segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Profissão Escritora


Muita coisa antiga tem voltado a minha memória! Acredito que por ser um momento, no qual a terapia de presencial passou a ser por telefone, acabando por se tornar uma espécie de divã mais efetivo e rápido! Diante disso, uma memória que me veio agora foi a de que desde 1983, com apenas 13 anos de idade, a Secretaria de Estado de Educação validou o meu perfil como escritora. Estava juntando esses dados na memória, pois estou imersa na escrita sobre a escrita.

Portanto, para mim que estou há muito tempo perseguindo essa carreira fica muito real todas as fraturas, os maus entendidos que um profissional da área de escrita atravessa. Já vi muita inveja e mesquinharia. Praticamente, não vi o que muitas escritoras viram: o domínio do masculino sobre a área, mas sei que é real, nunca foi uma questão para mim! O que mais me angustiava, no início, era reconhecer que a profissão precisa de validação de fora para ser exercida! Só que os tempos mudaram...

Entretanto, por mais que seja arcaico o pensamento, ainda vemos gente que se vale dele para destituir, assim surgem frases como: "Mas você não é escritora, você não foi publicada!". Já ouvi muito isso, mesmo sendo publicada pela primeira vez aos 13 anos de idade e aos 18 trabalhar dois anos como colunista de um jornal, sendo paga para tal! Contudo, isso está longe de ser um gatilho para mim, é muita terapia, para realmente não esperar validação do outro. Sou perfeitamente capaz de me validar, pois já é tempo de entender o que a constituição de 1988 já tinha previsto, ou seja, é no fazer que a pessoa se torna profissional, salvo algumas raras exceções que precisam oficialmente de diploma como a medicina, por exemplo.

Mas o que, realmente, me dói? São pessoas que postam em seu facebook que se você está passando fome, por favor, peça ajuda, pois eles podem dividir o pouco que tem?! Whattt??? Levar a questão da falta de emprego formal para o domínio da doação, que pressupõe esmola, só contribui com a atual gestão presidencial. Isso porque, a arte como qualquer forma de trabalho precisa ser valorizada, mas não com a falsa premissa de empreendedorismo, não é empreendedor a partir do momento que se vende o almoço para pagar a janta! Haja vista, que para a real acepção de empreendedorismo é preciso capital de giro. E individar-se no cartão para comprar uma moto para tornar-se entregador para as grandes empresas de consumo digital não é capital de giro é individamento, sem retornos!

Assim, não ofereça dividir o seu prato de comida: compre daquela pessoa, compre o que ela vende. Sem julgamentos... Retornando, a questão autoria escritural, o mercado literário é tão competitivo que pessoas te destratam porque você escolheu essa profissão, através da frase já dita anteriormente ou mesmo revirando os olhos para a sua obra. Uma fábula antiga já contou que as uvas do vizinho estão verdes, portanto, não serve para você, não é, coleguinha?!
😛
Há que se entender que invalidar o perfil profissional do outro, principalmente, no que tange a escrita é uma prática que tem funcionado até os dias de hoje, mas que expõe aquele que usa de tal artifício. Pessoas que costumam colaborar com a arte, são sempre mais bem vistas no meio social do que aqueles que reviram os olhos e diz que o fruto está verde, ainda!

Ou mesmo, aqueles que tendo optado pela escrita como uma atividade secundária com a qual não buscam retorno financeiro e julgam quem têm a ousadia de confrontar as normas pré-estabelecidas, ou seja, aqueles que pensam fora da caixinha! Isso também fica feio, pois também já é do domínio popular saber que todo aquele que aponta o dedo à alteridade, recebe como retorno quatro dedos apontando de volta. Não seria mais plausível assumir que se jogar na vida não é o seu perfil, pois o medo é maior?! Porque por outro lado, aquele que se joga também tem seu próprio revés, por vezes, não conseguindo nem se alimentar direito. Não foi isso que a leitura do Quarto de Despejo nos ensinou? Que uma profissional gabaritada como Carolina Maria de Jesus passava fome em função da inveja e mesquinharia do vizinho! É mister construir uma nova sociedade, mais empática, mais inteira, com mais possibilidades de curtir um ócio criativo por meio da arte, sendo menos workaholic.

Margareth Sales