sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sequestro (síndrome de Estocolmo)


Era uma vez uma princesa, filha de um rei e de uma plebéia, essa plebéia era casada com um plebeu de comportamento dúbio, não era bem visto na vila. Esse plebeu não sei por quais motivos se achava o “rei da cocada preta” e paquerava todas com uma única condição: ussasse vestido!

A plebéia muito cansada dessa situação e seus pais sendo empregados do velho rei, no qual ela era amiga do príncipe, acabou com seus dotes femininos, seduzindo-o. Dessa forma, ela engravidou do príncipe tendo uma linda princezinha no qual acordou com o príncipe que a daria para que ele cuidasse da menininha.

Só que o destino foi cruel, o plebeu de comportamento dúbio que sempre escorraçou a esposa como se ela nunca fosse capaz de conseguir ninguém melhor do que ele, se sentiu profundamente ofendido pela traição. Assim, apesar dos 10 filhos que já tinha, resolveu ficar com a princesinha, de certa maneira até que a tratava bem. Mas se olhássemos de perto veríamos a diferença feita entre ela e os outros filhos.

A princezinha cresceu, então, pensando que tinha algum problema, pois nunca chegava perto do comportamento de sua família (que na realidade não era a família real, mas a que a tinha sequestrado). O que ela não percebia é que a grossura, os escárnios não eram educados, mas ela pensava que deboche era a forma real de comportamento.

Enquanto isso, o príncipe, seu pai, tornou-se rei, mas nada podia fazer pois existia as leis daquele reino que diziam que o filho de um adultério ficaria com quem a mãe quisesse dar. O rei angustiava-se com tal situação, sabendo que tinha muito mais a dar para a pequena e linda princezinha que perdia os anos de sua juventude em lugar tão degradante.

Mas isso ainda não era o pior, o pior foi que a linda princesinha tornou-se uma linda adulta e todos, mas todos mesmos, sabiam o quando ela era especial, mas ela não sabia. Assim, a princesa adulta acabou deixando envolver-se por homens do naipe de seu pai, homens grossos que a desrespeitavam e nunca puderam amá-la de verdade.

Moral da história: a antropologia tem razão quando diz que somos frutos do meio. E apesar de que em ato temos muito mais condições do que manifestamos em potencial, há uma luta psicológica, social, antropológica, cognitiva para sairmos da condição de humilhação e nos olharmos como somos de verdade. E achar que os que não foram bons são bons é o desdobramento de se criar uma criança dentro de uma visão restrita do mundo.
Margareth Sales

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Quando uma criança se torna adulta antes do tempo


Difícil delimitar, até porque a criança que passa por essa situação pensa apenas que isso é normal que estaria vivendo aquilo que faz parte de sua infância. Nunca percebe que se assume cedo demais e que desde tenra infância não tem ninguém mais por ela. Alguns adultos quando levados a rever seu passado não conseguem reconhecer isso, como dito, pensam que tudo o que viveram era “normal” e que fazia parte desse momento da vida que é a infância.

Por isso, que é tão difícil distinguir as fronteiras para identificar quando um filho já era adulto e tomava as próprias decisões. Há que se levar em conta que a diferenciação está no fato dessa criança ser impelida a tomar decisões que marcarão o seu futuro. No caso, ela nunca foi protegida, ou seja, ela teve que se posicionar a respeito de situações que marcariam todos os próximos anos de sua existência e não houve outro jeito.

Um dos motivos dessas crianças crescerem cedo demais talvez seja o fato de que seus pais não eram amadurecidos, ou mesmo, não queriam ter filhos. Então, esses filhos são de verdade estorvos e quando bem comportados a relação é harmoniosa. Mas criança nunca é bem comportada e os problemas surgem, principalmente, quando essa mesma criança adoece. Há pais que cobram de seus filhos o fato de que eles não devem adoecer porque ao adoecerem o adulto que deveria cuidar daquela criança não sabe o que fazer, desesperando-se por que tem que cuidar de um outro ser quando não sabem nem decidir-se por si mesmos.

O pequeno adulto desde cedo se vê entregue a si mesmo, e o que é mais difícil, como é criança não se mantêm. Então, precisam decidir tudo a respeito de si mesmo mas sem autonomia financeira para arcar com as decisões tomadas. A autonomia então é emocional, decidem, enfrentam mas não vão muito a frente, por falta de condições econômicas.

Exemplificando, uma mãe que ao ver o filho chorando de uma dor física intensa e somente consegue dizer para ele o quanto isso a incomoda porque não sabe ou não pode tomar atitude nenhuma, com certeza, fará com que essa criança desde cedo, tente não mais adoecer (será que isso é possível?) pois não tem ninguém por ela. A criança cresce cedo demais, decide cedo demais por questões em que deveria ser apoiada e não cobrada. Fazer uma criança decidir a própria vida é, no mínimo, desumano.

Há que se levantar também a hipótese de que tais pais ainda desejam que em um futuro breve essa criança venha a resgatá-los da vida, sem muitas perspectivas, na qual vivem. Habituada a salvar os pais das mazelas vividas é bem provável que essa criança adulta venha por agregar essa tarefa a si mesma e tentar realizá-la com afinco. A grande questão é, seria um erro salvar, cuidar daqueles que em nenhum momento nada fizeram pelo próprio filho? De verdade no mundo adulto não existe essa relação de erro e acerto, existe toda uma subjetividade que irá desenhar as possíveis atuações de uma criança que já era adulta quando deveria ser criança.

Portanto, aqui não há juízos de valor e não há também respostas para essas crianças que não viveram o que deveriam viver. Não há respostas porque aqui trato de passado, mas se há alguma criança, hoje, no presente vivendo tal situação, talvez seja possível uma intervenção, talvez não. Na realidade, o texto é só um alerta, pois quem sabe um pai, uma mãe desavisada não vão parar nesse texto e nesse blog e darão de cara com o presente texto. Essa é minha esperança, com relação aos que foram adultos muito cedo, que não repitam o próprio erro com os filhos e que os convidem para brincar. A intenção é que ao brincar com o próprio filho aquilo que lhe foi tirado possa ser revivido e finalmente, superado com o tom da ludicidade.
Margareth Sales

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A tirania do relógio


Pensando friamente e realísticamente, percebe-se que a noção de tempo é cultural, ou seja, foi inventada pelo homem. Não existe duas horas da tarde, claro que existe o fenômeno de que o sol está em determinada posição ao que chamamos duas da tarde. E isso foi inventado para que o homem pudesse medir melhor a maneira como ele atua no meio natural.

O que foi criado como ajuda para o homem acabou por escravizá-lo. Hoje, o homem não acorda quando dormiu o suficiente, mas quando o relógio, ou celular, toca. Não mais se conta o espaço entre o dia que você nasceu e o hoje como forma de crescimento e de bons momentos no planeta, mas como envelhecimento. Nota-se que envelhecer é conotado como tempo mal vivido, no qual todos fogem, como se pudesse não chegar a velhice.

É a tirania do tempo que tem produzido tantas doenças, haja vista, quer dar conta de inúmeras variáveis o mais rápido possivel, como se diz, correndo contra o tempo é não só desumano como impossível, mas tentamos.

O grande problema é que todos querem tudo para ontem e, de verdade, a realidade não comporta esse tipo de pressão. É claro, que como o relógio marca tic tac, tic tac, tenta-se até cumprir essa tirania, só que tudo fica pela metade, mal feito e mal estruturado.

É preciso se entender que tudo tem um tempo certo ou um tempo que não foi contado, que não se encontra pré-determinado, mas que um dia, sem previsões, esse tempo chega. A Biblia faz menção ao fator tempo e é uma passagem muito coerente, madura e verdadeira, nela em Eclesiastes 3:1b se diz: “há tempo para todo o propósito debaixo do céu”. Isso significa que para Deus (para os que crêem claro), todos os seus objetivos são muito importantes e eles serão realizados, pois há tempo para todos eles.
 
Pessoalmente, creio nisso, até mesmo profissionalmente, onde acredito que o aluno, mais cedo ou mais tarde aprenderá, no momento dele. E por isso que a famosa frase “correr contra o tempo” deveria ser revista. Sim, contemporaneamente, corremos muito contra o tempo, mas isso tem consequências gravíssimas: pressão alta em função do stress, ansiedades excessivas, falta de sono, todos agravantes físicos que geram várias especíes de doenças.
 
Por isso a melhor posição frente aos dias atuais seria desacelerar. Difícil? Quase impossível, mas é uma decisão que só você poderá tomar, mas lembre-se que se você não resolver ir contra a maré, o próprio corpo poderá decidir desacelerar por você. E cuidado, se ele tomar essa decisão antes de uma atitude significativa de sua parte, poderá ser tarde demais...
Margareth Sales

Terra dos perdidos


Hoje, vivemos um momento da história da humanidade  onde o olhar é voltado para o caos, ainda assim, alguns dizem que apesar de tudo encontram-se no nirvana. Há que se esclarecer que o nirvana mesmo é para poucos, essa condição de se sentir em paz com o universo é uma parcela ínfima da sociedade. Porque apesar da sobrecarga emocional, física, financeira vivida essas pessoas são as que se sentem acima ou não tocados por todas essas questões modernas.

Mas há aqueles que se dizem habitantes do nirvana só como uma forma de pensamento positivo frente a vida, esses imaginam que qualquer atitude negativa seria chamariz para piorar o que já se vive. Mais? Acredito ser impossível tal assertiva. De verdade que pensamento positivo não é o condutor inegável aos caminhos da felicidade, talvez uma atitude positiva frente à vida sim, nunca o pensamento, só se ele fosse uma força mágica e não é.

E é nessa Terra de Perdidos que se deve priorizar escolher não a alienação dos rituais mágicos, formados de receitas prontas e supostamente eficazes. Mas é necessário uma postura de confrontação diante da vida, de resistência contra os medos, mas de sujeição e calma diante daquilo que não há como mudar.

Na realidade mais do que o pensamento de alguns está a realidade pessoal, maior mesmo do que a realidade coletiva. Para uns a vida é a terra da prosperidade, do Nirvana, para outros a Terra dos Perdidos. Então, a diferença não está fora, se encontra dentro ou eu. Como uma pessoa subjetiva encaro minhas próprias questões e transformo-as em material para crescimento e rejeito a Terra dos Perdidos ou me deixo render pela desesperança e abraço uma vida que não se realiza e me sinto pela metade porque não tive coragem de transformar minha própria Terra de Perdidos em local de esperança. A escolha é sempre minha.
Margareth Sales