segunda-feira, 28 de março de 2011

A admiração e aversão sobre o conceito de inteligência

Semana passada tivemos um evento com uma figura proeminente, um evento bobo, diga-se de passagem. Mas que rende manchetes sensacionalistas na mídia: “A queda de fulano”. O que me levou a escrever esse artigo não foi a queda, no caso de uma cadeira com pé solto, mas a fúria contra a inteligência humana.

Como classificar inteligência e o que é? Pelo dicionário Aurélio (2004, p.1116) a inteligência é: “1.Faculdade de aprender, apreender ou compreender; percepção, apreensão, intelecto, intelectualidade”. E sua classificação, até hoje é feita por meio de testes de inteligência.

É preciso ressaltar que a inteligência não cabe na forma como é classificada, atualmente. E também a definição do Aurélio é apenas uma forma de ver, a inteligência é muito mais do que isso. A inteligência é muito mais a capacidade de adaptação e solução de questões cotidiana do que qualquer outra coisa. Hoje, a ciência acredita na inteligência de golfinhos e macacos, a questão levantada é se animais são considerados inteligentes porque um ser humano, com uma capacidade superior de aquisição cognitiva pode ser considerado burro? Há um erro conceitual nessa premissa, com certeza, ficando claro que o ser humano comporta em seu desenvolvimento mental, a inteligência.

Mas porque então, o senso comum acusa pessoas de burra? É natural do senso comum dividir para conquistar; não usando o conceito estrategicamente e o resultado deles é a inveja e o preconceito. Assim, admira-se a inteligência, mas tenta destituir quem a possui, sendo-lhe aversa, excluindo do convívio. Em contrapartida, também se exclui os que são taxados de burros. É fácil observar a guerra velada contra a inteligência, geralmente, com acusações de que os supostos inteligentes são soberbos e excludentes. Mas foram aqueles que se vêem numa posição inferior que excluiu os que primam pelo conhecimento. As situações sociais são: escárnios quando alguém com conhecimento fala, o dizer-se cansado porque a pessoa falou demais e dizer que a pessoa é chata.

Vou ser bem assertiva aqui e me apropriar do livro de Reich, essas pessoas que tem aversão ao conhecimento, acham a leitura cansativa e pessoas inteligentes chatas, são o Zé-Ninguém com comportamentos bem identificáveis (2001, p.1,2,10 e 11 ): “valoriza seus inimigos e mata seus amigos”, “transformam crianças vivas e saudáveis em inválidos, em aleijados e idiotas morais”, “Você tem medo de olhar para si mesmo, zé-ninguém, tem medo das críticas [...]”, “Esconde sua insignificância e estreiteza por trás de ilusões de força e grandeza, da força e da grandeza de alguma outra pessoa”, “Quanto menos entender alguma coisa, mais firme é sua crença nela. E, quanto melhor entende uma idéia, menos acreditara nela”.

Então, o Zé-Ninguém vê uma figura global cair de uma cadeira e associa com a queda de uma carreira inteira. Isso é querer, realmente, derrubar o outro para se sentir melhor. Tanto faz se a figura eminente é notoriamente soberba, você não será amigo dela! Deixe que os outros sejam o que são e aproprie-se do melhor... O melhor dessa pessoa é a inteligência, o confronto que faz em seu programa, com defeitos ou qualidades, mas que pressupõe atitude crítica. O que não se pode é como seres sociais privilegiarmos a mediocridade, não é formar blocos: os inteligentes e os burrinhos, mas buscar conhecimento, onde esse esteja para lutar por uma sociedade mais justa. Deixarmos de ser Zé-Ninguém e adotar o que somos: inteligentes, que conseguimos ao juntar várias varas alcançar um alimento, os gorilas são inteligentes, mas não conseguem fazer isso.

Inteligência sim é o meu apelo, chega de aversão a ela. Admire-a, namore-a, se canse lendo, se canse discutindo, sem brigar, só trocando ideias. Para Gardner (1995, p.21) a inteligência é: “capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou comunidade cultural”. Então, use a inteligência para criar, chega de se sentir “burrinho”, chega de achar que os inteligentes são soberbos! Busque conhecimento, divirta-se nessa busca, estude, leia, páre de ser um Zé-Ninguém e sufocar ideias grandes e generosas. Principalmente, aprenda sempre, o conhecimento é gratuito, se encontra ao nosso redor, aproprie-se dele, seja inteligente!

REFERÊNCIA

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3 ed. Curitiba: Positivo, 2004.

GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artmed, 1995.

REICH, Wilhem. Escute, Zé-Ninguém. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Margareth Sales

terça-feira, 22 de março de 2011

O Porquinho Inteligente


Seguindo a linha de Produção Textual e que não há idade para tal. Apresento meu primeiro texto publicado, em 1983, quando eu tinha 13 anos. Ganhei um concurso no Instituto de Educação Clélia Nanci.

Era uma vez um porquinho, sim um porquinho, muito inteligente que sabia fazer tudo, e todos gostavam muito dele.

Quando necessitavam de fazer alguma conta, escrever alguma coisa, sempre o chamavam, porque era o único que sabia escrever, contar e fazer tudo. Mas lá mesmo, no reino da Bicholândia existia um homem muito ruim que era burro e queria roubar a memória do porquinho, mas nunca tinha tentado. Ele precisava de um plano muito bom para roubar a memória do porquinho. Então ele pensou, pensou e pensou. Ele sabia que o porquinho era muito bom e era só raptar uma pessoa para pedir como resgate a memória dele. E foi assim que ele fez. Raptou a bela princesa Gatolina e pediu como resgate a memória do porquinho. 

Ele, no mesmo momento, foi falar com o bruxo e perguntou: 

- Por que você quer minha memória? 

E ele respondeu:
 
- Para fazer muitas maldades. Com sua memória, num instante eu penso em um plano e faço muitas maldades. Ah! ah! ah! ah! ah!
 
O porquinho, pensando num plano disse:
 
- Eu te darei a minha memória amanhã às 10 horas no Castelo e você terá que levar a princesa Gatolina.
 
- Sim, eu concordo - disse ele.
 
E no dia seginte, às 10 horas lá estava ele com a princesa, e o porquinho havia chegado naquele exato momento e disse:
 
- Solte a princesa que eu lhe darei a minha memória.
 
Ele imediatamente soltou-a e, naquela mesma hora, o porquinho gritou:
 
- Guardas prendam esse homem!
 
E o bandido foi preso. A princesa como gratidão por aquele ato heróico, casou-se com o porquinho inteligente e viveram felizes para sempre.
Fim
Margareth Sales

sábado, 12 de março de 2011

Tornar-se responsável

Tal qual o autor do pequeno príncipe: “Tu te tornas, eternamente, responsável por aquilo que cativas”. Essa responsabilidade é ser adulto com seus desejos e escolhas. Se o meu desejo causa confronto e estranhamento sobre o desejo do outro, preciso repensar porque responsável e gostando ou amando essa outra pessoa, você não gostaria de vê-la subjugada, não é? Um exemplo: sou casado e minha melhor amiga passou a me encantar, motivos? O cansaço da rotina sobrepondo alguém novo, bonito e interessante... Não são motivos válidos para investir nessa pessoa, porque por mais moderna que talvez ela seja, ela procura sobriedade, um relacionamento maduro no qual ela possa construir. Mas você tem uma carta extra na manga: o mar não está para peixe, nesse sentido, as oportunidades de construção de relacionamentos estão meio escassas para sua amiga e... só sobra VOCÊ! Cuidado, se você é responsável pelo afeto-amizade dedicado a você não venha mexer nesse terreno arenoso.
 
É preciso ter cuidado para não se matar destinos, como no exemplo citado acima, a amiga está solteira, sem possibilidades imediatas de um relacionamento sério. Essa pessoa pode ser presa nas mãos de um homem casado, mesmo que não seja por maldade nem por canalice, você tem um casamento sólido e misturar uma terceira pessoa nessa química, para matar o tédio da rotina, necessariamente pode ser a morte emocional de sua amiga que poderá a contra-gosto e por achar-se sem opção, se envolver. Não mate futuros promissores por um simples capricho de quem escolheu estar casado.

Ser responsável é, então, não roubar a paz da pessoa que você cativou. E não roubar a paz é não usar de artifícios para não deixá-la ir quando ela quer ir. Porém, pessoas só tornam-se responsáveis quando já amadureceram, falta de amadurecimento emocional sempre foi premissa para irresponsabilidade. A comprovação disso são os estudos de Piaget, ao associar o senso de justiça e a criança. O que ele diz? Bem, para o autor para se fazer justiça é necessário avaliar, pesar e interpretar a situação. A criança então não amadureceu no sentido da justiça, confundindo-a com a lei e a autoridade, isso só significa uma coisa: qualquer pessoa munida de lei ou autoridade é cegamente obedecida pela criança.

Não somos mais crianças, sabemos que qualquer circunstância   por mais inusitada que pareça precisa passar pelo crivo do adulto responsável. Ou seja, eu preciso avaliar se meus intentos poderiam matar o futuro de alguém, suas perspectivas ou meu próprio futuro. Pesar na balança se o que desejo roubará minha paz ou a da outra pessoa, porque não de todo uma comunidade?
 
Por último, tenho que interpretar se minhas intenções mais profundas irão em último caso destruir ou construir. Mas quando se trata de destruição ou construção necessito interpretar para além do senso comum. Nesse caso, entender que muitas vezes a construção só acontece depois de uma destruição em massa. Exemplo? O universo formou-se do caos, assim, privilegia-se uma desconstrução que assemelha-se a destruição, qual seria a diferença? A minha integridade, essa não poderá ser tocada.
 
Nesse sentido, se opto por fazer algo mais profundo, mas forte do que a sociedade consegue suportar, o crivo então seria a responsabilidade comigo mesmo. Enfrentarei oposições? Sim, mas me sinto coerente e madura com a escolha tomada, me sinto bem, apesar do caos, do torvelinho que me sobrevêm.
 
Concluindo, tornar-se responsável é então a diferenciação entre fazer o que uma suposta lei dada, imposta quer e seu desejo. Sim, posso como adulto escolher levar minha vida para onde quero a contramão das imposições sociais. Mas se sou adulto mesmo, meu diferencial é que sou responsável por mim, pelo outro que poderei estar envolvendo. Nisso, fica uma lei maior, a de que não poderei só porque desejo passar por cima dos desejos do outro. Preciso concatenar desejos, descobrir se estão na mesma sintonia que eu, se o meu desejo vai de encontro ao desejo do outro e se, maduramente, posso trabalhar com a oposição da maioria. O quanto me sinto em paz com isso, relaxado. 

Então, se descubro que entre duas situações a melhor para mim e para o outro também, é o confronto com o que é imposto, preciso ser honesta comigo mesma e enfrentar. Nesse caso, torno-me responsável pelas minhas escolhas e aceito os desafios resultantes.
Margareth Sales