domingo, 30 de agosto de 2015

Fugindo dos Ogros



Capítulo 8: Sozinha

As próximas semanas já não foram tão agitadas quanto às anteriores: o salto alto foi trocado pelas sandálias rasteiras e sapatos baixos, a maquiagem, pela cara limpa. Amanda ainda estava triste pelo caminho que sua vida tinha tomado. Afinal, realmente, sentia falta de um grande amor, gostava de sentir o coração acelerado e desejoso, mas precisava se centrar e escolher o homem ideal, sair do domínio dos ogros.

A protagonista começa, assim, a sair sozinha, pois conseguir, durante um tempo, sair todo final de semana com os amigos é fácil. Difícil é conseguir que, sempre, todos os amigos tenham a agenda liberada para sair em bando, afinal, andar em bando é marca da adolescência e não da idade adulta. 

Ela aproveitou um desses finais de semana para assistir ao Tom Zé. Como o show é bem performático, não daria para se sentir sozinha porque ele tinha esse jeito de Stand Up comédia, fazendo com que o humor diminua o sentimento de solidão e traga a satisfação de uma noite bem aproveitada. Percebeu algumas paqueras, mas sozinha não tinha coragem de se aproximar de ninguém e nem deixar que se aproximassem dela, o risco do desconhecido a atormentava e ela só se sentia segura quando estava acompanhada. Não gostava de andar sozinha e até para coisas simples como fazer compras ou mesmo ir ao dentista, ela arrastava alguém para a acompanhar.

E, dessa vez, ela se sentia, completamente, perdida e sozinha no mundo, mas conseguiu sobreviver a sua primeira saída solo. Até que não foi tão ruim e nem ao menos dramático, se divertiu muito no show, mas assim que acabou, correu para casa! Queria se refugiar do mundo mal, o mais rápido possível.

No dia seguinte, precisa ir ao dentista e resolveu também fazer sozinha. Tinha feito um canal que não conseguia fechar nunca, porque limpava, limpava e continuava doendo. Depois limpava, limpava, tomava antiinflamatório e continuava doendo. Dessa vez, o dentista achou onde ainda precisava limpar e a dor cessou, completamente. No final ele disse:

- Graças a Deus, porque acredito que você não aguentava mais olhar para minha cara.

Nossa amiga, na mesma hora pensou como resposta: “Na realidade, queria casar com você, mas você só trata do meu dente e nem me enxerga, seu gostoso! Casa comigo? Roupa lavada e dedicação exclusiva, seu lindo!” 

No entanto, não foi essa a resposta que deu ao dentista, somente um sorriso amarelado, parecendo concordar que já estava cansativo voltar toda hora para um tratamento que não finalizava. Amanda saiu do consultório se sentindo patética: ela era afim de todo mundo! Nunca escolheu, de verdade, um relacionamento que a satisfizesse, pegava o primeiro que queria ficar com ela.

Saindo do dentista, foi à padaria comprar um pão doce delicioso, lembrou da adolescência quando se achava tão sem valia que seria um milagre se o padeiro falasse que ela era bonita: ele nunca falou, nenhum padeiro nunca falou!

Mas seguiu a vida determinada a se encontrar, a esquecer essa obsessão pelo homem ideal e focar-se em se sentir bem consigo mesma! Por isso, mais uma semana terminava e foi ela, de novo, sair sozinha. Dessa vez, estava mais abusada, foi jantar sozinha. Foi horrível, ela sentia todo mundo olhando para ela, visualizava uns cabeções em sua direção e dizendo: “Tadinha, deve ser muito solitária, não deve ter um amigo, parece uma perdedora, né? Além disso, quem autorizou uma mulher a sair sozinha?”

Não conseguiu ficar, cancelou o pedido e disse ao garçom que estava passando mal, chegou em casa tremendo e soluçando. Não conseguia encaixar a chave na fechadura. Rodrigo a viu e veio resgatá-la. Ele perguntou o que houve e como seu corpo estava fraco, ela não resistiu e o abraçou como um apoio para o corpo e começou a chorar, convulsivamente. Rodrigo sentiu aquele corpo junto ao seu, aquele cheiro delicioso, os cabelos macios que ele acariciava, tocou-lhe no rosto e teve um desejo fortíssimo de beijá-la, mas sabia que não poderia fazer isso...

Nesse momento, da vida da protagonista, Rodrigo era a droga necessária para continuar a vida de dependência por relacionamentos. Se ele a salvasse agora, de novo, como todos fizeram, ela não conseguiria aprender a ser sozinha e, no futuro, iria desmoronar novamente. Então, o vizinho abriu-lhe a porta, a sustentou até a cama e colocou-a para dormir com um suco de maracujá que fez, ela estava abraçada com o ursinho e chorando muito. Ele sentou ao lado de sua cama, fez carinho nos cabelos, de novo e ela adormeceu.

No sábado, acordou melhor, não era uma pessoa, por natureza, deprimida, só tinha um pânico enorme de ficar sozinha e muita tristeza quando ficava, muito mais durante a noite e aos finais de semana. Foi se olhar no espelho e decidiu que iria, de novo, ao restaurante. Quando chegou a noite, se arrumou toda, pegou um táxi e foi! As cabeças cresceram e apontaram para ela, definindo-a dessa vez como mal amada, mas ela resistiu, pediu sua comida, pediu seu suco e, finalmente, depois de forçar a situação, sentiu-se bem, estava feliz e reparou que ninguém a estava observando, como achava! Cada um estava muito ocupado consigo mesmo e, principalmente, com os celulares para ficar vigiando a vida de alguém. Existia outra maneira de cuidar da vida dos outros: as redes sociais.

No Domingo, ela foi mais ousada ainda, iria pegar sua primeira sessão de cinema, sozinha! Estava se sentindo uma heroína, destemida, tomando tais posições. E ao final do primeiro mês, já estava perfeitamente habituada a fazer vários programas, somente, na companhia de si mesma. Porém, de repente, sentiu-se entediada, no começo quando era novidade, foi uma revolução, mas agora, ficou repetitivo e não era mais o sentimento de solidão, esse ela havia vencido, o sentimento era de tédio, pensou: “Quem inventou que era moderno, que era feminista fazer as coisas sozinha é um babaca!” Percebeu, então, que tem uma diferença muito grande em saber estar sozinha e querer ser sozinha, a segunda opção serve, apenas, para algumas pessoas. Ela não era misantropa, ela gostava de viver em sociedade e se divertir acompanhada, ainda que tivesse toda a habilidade para, se necessário, estar sozinha. 

Parece que no próximo mês, Amanda vai sair da casca. Confiram!
Margareth Sales

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