quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Fugindo dos ogros


Capítulo 12: E o final...

Amanda viajou na maionese, completamente: essa história da homossexualidade do namorado era só uma forma de afastá-lo, pois para ela era muito difícil entender o afastamento. Em sua estrutura mental, a protagonista entendia afastamento como sinônimo de falta, completa, de amor! Por outro lado, Rodrigo estava sentindo muita falta da namorada, porque ficaram bem grudados durante os três primeiro meses. Não via a hora de terminar a prova para o doutorado, queria muito ter tempo para a amada.
        Imagina a configuração comportamental que irá surgir desses dois tipos de pensamentos antagônicos! Observe que há um mesmo propósito: os dois curtirem, só que uma das cabeças imaginava que o propósito era outro, neste caso: Rodrigo fugir da Amanda igual ao Leão da Montanha, como dizia o personagem do desenho: “Saída pela esquerda”. Esse era o pensamento e a certeza de Amanda, uma certeza falaciosa, ancorada em medos pessoais. Isso lembra outro casal da literatura, não tão tragicamente como estes, mas o mesmo tipo de conjuntura. E tal conjuntura seria uma pressuposição sobre algo que não é real. Ao invés de checar, acaba-se acreditando em ideias infundadas. O mais duro de tudo é que mesmo se Amanda fosse conferir, minutos depois, ela voltaria a acreditar nas mentiras que conta para si mesma, uma posição bem patológica para com o relacionamento amoroso. Já Julieta, se tivesse um WhatsApp ligaria, imediatamente, para Romeu, ou vice-versa, que a história foi recontada tantas vezes que já não sei quem é quem. Mas mandando uma mensagem para Romeu, na mesma hora, descobriria que a morte era uma farsa e teríamos um final feliz, como era do desejo dos dois.
        No entanto, nosso casal moderno não iria se matar fisicamente, mas emocionalmente, Amanda estava na beira do precipício para empurrar o relacionamento penhasco abaixo.  Até então, ela estava inconsciente desse procedimento, mas quando revelou a neura para os amigos que, naturalmente, percebiam o interesse de Rodrigo por ela. Tiveram que dar-lhe outra sacudida. Mostraram, claramente, que precisava se segurar, não a deixaria perder mais este relacionamento.
        Amanda só sabia se sentir segura se o casal estivesse grudado, mas não dava, né? Rodrigo não tinha percebido essa patologia porque foram, somente, três meses e nesse começo estava achando perfeitamente normal a grudação. Só que sendo adulto e prático quando a vida requeriu foco, ele teve que tomar uma atitude equilibrada e voltar para os afazeres da vida.
        O problema agora era segurar as neuras de Amanda e os amigos, novamente, se mobilizaram para impedir que ela cometesse a maior burrada da vida e perdesse o primeiro bom namorado que conquistou. Precisavam deter a síndrome de Ogrinha que a protagonista manifestava há tanto tempo. E a síndrome consistia em ligar para Rodrigo cobrando satisfação ou então bater na porta dele, vociferando, sobre a suposta homossexualidade do namorado e se colocando em um suposto papel superior, no qual diria: “Quer ficar com seu namoradinho? Fica, tem muito homem me querendo”. Obviamente, essa ira vinda do nada era o gatilho para qualquer ser humano saudável perceber a patologia e pensar que era muito cedo para enfrentar um problema tão sério. Como os laços estavam começando a serem forjados, o relacionamento iria se desfazer.
        Entretanto, como segurar aquele vulcão da natureza querendo fazer besteira. Diálogo, era a saída! Rodrigo e Amanda já eram amigos. Naturalmente um bom amigo não foge com o primeiro problema surgido. Iam abrir o jogo com o namorado da protagonista, colocar as cartas na mesa. Reverter o famoso senso comum que prega os relacionamentos líquidos, no qual não existe diálogo e quase amarram o casal a uma comportamento “maneiro”, sem cobranças e sem DRs.
        Marcaram, mais uma vez, a famosa reunião de aconselhamento e conseguiram de Rodrigo um tempo livre para a conversa. Os amigos introduziram a conversa falando que não é “normal” que entre um casal sejam os amigos que falem e não o casal, mas pediram que ele relevasse e contaram como era o esquema mental de Amanda. Apesar da situação ser delicada e a exposição dos verdadeiros sentimentos da amiga serem muito fortes, era necessário a atitude que tomaram. E, mesmo inusitado, o namorado entendeu, já tinha intuído que acontecia algo parecido, isso por causa das outras situações de enfrentamento que viu os amigos realizarem com Amanda. O que não conseguia ver era o quanto ela se sentia, realmente, não merecedora de um relacionamento! Qualquer tentativa de algo sério, o gatilho era disparado e com o terror que ela tinha de uma antiga profecia autorrealizável surgia. Assim, ela ia ao longo da vida repetindo o ciclo e realizava a profecia sempre.
        Rodrigo deixou claro com todas as letras, primeiro que não era gay e ele teve que achar engraçado tal pressuposição, até porque isso foi dito de uma maneira bem leve. Se tivesse sido dito aos gritos de acusação, ela teria perdido, com certeza, o amado. Depois que o relacionamento com o orientador era profissional, e que ele não sumiria mais tanto. No entanto, ele fez uma exigência, pediu que ela procurasse, imediatamente, uma terapia, pois amiga terapeuta não é possibilidade de terapia.
        Naquela noite, Rodrigo passou na casa da namorada indo embora porque precisava estudar, no dia seguinte. E, conseguindo dela a promessa de que iria tentar, de todas as formas, não pirar.
        Ela tentou, mas não era tão fácil, sentiu em um primeiro momento que não tinha superado nada, apesar de tudo, e que a dor de ser abandonada continuava ali, latente... E se agarrou na terapia que começou, além disso, acabou descobrindo um grupo de apoio, onde pode se refugiar quando se sentia abandonada.
        Aos poucos foi se curando, mas esse aos poucos, doía cada momento. De qualquer forma, já conseguia entender que Ogro é um rótulo muito feio para tratar as pessoas. No fundo, somos todos ogros, em algum momento ou em alguns momentos. E contra os momentos ogros há sempre o discernimento e a assertividade para dizer não àquilo que não faz bem. E principalmente, se o coração está muito vazio o risco de preenchê-lo com o que não faz bem é muito grande, mas quando temos amigos tudo fica bem mais fácil.
            E nas primeiras semanas de Dezembro, Amanda surge com um lindo vestido branco e Rodrigo a espera na frente e encaminha-se até ela para lhe dar a mão e... comemorarem sua entrada para o doutorado. Pensaram que eles estavam casando, né? Ô! povo casamenteiro! Deixa a festa rolar! DJ bota o som na caixa!
Margareth Sales

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