quarta-feira, 11 de julho de 2012

Despedida



É lugar comum sabermos que a vida é feita de ciclos, ciclos que vão e que voltam, ciclos que se expandem e seguem vida a fora, ciclos que se fecham para que outro se inicie. E é desse último ciclo que vou falar. O maior ciclo que enlaça e contém todos os outros é o ciclo da vida que começa no nascimento, se estende ao crescimento e finda na morte. O grande ciclo da vida é feito por um montão de outros ciclos que determinam, no final de tudo, no meio de tudo ou entre dois momentos, se o que foi vivido foi bom!

Um desses ciclos é a primeira graduação, aquela que também nunca esquecemos. Dura em média de 4 a 5 anos, algumas mais outras menos. A questão do término, fim desse ciclo chamado graduação é que desemboca, também, em uma crise de maturidade. Porque geralmente é a passagem da adolescência para a vida adulta ou, talvez, de um comportamento descolado para um comportamento adulto.

Geralmente, o comportamento mais equilibrado é o de se despedir com carinho e felicidade porque apesar de tudo de bom que se viveu, um novo caminho se abre, com novas propostas. Então, see você for, não me achara mais lá, caminho outros caminhos, pois lá finalizei, costumo finalizar o que começo, nada deixo para trás, nada fica pelo caminho.

Uma vida ficou para trás e outra desponta, mas muitas vezes o medo do novo, faz com que tentemos segurar a todo custo o modo de vida que se finaliza. Uma nova vida com todo o tempo do mundo, não dá para parar no meio do caminho é preciso seguir em frente, continuar rumo a propostas novas que a vida oferece. Mas ao final de um estágio muitas vezes temos a falsa ilusão que terminou aqui, que não há nada de novo no futuro. Por isso, algumas vezes não queremos romper, dar o próximo passo.

E é nesse momento que surge a fase mais difícil, daqueles que se despedem, porque se despedir de algo que foi bom é muito mais difícil do que aquilo que nunca funcionou. Para La Taille (1992, p. 89): “[...] identificaremos a formação de uma tendência a que poderíamos chamar de “circuito perverso” da emoção: a de surgir nos momentos de incompetência, e então, devido ao seu antagonismo estrutural com a atividade racional, provocar ainda maior insuficiência”. Ou seja, é um momento que não damos conta racional de nada, só o sentimento de incerteza nos domina. Mas é nesse processo de mergulho na emoção sem nenhum contorno racional, que se cria as instâncias racionais para atuação no palco futuro da própria existência.

 Isso só significa que despedida é um momento de ruptura, e como tal de crise generalizada, que leva muito mais a emoções do que a comportamentos racionais. Construindo assim um sujeito mais equilibrado e saudável, mas que nesse processo de equilibração permeia-se por atitudes que para La Taille (1992, p.95) são: “[...] estados passionais momentâneos, cansaço, intoxicação [...]”. O que o autor (1992, p. 97) continua demonstrando é que: “A apreensão de si mesmo parece tão fugaz quanto uma bolha de sabão, ameaçada pelas simbioses afetivas, pelos estados pessoais de emoção ou mesmo de mero cansaço”.

O sentimento então que fica é se esconder de tudo e do mundo, talvez quem sabe se aconchegar em algum ombro especial. Mas tudo vai se equilibrando e se ajeitando e quando menos esperamos, o passado é rompido, definitivamente e uma nova vida começa. Agora, uma vida adulta, a vida de um profissional formado.
Margareth Sales

BIBLIOGRAFIA

LA TAILLE, Yves de. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

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