem lembrava mais.

Assim, no quinto final de semana reservado a ele para fazer Amanda, finalmente, desencalhar, veio a cabeça a pequena paixão juvenil e ele riu de sua ingenuidade e percebia em Amanda uma verdadeira amiga, nunca uma amante.

Christiano esteve viajando a trabalho, durante o último mês, e não sabia nada a respeito da evolução amorosa na vida da amiga. Ele era piloto e sua namorada morava na Inglaterra, por isso, passou o último mês naquele país e na correria de todos, estava desatualizado sobre os acontecimentos e os amigos também estavam desatualizados a respeito dele.

E ao reencontrar Amanda havia um novo fator que ele desconhecia: ela começava a se interessar pelo vizinho! Para se informar melhor dos acontecidos e decidir onde levaria a amiga para paquerar. Christiano decidiu entrar em contato com todos os outros amigos e descobrir a história de Rodrigo quem ele era e se era mais um inacessível escolhido pela protagonista.

Contra todas as expectativas, os amigos gostavam do vizinho, só que eles não viam interesse dele por Amanda, perceberam, mais uma vez, que ela criou esse suposto interesse em sua cabeça. Ela até achou que armaram uma saída quando Rodrigo conseguiu um convite super esgotado para a peça que ela queria muito assistir. No entanto, foi o vizinho, mesmo, que conseguiu o convite. Como estava estudando muito e sabia do interesse de sua vizinha em assistir a peça, convidou-a. O que, na realidade, foi fantástico, pois a tirou das garras do ex, ogro-mor.

Então, a decisão de Christiano foi continuar com a proposta inicial, ou seja, levá-la aos pontos de paquera para conhecer uma nova pessoa. Fora de sua zona de conforto. Foram a um show ao ar livre de MPB, na beira da praia. Entretanto, Amanda estava inquieta, não enxergava ninguém, só falava do quanto o Rodrigo era bonito, inteligente, companheiro. Bem, Christiano concordou com todos os adjetivos que a protagonista atribuiu ao vizinho, mas teve que ser radical porque já estava na hora de Amanda cair na real e parar de se relacionar com o universo da fantasia. Sim, o Rodrigo era um ótimo partido, mas ele não estava afim dela e ponto.

Amanda chocou-se e se debulhou em lágrimas, finalmente, colocou para fora a dor que sentia, achava-se indigna de amor e que nunca iria ser feliz nessa área. O amigo a consolou e esclareceu que havia uma diferença muito grande entre conquistar a todos - impossível - e conquistar, alguém perfeitamente viável. Ele explicou que não era só o Rodrigo que era maravilhoso, que ela também tinha uma quantidade enorme de qualidades que qualquer um daria tudo para estar ao seu lado. Só que, claro, paradoxalmente nem todos iriam querê-la e isso é, perfeitamente, normal. E como ele havia lembrado que na adolescência teve uma queda por ela, contou-lhe e ela ficou estupefata. Como assim, uma pessoa maravilhosa, como este amigo, se interessou por ela e ela nunca notou?

Depois da choradeira nauseante, mas perdoável porque as pessoas têm dores e é preciso apoiá-las e ajudá-las na cura, porém não alimentar! Os amigos decidiram encerrar a noite e encerrar a busca frenética e desesperada pelo par, ficou decidido um segundo momento de reciclagem. Colocar todos os fatos na balança, repensar os erros e decidir os próximos passos a serem tomados. Afinal de contas, havia muita questão pessoal a ser dirimida.

Ficaram mais um pouco ouvindo a nossa gostosa MPB, beliscando um bom camarão frito à beira-mar e tomando refrigerante, pois nunca entenderam essa cultura de que só é divertido se tiver bebida alcoólica. Amanda e seus amigos discordavam da assertiva, se divertiam com ou sem bebida alcoólica e, alguns deles, raramente, ficavam embriagados enquanto os outros, nunca ficaram.

No Domingo, resolveram fazer um churrasco no apartamento de Amanda, aquele jeitinho brasileiro, numa área pequenininha aberta, queimaram uma carne. Claro, Rodrigo como mais novo componente do grupo de amigos foi convidado. E Amanda, apesar de tentar se controlar, ainda, não tinha trabalhado bem com essa nova obsessão e se pegava a todo momento dizendo o quanto foi maravilhoso a ida ao teatro, esmiuçando a peça, rindo de coisas realmente muito engraçadas que faziam o Rodrigo rir junto ao lembrar e outras sem graça nenhuma que ela ria sozinha e ficava no vácuo! O vizinho ficou um pouco incomodado com algum dos comportamentos da vizinha, no entanto, ele tinha uma amizade muito forte por ela e não sabia o que era, mas percebeu que tal comportamento despropositado, eventualmente, cessaria.

Christiano percebeu como a amiga estava se comportando, a puxou e falou:

- Você tem valor, Amanda, não precisa correr atrás de ninguém. Você é como uma maçã. A maçã não precisa dizer: “me coma, me coma”, pois ela é desejada e apetitosa e sempre vai atrair os que a desejam!

Dito isso, Amanda olhou Rodrigo e constatou, ele é, sim, maravilhoso, mas é meu amigo, se algo naturalmente acontecer, que venha! Do contrário, a amizade vai prevalecer.


Dito isto, será que no próximo capítulo encontraremos uma Amanda mais centrada? Em Julho a resposta virá!
Margareth Sales

domingo, 31 de maio de 2015

Fugindo dos ogros



Capítulo 5: Um ogro que volta

        Juliano era o amigo número quatro de Amanda. Na realidade, ele era seu único primo e companheiro de travessuras, na infância. O rapaz era um sedutor, mas foi criado como irmão da prima e entre eles não havia desejo algum. Ela aprendia, teoricamente, muito das artimanhas masculinas de sedução com ele, no entanto, na prática esquecia rapidamente quando eram só... um pouquinho... mais educados com ela. Todos seus amigos diziam, sutilmente, que ela precisava trabalhar a carência, sair da posição de alvo fácil, porém só agora, depois da intervenção, Amanda começava a refletir sobre seus relacionamentos com os rapazes.
         E por esse motivo começou a reavaliar como eram os relacionamentos pelo ângulo de um sedutor, como era o primo. De qualquer forma, nenhum dos seus amigos achava o Juliano canalha ou ogro. Isto porque ele sempre deixava claro em todos os relacionamentos que não eram para se envolver, ele era livre e gostava disso. As desavisadas poderiam dizer que foram enganadas, mas ele tinha um radar bom para as maduras emocionalmente, ou seja, aquelas que entendiam que ele não estava mentindo, que, realmente, ele não se apaixonaria, seria sempre um ótimo companheiro e amante, com prazo de validade.
         Assim, Juliano era hiper-badalado e com amigos em todos os lugares. Dentre esses amigos que pensou na estratégia para a prima conhecer o novo pretendente. Saíram, então, para o bar onde a paquera rolava, chegando lá ele encontrou com os amigos e em off disse:
         - Tá vendo aquela gata? Minha namorada, a mulher perfeita, em tudo: inteligente, sexy, independente, linda, madura. Não deixo essa mulher escapar por nada!
         Logo depois de dizer isso saiu e foi dar uns pegas em uma garçonete dali. Conhecia o grupo que tinha infiltrado os elogios pela prima: os que eram contra mais de um relacionamento. Dito e feito, um deles se aproximou de Amanda tentando salvá-la do suposto namorado mulherengo. Nosso protagonista não sabia porque o jovem veio tão incisivo nela, estranhou, mas ele foi educado e cortês e flertava, nitidamente. Estava adorando, não sabia o que o primo fez, mas estava dando certo... Até o momento, que o ogro ex-marido surge e isso não esperava. Ele? Com aquela preguiça toda? Que achava que relacionamento era ficar trancado em casa, comendo, bebendo e fazendo amor?
         Ao vê-la, Paulo abriu um enorme sorriso e se encaminhou para cumprimentá-la. Amanda logo ficou muito preocupada, pois achou que iria rolar briga no bar porque estava com outro cara. Gelou. No entanto, contra todas as expectativas, o ex foi dócil, fez o que nunca faria na vida, cumprimentou o oponente e deu a entender que a parabenizava por ter seguido em frente. Disse que para ele era muito difícil, pois ela era o amor da sua vida e se arrependia, profundamente, de ter falhado tanto! Clarooo, que o gelo de Amanda deu uma derretidinha. Em seguida, ele saiu e ficou sozinho no balcão do bar, nem ligava para as investidas das outras, deixou claro que a felicidade dele seria voltar com a amada, nada mais era importante no mundo!
         Quando Juliano voltou de seus amassos com a garçonete viu a cena mais repugnante para quem gostava da prima: ela com o ex-marido, flertando! Dirigiu-se direto para impedir aquela disparate, mas nada conseguiu, Amanda estava enfeitiçada novamente e era horrível ver alguém descer tão baixo e se desvalorizar, porém ela era adulta! Bem que queria tirá-la de lá a força, mas não podia fazer isso, torcia só para que ela recuperasse o juízo.
         E o final de semana que foi prometido para novos encontros, mudança de vida, a protagonista se enfurnou no velho apartamento para reviver o que ela achava que estava sendo legal. Afinal, ela tinha suas urgências e ele era conhecido. Só que ela resolveu ligar o celular e no início da tarde do Domingo, várias mensagens cobrando e confrontando a postura que ela tomou. Sentiu-se culpada, claro, e aceitou um convite para o teatro com Rodrigo, mas sabia ser uma armação realizada pelos amigos para que ela fosse de qualquer jeito! Isso porque o vizinho usou do artifício que estava estudando demais e precisava espairecer, mas não queria ir sozinho e tinha um convite para a peça que ela estava louca para assistir (seus amigos, obviamente, moveram céus e terra para descolar esse ingresso). Isso tudo fechou o cerco, como poderia dizer não ao novo amigo, sempre tão solicito, como poderia dizer não para a peça mais que esgotada que queria tanto assistir? Despediu-se de Paulo, disse que tinha que voltar para casa e seus compromissos e saiu.
         O que Amanda havia esquecido em seu desvario de pena do “solitário” ex-marido e de sua cegante “fome do rato”, foi que ele era obsessivo, controlador, não deixava ela fazer nada, sair com amigos e nem a deixava em paz. Então, uma hora depois de deixar a casa do ex, já estava ele, incontinentemente, ligando sem parar. Respondeu que estava no teatro e ele irado, disse que tudo bem, tinha compromisso com a Joana à tarde mesmo. Joana era uma mulher que sempre tentou destruir o casamento dos dois e que Amanda odiava. A jovem respondeu que ele era livre para fazer o que quisesse. Pela primeira vez, percebeu que não se importava mais. Também percebeu que sempre que ela não fazia o que ele queria, ele a punia! Por isso, Amanda colocou o número do ex-marido em sua blacklist, se sentiu idiota por ter cedido, queria um buraco para enterrar a cabeça. Porque mexer em algo que nunca deu certo? E lembrou do quanto os amigos, realmente, execravam aquele relacionamento, não teria uma razão de ser?
         Entretanto, depois do banho, da roupa, dos sapatos, da bolsa para o teatro, se sentia renovada e Rodrigo tocou a companhia, desta vez sem os pijamas e camisas de super-heróis que costuma usar, mas uma roupa de homem e para sua surpresa estava hiper-sexy. De intrigada com o fato de que seu vizinho não era o perdedor que achava, passou a um aperto no peito inusitado que ela não entendeu o que era, porém a noite foi descontraída e fantástica, com alguém que era super-bom de papo.
         Assim, os desdobramentos da noite, a avaliação dos novos acontecimentos e as futuras paqueras, no próximo capítulo!
Margareth Sales