sábado, 31 de outubro de 2015

Fugindo dos ogros



Capítulo 10: Depois da conquista

        Domingo de manhã, Marina toca o interfone de Amanda. Ela acorda toda desgrenhada e morrendo de sono. Diz para a amiga subir. Ela abriu a porta e foi escovar os dentes e a amiga entrou, direto. Foi escolher uma música e qual não foi sua surpresa ao ver Rodrigo saindo do quarto de shortinho! O riso com um misto de ironia e felicidade foi facilmente reconhecido. Já Rodrigo ficou um pouco envergonhado e disse que já estava de saída.
        A protagonista pela primeira vez se sentia muito bem em sua pele, não mais aquela sensação de abandono pela frieza dos homens no dia seguinte. Sentia um carinho, um aconchego desconhecidos. E não permitiu que o namorado? fosse embora, tratou-o, exatamente, dessa forma, como namorado, e deu-lhe um selinho de bom dia. E ele descontraiu e disse:
        - Assim não vale, você escovou os dentes. Que delícia! - E ele insinuou que ia para casa escovar, mas ela tinha escova reserva e não deixou, de jeito nenhum, ele arredar o pé de lá. Foram tomar café da manhã e enquanto os pombinhos se distraíam...
        Marina ligou para os amigos para fofocar as novidades. À hora do almoço, a muvuca apareceu junto com uma parafernália de comida e bebida. Eles queriam comemorar o que achavam o melhor relacionamento, em todos os tempos, da amiga.
        Ao mesmo tempo que Rodrigo divertia-se, pois ele já conhecia a todos. Ele estranhava. Era muita gente em um relacionamento recém-começado. Ah! E sim, na cabeça dele não era, apenas, passa tempo! Já vinha nutrindo esses sentimentos pela jovem e agora que aconteceu queria dar continuidade. No entanto, nesse primeiro momento estava muito difícil, pois para fundar-se uma boa base na qual se edifique o relacionamento é preciso conhecimento e que conhecimento era esse compartilhavam, em um primeiro momento? Pois estavam vivendo o que sempre viveram: a confraternização com amigos. A intimidade parece que só nos momentos furtivos a noite e estavam sendo poucos, porque no grupo eram todos noturnos e baladeiros.
        De uma certa forma, o que Amanda não compreendia é que estava evitando a estranheza do relacionamento. Principalmente porque se colocasse na balança, mesmo tendo sido casada, mas com toda a solidão que sentia, talvez, nunca estivesse estado em um relacionamento real. E aí surgia a grande pergunta, como viver de verdade com o outro?
        Enquanto não tinha condições de encarar o relacionamento de frente, divertia-se por estar em um: junto com os amigos! O famoso carnaval brasileiro, tudo termina em samba. Até os estudos de Rodrigo ficaram um pouco comprometido com tanta agitação.
        Amanda ficou tão sozinha, em todos os sentidos, depois do término com seu marido ogro que parecia, agora, querer preencher cada mínimo espaço de solidão com companhias. Claro que em um primeiro momento era a comemoração, mas facilmente começou a cair para a fuga e já não estava ficando tão saudável.
        Ao mesmo tempo, Amanda fascinava Rodrigo, era sempre tão sorridente, divertida e topava tudo, não tinha tempo ruim: se era para sair, saía, se era para ficar em casa jogando videogame também se divertia muito, só o que não gostava era ficar sozinha. Ainda que tenha aprendido e ficado bem antes de se envolver com o vizinho, mas havia voltado o terror da solidão, novamente.
        Na realidade, tinha medo que se ficasse muito íntima, do novo namorado, seria destruída. Pensava ele ia acabar descobrindo que toda aquela dor demonstrada um tempo atrás, doía muito mais na intimidade, e tinha certeza que essa “sofrência” era um defeito muito sério e deveria esconder de todo o jeito, pois do contrário, não teria mais amigos.
        Entretanto, no sufoco da paixão do momento nada disso era visto, somente a beleza, as deliciosas noites, a conversa que nunca esgotava. Como se quisessem torcer todos os anos vividos e derramá-lo todos em um só balde para terem certeza que, agora sim, se conheciam, profundamente. Nada era ruim, tudo era muito delicioso, apaixonante e reconfortante.
        E o tempo foi passando, os três primeiros meses vieram tão rápido que pareciam três dias e eles não se desgrudavam. Só que a quantidade de leitura que Rodrigo precisava dar conta estava começando a acumular e ele precisava continuar a carreira acadêmica, indo direto para o próximo passo: o doutorado!
        Quando o namoradinho percebeu que agora estava ficando mais sério, não o relacionamento, continuava na fase Carnaval. No entanto, sua possibilidade de entrar para o doutorado começava a parecer comprometida. Teve que tomar uma atitude, mesmo adorando passar a maior parte do tempo com sua amada.
        A distância começou devagar, mas aos poucos foi aumentando e ele foi se enfurnando, novamente, nos livros. A protagonista começou a pirar, pressentia que estava perdendo seu melhor relacionamento e começou a cobrar, daquele jeito que o namorado intuía que ia acontecer, mas não o fez se segurar naquela noite que ela estava tão linda e rolou o primeiro beijo!
        Nada estava acontecendo de real, ele estava tão envolvido com ela como antes, só chegara o momento de priorizar, sentia muita falta porque estava muito acostumado com ela. Claro que ele também pensava que ela ia entender o afastamento, ela também precisava de espaço.
        Só que o afastamento matou Amanda, não conseguia se equilibrar de jeito nenhum no real, só ouvia as vozes dizendo que seria abandonada, de novo, e que ninguém seria tão maravilhoso quando Rodrigo. Por isso, aparecia de repente, quando ele estava tremendamente ocupado e fazia cena dizendo que os livros para ele eram mais importantes que ela.
        E os livros eram, realmente, muito importantes, mas ela também, não se via sem nenhum, porém ela sufocava tanto que ele tinha que tomar uma atitude. Não deixaria nunca que impedissem seu futuro acadêmico, mesmo as custas de alguém que já amava tanto. E quando ficou insuportável, ele deu um basta e gelou o mais fundo da alma de Amanda com um imenso peso de: perdi de novo!
        Mas será? Vamos ver no penúltimo capítulo.

            
Margareth Sales

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