domingo, 30 de outubro de 2011

A língua em estado de coma

Há muito tempo atrás, pelo mau uso que se fazia da língua, essa entrou em estado de coma. A população ficou atônita: “como falar agora?” “Expressar nossas ideias, se a língua está em coma?”

Os linguistas, então, vieram investigar porque isto ocorreu. E investiga daqui, investiga dali: a conclusão foi que a língua estava sofrendo um grande empobrecimento pela total falta de experiências para serem depois simbolizadas pela fala.

A partir de então, o novo lema era: “vamos salvar a língua”! Não que só o padrão culto é digno de ser chamado de certo, mas...

A primeira prescrição terapêutica da língua era: leia pelo menos um capítulo do seu livro predileto todos os dias. Faça imersões culturais. Renove o vocabulário. Com essas três pequenas prescrições a língua já estava dando sinais expressivos de melhora. Agora cabe a você, fazer isso na sua própria vida, para que a língua não entre em coma novamente.
 Margareth Sales




A professora maluquinha nos dias de hoje


Acabei de chegar do cinema e fui assistir uma professora maluquinha e sempre me encanto muito que essa história do Ziraldo. Isso me faz refletir sobre o lugar da professora nos dias de hoje, não pretendo aqui reescrever Ziraldo, nem poderia, a professora maluquinha do olhar do autor está imortalizada e nada pode tirar-lhe o seu lugar. Mas para longe da imortalidade quero descrever a mortalidade dessa figura que teve um lugar especial no imaginário desse grande e criativo senhor por algum motivo. Qual seria esse? O papel de professora de uma época que não mais existe, uma época ingênua. É, a figura da professora que pretendo falar aqui se perdeu, pois o local da escola nos dias de hoje já se fala muito e sabe-se qual é: o de falida! De qualquer forma o filme também não retrata isso. Infelizmente até no imaginário popular sabe-se que a escola se encontra muito aquém do que deveria ser e, por esse motivo, podemos dizer que muitas vezes estaria falida mesmo.

Não deixo de me debulhar em lágrimas ao ler e agora ao ver a professora maluquinha e porque isso acontece? Porque especialmente para mim ser professora, ou educadora conforme prefiro chamar na reta final da minha graduação, para mim é a profissão mais linda. E a educadora de Ziraldo faz jus à profissão, demonstrando todo o afinco, amor e dedicação. Como dizia Vinícius de Moraes “onde anda você?” Onde anda essa professora que só por ter prazer em conhecimer não priva seus alunos das melhores roupas e do melhor sapato. Isso porque compreendeu que ser professora é estar linda para que seus alunos possam se espelhar e para sua própria autoestima. Sim faz parte de ser uma professora gostar de ser e estar bonita. Professor é referencial, ele é olhado e, como tal, precisa estar bem vestido.

A visão austera tanto na roupa quanto nas metodologias não tornam professores mais espertos ou mais proficientes na profissão. A liberdade, o se ter certeza que a aprendizagem acontecerá. Para uns mais cedo, para outros mais tarde. Que professora era essa do passado que tinha o respeito e a admiração de seus alunos? E o principal, a professora maluquinha era uma professora que lia e mais do que isso... Incentivava fortemente a que todos lessem, demonstrando a importância e o prazer da leitura.

Sim eu ouço de professores contra o lúdico no espaço educativo, é preciso entender duas coisas: professor que explora a ludicidade não é sinônimo de aula excelente e nem professor bom, mas a segunda coisa é: como um professor consegue repetir a mesma coisa quase 365 dias em um ano? O espaço lúdico não seria, exatamente, esse espaço para fugir da mesmice, do lugar comum? Claro, há personalidades que não suportam as mudanças, mas também por esse viés deveria haver uma revisão pessoal, pois as mudanças virão.

Não eram aquelas aulas esquematizadas em 25 anos de Magistério, não eram aulas que seguiam uma cartilha, mas eram aulas sobre o todo. Aulas sobre a realidade, sobre o que ocorria em suas próprias vidas, aulas que eram inventadas e reinventadas porque não havia o risco de perder o fio da meada, mas o conhecimento era o carro chefe, a base da aula, e qualquer coisa cheirava a conhecimento.

Há um mau entendido também com relação a função de ser professora, alguns ainda entendem que quanto mais séria, quanto mais mãe a professora é melhor. Muitas vezes, uma professora como a de Ziraldo seria tachada de adolescente, pelo frescor, pela curiosidade, pela esperança e confiança no conhecimento. Mas não só isso, hoje o professor ainda é visto como O professor quando diz desconhecer tudo que se refere a tecnologia. Como assim? Jogos, computador, tablets, smartphone, internet são ferramentas para a aprendizagem.

A minha conclusão do filme, de ser professora, do Ziraldo é que ele tal como eu teve uma ótima professora (eu tive várias ótimas). Então no mês do professor, no meu mês, quero dedicar esse texto a essa linda profissão que não é mais tão bem valorizada como antes, mas que não deixa de ser o que é. Porque somos aquilo que somos, mesmo que a alteridade não reconheça em nós isso.
Margareth Sales

Uma nova ordem mundial



Uma sociedade que impõe idas e vindas, impõe verdades, gostos, preferências pessoais. Conceitos fechados, regras rígidas, situações que não edificam, funcionam apenas como juízo de valor. Como se a vida se explicasse por meia dúzia de valores morais e nada mais houvesse a acrescentar e a fazer.

A grande questão é: e aqueles que não se encaixam nesses moldes? E aqueles que têm mais a oferecer do que formulazinhas prontas e acabadas? Para construir essa nova ordem mundial é necessário um mergulho muito fundo em si mesmo, um mergulho que talvez não tenha volta. Isto porque é só dentro de nós mesmos é que podemos identificar nossas verdades.

Há que ressaltar que muitas vezes nossas verdades não se coadunam com as verdades impostas pelo outro. Isso significa que é preciso maturidade suficiente para não passar pela vida copiando comportamentos.

Haja vista que a vida é muito mais do que os grandes arremedos, como se esses fossem a única e verdadeira forma de se estabelecer uma relação saudável com o todo. Sim há uma nova ordem mundial e, claro, muitos fecham os seus ouvidos para ela. Não há como se determinar mais que o comportamento X ou Y são o padrão, que tudo o que foge disso escapa a esse padrão e, portanto é tachado de anormal.

A vida hoje pressupõe uma infinidade de arranjos. Difícil adaptar-se? Talvez sim, talvez não. Mas pode ser que a grande dificuldade esteja ancorada na extrema falta de vontade de adaptação com o novo. Predispõe mais jogo de cintura, com certeza. Porque muitas vezes há que se ficar chocado com o que não faz parte de nosso referencial construído através dos anos.

Portanto, a nova ordem é desnudar-se, tirar a camisa da mesmice comportamental e apostar no novo. Isso trará em conseqüência saias justas? Provavelmente, mas trará também uma nova ordem mundial, muito mais significativa.
Margareth Sales

Esperança x Autoilusão


Há que se diferenciar, principalmente, no terreno amoroso a esperança e a autoilusão. A esperança é um dos sentidos mais importantes para encarar as idiossincrasias da vida porque a tendência humana natural seria a desilusão diante de tantas pancadas que levamos. Claro, aqui não está decretado que a vida é má, aliás minha experiência pessoal acredita muito mais na grande viagem da vida do que na amargura.

Então, a esperança seria a base da fé, ainda que a fé seja maior e mais concreta do que a esperança porque pressupõe já possuir o que se almeja. Nesse viés, a autoilusão se encontra no lado oposto tanto da esperança quanto da fé.

Na autoilusão acredita-se naquilo que não existiu, não existe e não existirá. A esperança ancora-se no presente, portanto, apesar de saber que algo não é real agora, há esperanças que poderá vir a ser. Então há esperanças que o desejado aconteça.

A autoilusão não! Essa é uma certeza fantasiosa que algo aconteça. E como reconhecer que a certeza é fantasiosa. Porque não traz paz. Porque transforma-se em obsessão. A autoilusão existe quando não se suporta a realidade. A esperança existe para tornar a realidade mais agradável, menos pesada.

Então, a melhor maneira de viver a vida é caminhar nos caminhos da esperança. Afastando a autoilusão que nos coloca sempre na posição de desejante, mas nunca vendo o desejo se cumprir. Sejamos maduros para distinguir uma da outra. 
Margareth Sales