sexta-feira, 29 de abril de 2011

Falando um pouco sobre conceito global na educação


O texto a seguir foi feito para a participação em um Seminário da minha Universidade, editei e resolvi reproduzí-lo aqui.

Dentro de mim se encontra um dualismo, não deixo de ficar impactada com a “fúria” dos que acham que a educação está falida, não há mais jeito. Por vezes chego até me apropriar desse discurso como se fosse meu. Mas sou levada a refletir e a adotar outra postura e acreditando que a escola é um local onde pessoas são impactadas.

Vou adotar minha posição crítica-construtiva aqui (beirando um pouco o mordaz). Sério que os moldes da educação atualmente causa angústia? Estranheza com o que não é estranho? Segundo alguns a escola virou ambiente de paquera sem limites e como não segue os moldes da época da ditadura fere os princípios da educação de qualidade? Sinceramente... Não vejo isso! Eu adoro a escola, inclusive a pública, vejo um local de vidas que querem ser tocadas, mexidas, mudadas, pessoas que querem ser sinceras, profundas e mudar a realidade. Por que se privilegiar a rigidez, a rigidez advinda da ditadura? A escola não deve ser rígida, o conhecimento não é rígido... Mesmo que uns não queiram Piaget e Vigotski sabiam o que falavam quando diziam que o conhecimento aconteceria no momento do aluno. Exemplo? Depois de 3 anos dentro de pré-vestibular, só agora em CN2 que pude apreender como a fotossíntese ocorria, incluindo componentes químicos. Acho que a escola é o espaço da maquiagem, dos fones de ouvido e dos celulares e olha quem tentou impedir que a escola fosse esse espaço bonito como meninas vivas, com vontade de serem: o Wellington Menezes de Oliveira. Essa criança desviada, estava morta, observe, era “certinha”, disseram na reportagem: “bom aluno”. Qual o espelho disso? Qual o diagnóstico? Se Wellington namorasse mais... Usasse fone de ouvido, mas respeitasse a aula, a professora, creio que esse seria não bom aluno, mas aluno!

Recortando... Porque o autor da chacina era bom aluno? Por causa do modelo de aprovação do conceito global, ele era bom aluno porque estava dentro da escola pública, numa particular que privilegia o modelo fordista não alcançaria bons resultados. Lembrando dos pessimistas e sendo bem contumaz: o ensino da escola pública é definitivamente de PÉSSIMA qualidade, como diz nas redes sociais: #prontofalei.

Não é avaliação global forçada por quem não é educador para subir notas escolares que colocará a educação no nível que ela merece: qualidade. O problema da escola como um todo, não é os tons destoantes da pintura, não é a turma do fundo, não é o acesso a tecnologia que deixa o aluno dentro da escola e fora dela. Quanto ao aluno referencial de Foucault domesticado por meio do próprio corpo, esse aluno estava em marte, muito mais longe do que olhar o celular e conferir a nova twittada.

Para mim, a educação só não ocorre, por um simples viés, os professores não são leitores... E claro, não posso esquecer e tenho que acrescentar, professor é profissional, profissão requer remuneração, se não ganhar bem, não há como se fazer educação de qualidade. Leitura e valorização profissional, simples assim.

A educação espelha as políticas públicas nacionais, o descaso para com os oprimidos. Todos eles, onde quer que se encontrem. Quem são os profissionais engajados? Os que lêem, sejam ditadores: obriguem a ler!

De qualquer forma, não me sinto mais uma voz solitária na multidão, mas ainda que fosse, permaneceria em minha crença. Então, ampliando e jogando a pitadinha de sal para modificar as muitas vozes que dizem o mesmo, tenho a acrescentar alguns pontos.

Um dos pontos de confronto daqueles que acham que as mudanças escolares são diabolicamente malévolas, diz respeito a informalidade. E é essa “informalidade” que é tão criticada digo: sou contra a imposição de uniforme, acho que estilo, moda é vital e não é porque estamos em formação (crianças e adolescentes) que não temos visão estética da moda. Então, o problema da escola não se encontra na informalidade e no uniforme para resolvê-lo, mas 41 alunos? Isso só tende a gerar outros assassinos, não há professor que consiga enxergar 41 pessoas ao mesmo tempo. Então, minha crítica não é para a escola, é para o governo que em função da obrigatoriedade do Ensino Fundamental sobrecarrega uma turma. Solução? Mais professores. Como se consegue? Valorização de cargos e carreiras.

Outro ponto positivo, alunos precisam ler quadrinhos, sempre, se possível levar mesmo para a escola. Alunos tem orkut e podemos descobrir quem eles são, para além da escolas ao ler sua páginas nas redes sociais, aqueles que fazem uma reflexão bastante madura de si mesma no perfil da rede social, o que significa? Produtores de texto, lê o mundo, a realidade, infere e não é isso que queremos de um aluno? Aluno tem que ser fã de mangá, ler imagens também é leitura e também é conhecimento, pessoalmente, nunca vi um leitor do Maurício de Souza ser mal sucedido dentro da escola.

Com relação ao conceito global, tema do tópico: não sou contra o conceito global, acredito que ele possa avaliar de verdade, mas é o conselho de classe que precisa mudar. Como? Se meu aluno tirou 1 em Física preciso junto ao professor de Física conversar se isso é porque o aluno realmente não está aprendendo, vem para a escola “comer merenda” ou se é uma deficiência passível de superação e que não trará nada de positivo retendo esse determinado aluno. O que eu quero dizer é que confio na psicologia, se Vigotski e Piaget dizem que o conhecimento vem no momento do aluno e se minhas hipóteses empíricas comprovam isso, não posso fazer frente ao que acredito. Como Pedagoga (100% em 2012, primeiro semestre) tenho que me apropriar daquilo que apreendi, se fizer sentido, claro. Então, faz sentido para mim que inteligência está além de conhecimentos sistemáticos, que aprendizagem está ligada a leitura de mundo e também a proficiência na leitura. O conceito global não me faz aprovar um aluno que não saiba ler sua língua materna, faz? Porque se faz, e não faz, não tenho como defender, mas se conceito global é isso que o nome explica, saber se o aluno aprendeu, saber fazer, saber ser, saber buscar conhecimento, então sou a favor do conceito global.
 Margareth Sales

2 comentários:

  1. Amiga, você está cada vez mais engajada! Gostando muito de ver...

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  2. Parabéns Margareth! Excelente suas ponderações e a lucidez com que conduziu sua exposição. Bem mostra o quão comprometida está com a causa docente e a propriedade em considerar posições tão discutidas a esmo em nossa sociedade de forma inócua e baldada, que não refletem necessariamente em ganhos e avanços ao processo educativo como um todo. Minha opinião é a sua. Mais uma vez parabéns pelo trabalho, pelo blog, pelo texto tão profícuo e consistente, por sua seriedade e engajamento. Também estou na reta final, ainda formo este ano, nos vemos nas veredas tortuosas do fazer docente. Abraços,

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