quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Profissão Escritor


A vida que eu escolhi é muito difícil. Se a primeira frase já não bastasse, ainda tem os agravantes, ser minoria em algumas situações. Ser mulher não me impede de ser escritora, mas ser mulher e escritora me faz mais sensível do que a maioria! Claro que em uma sociedade de espetáculo, só compram a minha força, não sou tão forte assim! Aliás, sou exemplo da sensibilidade e, por ser mulher, abusam disso: mandam eu segurar o choro e eu choro, choro muito: choro na faculdade, choro nos empregos que tive, choro no cinema, no teatro, na minha casa, na casa dos meus amigos, nos restaurantes! Resumindo: Eu choro! E mandam eu travar o choro. Minha última empregadora disse que para eu sobreviver nesse mundo masculino eu tinha que travar o choro. Mandou literalmente, numa discussão eu parar de chorar! É medíocre essa posição. 

É difícil e é doloroso! Não quero competir em um mundo de homens, estou competindo em um mundo de gente. Gente que chora muito, gente que chora pouco, gente que parece não chorar (mas chora, todos choram!). Ter chorado nos cantos da faculdade não me define, não sou essa pessoa, tenho esse traço, mas o traço não me define. Quero chorar (quando necessário) e ninguém para dizer que não posso ou não devo. Porque não só posso, quanto devo! 

Outra minoria que me incomoda: eu ralo pra caramba, trabalho muito, sempre. E, sempre, também ouço dizer que não faço nada. Dizem isso menos, hoje em dia... as pessoas tem medo de me confrontar, pela força citada anteriormente e quando choram alguns abusam. 

Eu quero ganhar dinheiro sendo escritora, eu quero ganhar dinheiro, porque dou minha alma nisso todos os dias. E não considero demérito ganhar dinheiro porque é arte. É arte e trabalho, trabalho que eu me dedico, suo, pesquiso, crio argumentos. Trabalho trabalhoso e que dá prazer. A sociedade inveja ter prazer no trabalho porque a lei que inventaram (que precisa ser questionada diariamente) é que todo trabalho pressupõe desprazer. 

Como é maior a massa de manobra do que quem chega lá! A inveja para os que chegam é maior e por isso tanto bolsomito no mundo demonizando a lei Rouanet! Opto por não comprar o estigma de poeta marginal, sou marginal sim, pois me encontro nas margens, na "periferia", na realidade, região metropolitana profundamente rechaçada (mais uma minoria). No entanto, não compro e não vendo o título de marginal, quero para mim tanto quanto para os meus companheiros de margem o mesmo privilegio do centro. 

Quero dinheiro para comer e quero comer bem. Quero dinheiro para pagar minha luz, meu telefone, minha água e meu IPTU, mas não quero só isso! Quero mais, muito mais e me coloco sim junto com os que podem porque luto por uma sociedade onde todos possam! E quando eu não posso, ainda, defendo os meus direitos, porque vivemos sim em uma sociedade profundamente desigual e que se fosse real que todo trabalhar chegasse lá. Eu já estaria lá, com certeza! São no mínimo, uns 33 anos de profissão de escritor, contando 1983 como primeira inserção oficial.

Margareth Sales

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