quinta-feira, 30 de abril de 2015

Fugindo dos ogros


Capítulo 4: O ogro pão-duro!

        Marcella era a terceira amiga que batalharia para que Amanda conhecesse o par ideal. Ela era bancária durante o dia e as noites fazia dança de salão. Sua paixão era a dança, mas como tinha que se sustentar trabalhava com o financeiro há muitos anos. No entanto, durante a noite buscava os melhores ambientes de dança de salão da cidade. E sempre estava acompanhada, pois era uma mulher que esbanjava sensualidade e ciente de seu poder de atração. Não era das típicas “casadouras”, gostava do encontro, da novidade. Namorava sério sim, mas nunca por um tempo excessivo. Ao término de seus relacionamentos deixava os parceiros arrasados e apaixonados. Porém, não era de propósito que fazia isso, não era intencional magoar o outro. E compensava tornando-se grande amiga do ex e eles sentiam-se agradecidos.
       Começou a amizade com Amanda no segundo grau, pois no primeiro, no primeiro ano do Ensino Médio, Amanda acabou irritando a classe porque fazia muitas perguntas ao professor, gostava de um bom debate teórico e a turma se estressava. Nesse ínterim quem ficou estressada com a falta de motivação de seus colegas adolescentes foi Marcella que se levantou, deu uma chamada aos amigos blasés e uma lição de moral sobre a importância da aprendizagem. Ficaram amigas! E sempre que precisava ser defendida, Marcella vinha ao embate pela amiga.
        Assim, nessa terceira saída, as duas iriam sem lenço e sem documento à Lapa a um desses barzinhos com samba de gafieira para dançar. Claro que Amanda ficou preocupada em procurar um parceiro em um local específico de dançar, afinal, não dançava nada e estava envergonhada, porém, para que servem os amigos? Forçar que as amigas façam coisas nas quais elas se arrependerão, amargamente, e aos 80 anos, será mais um motivo para que, nas reuniões sociais, todos possam rir muito, da desgraça alheia!
        Diante dessa argumentação tão clara do papel da amizade, Amanda teve que ceder e foi procurar o amado na gafieira. Ao chegar ao ambiente, Marcella já recebeu o germe da dança e seu corpo todo balançava, mas não saiu do lado da amiga, estava ali por uma missão pedagógica e, claro, não iria largar nunca uma amiga em um terreno hostil à ela. O que Amanda não conseguia perceber, é que ela, também, atraía o outro, não era somente a amiga, a diferença é que Marcella reconhecia esse potencial e dispensava aqueles que não interessavam. Já Amanda agarrava-se ao primeiro que aparecesse por se considerar indigna de um relacionamento saudável. Além de tudo, acabava por esnobar os interessantes, pois intuía que eles não a queriam. Gerava-se o ciclo vicioso, no qual os interessantes pensavam que ela não estava interessada. Então, sobravam os ogros e pensava que se não os aceitasse, não conseguiria nada de melhor!
        Só que chegou o momento das revelações, das aprendizagens em que seus amigos já não deixariam mais que ela cometesse erros tão tolos, porque como dito: era o momento intervenção!
        Aí surgiu um dançarino, Miguel Ângelo e a puxou para a pista. Amanda ficou, extremamente, sem graça, mas como a condução é sempre do cavalheiro, ele a fez sentir-se nas nuvens. Claro, que tinha consciência de que não havia se tornado uma exímia dançarina da noite para o dia. No entanto, a sensação de dançar bem, ser conduzida era magnífica. Amanda sentiu-se apaixonada por aquele excelente pé de valsa e no decorrer da noite pode perder alguns quilinhos, pois ficaram horas na pista de dança e como estava de salto o esforço físico era maior, pelo jeito economizou uma semana de academia. Ao final da noite o perfeito cavalheiro disse:
        - Que tal perder o sapatinho?
        Primeiro, a protagonista não entendeu, mas logo em seguida linkou o conto de fadas à realidade atual e entregou seu telefone, respondendo:
        - Aqui está meu sapatinho de cristal!
        No sábado, o cavalheiro, prontamente, liga e a convida para uma casa do pastel super-fantástica que ela iria adorar! Na hora marcada, Amanda desce, linda, no seu mais novo salto alto comprado para a ocasião, pois pressentiu: “Agora vai dar certo e a ocasião merece um sapato novo”. Sentiu o coração pular, porque a noite passada foi tão incrível, provavelmente, esta seria indescritível. Trocaram beijos sociais e ela encaminhou-se para o ponto do táxi, quando o perfeito cavalheiro a interpela:
        - Ah! É perto, vamos curtir essa bela noite, caminhando...
        Amanda achou ultra-romântico o convite e ficou mais maravilhada. Ao chegar ao trailer uma ficha começou a cair e ela achou esquisito, mas não deu muito tempo de pensar, pois o salto doía, não era tão perto assim como quis fazer parecer o acompanhante.
        Miguel Ângelo escolhe um cantinho bem aconchegante, disse que reservou essa mesa para os dois. Pediu o cardápio. Bem, não havia muito o que escolher, afinal, era uma casa de pastel, então... Entretanto, o protagonista escolheu um que parecia bem apetitoso e expressão dele pareceu mudar, em seguida, disse:
        - Bem, estou com um incômodo no estômago, vou pedir só o refrigerante! - Pediu um de dois litros e passou a noite inteira com aquele refrigerante. A ficha agora balançava as demais e parecia que iam cair todas! E Amanda entendeu aquele homem depois da ficha cair completamente, disse:
        - Estou muito cansada, onde tem um ponto de táxi para eu ir embora?
        - Daqui? Só ônibus! Eu te levo caminhando! Não foi tão gostoso a nossa vinda?
        - Claroooo que não!!! - Pensou, mas não respondeu.
        Em seguida, planejou como iria livrar-se do ogro pão-duro. Quem poderia chamar para resgatá-la, afinal, em um sábado a noite todos os seus amigos estavam ocupados. Lembrou do amigo nerd que, de novo, tinha ficado em casa estudando. Ligou para ele.
        Dez minutos depois, prontamente, ele viria resgatá-la e terminariam a noite no apartamento dele zoando a ingenuidade e predisposição de Amanda em se dar tão mal para arrumar um par. Ela devolveu a zoação e disse:
        - Ah! Tá bom, sábado à noite em casa, até parece que você é o pegador! - E fez careta para ele!
        - Bem, pegador, nunca fui, porque não acredito que as pessoas são descartáveis, mas, também, nunca tive problemas para entrar e sair dos relacionamentos, me considero satisfeito nessa área!

        Logo em seguida, despediu-se, já estava tarde. Deixando, assim, Amanda atônita, pois em seu pré-julgamento o amigo era tão virgem que seria até um BV, vulgo boca virgem. Claro que isso seria, praticamente, impossível em nossa sociedade, mas imaginar uma pessoa que só pensa em estudar tendo vida social era, até então, inconcebível na concepção dela, guardou a curiosidade. Precisava ligar para Marcella, contar o fiasco da noite e preparar-se para a nova investida, no próximo final de semana, e no próximo capítulo...
Margareth Sales

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