segunda-feira, 23 de maio de 2011

Desabafo de uma estudante universitária

Então educação virou o foco de notícias nesses últimos dois meses e é nesse contexto que verdadeiramente abro espaço no meu próprio blog não para fazer literatura, mas para desabafar, colocar toda a minha angústia e dores para fora. 

Usando o exemplo da professora Amanda Gurgel e não pretendendo de forma nenhuma ser ela e nem comparar a angústia de um estudante universitário, em Pedagogia, com o verdadeiro descalabro que realmente a educação se encontra. Mas usando o seu momento para falar sobre o meu como forma de “lavar a alma”, de realizar um momento catártico!

Ouço Roupa Nova no show 30 anos junto com Milton Nascimento cantando Nos bailes da Vida, me lembra de mim, do meu processo artístico e, principalmente, pessoal e agora de minha formação como educadora. Vivo esse momento como baile da minha vida e o canto “com a roupa encharcada e a alma repleta de chão”. E isso significa que me realizo em sala de aula, mesmo sendo fundamentalmente escritora, mas não sou só isso, sou educadora. Como educadora, com Milton Nascimento, com seu Coração de Estudante, a MPB, a minha escrita faço também meu palco artístico e amo esse espaço.

Por isso, estou aqui com essa alma repleta de chão, gritando, agora com meu coração de estudante, escrevendo a minha dor, compartilhando para descobrir se essa é só minha ou posso compartilhar com meus amigos de estrada, os estudantes. Como estudante minha labuta, minha busca diária se chama nota, é essa que me qualifica e é exatamente o ponto mais questionado, mais discutido em toda a Pedagogia.

Não importa se meu conhecimento é sedimentado, não importa se inferi, entendi, mais do que isso, não importa se fui além desse conhecimento. Não importa se ao estudar Ciências Naturais na Educação 2, se depois de anos, finalmente entendi todo o processo da fotossíntese, haja vistas que é difícil apreender como uma molécula de glicose (C6H12O6) se forma, seus meandros. E o material didático da minha faculdade tem muito bem explicado como é feito. Mas não importa, você tem um material bom e é te cobrado a mediocridade, está lá o gabarito, formado em palavras e setas para exemplificar o ciclo do nitrogênio, água e caborno.

Ou então, você estuda, infere, risca busca referências em outros teóricos, mas sua questão se encontra errada, exatamente: ERRADA, ainda que a pedagogia já não se baseie em juízo de valor, mas em construtivismo. Errada porque o autor disse que adolescentes gostam de carnaval, hip hop e religiões afro-descedentes. Sinceramente, não conheço um adolescente que goste do que foi citado, talvez exceto o hip hop, mas na realidade vejo mais é gostar de funk e também de mpb e rock. Mas mesmo que a realidade não seja isso, a questão foi verdadeiro e falso e eu “deveria” ter lembrado que no texto estava escrito isso... Mas não, eu lembrei dos pontos mais importantes como a educação se faz por meio da realidade dos alunos, o hip hop, porém não serviu e fiquei com 6,6 apesar do conhecimento do assunto.

É, estou terminando, em junho de 2012 já posso me chamar Pedagoga, mas estou terminando desanimada, acorrentada, sem voz, com um sapo enorme que me desce a goela. Estou terminando ressentida, estou terminando traumatizada, pesado? Estou exagerando? Sou a única? Será? Meu conhecimento não está valendo nada, tudo o que estudo, tudo o que aprendo, já na graduação vê-se que não se coaduna com aquele que detêm o poder da caneta vermelha, ou para dizer que é diferente, atualmente corrigi de lápis mesmo!

E para calar a minha boca, quando reivindico de forma mais incisiva ainda ouço: “mas eles têm mestrado”! Quer dizer, que o mestrado virou sinônimo de Deus, porque se a premissa for verdadeira, esperem... Pretendo chegar ao doutorado, e segundo a assertiva, não terei mais erro, estarei acima do bem e do mal. Volto então a Milton Nascimento, agora com coração de estudante: “Já podaram seus momentos. Desviaram seu destino”. Me sinto assim, vitimada por aqueles que possuem esse mestrado e que na realidade em nenhum momento vi falando algo diferente de mim, que estou me graduando pela primeira vez. Claro, que possuem a grande capacidade, tão bem pontuada por Vigotski de mediar, ou seja, levam-me pelas veredas do conhecimento, apontam referenciais que contribuem para solidificar ainda mais meu conhecimento. Mas não são deuses, nunca!

Minha estima acadêmica está um “bagaço”, enquanto ouço Roupa Nova, revisito Milton Nascimento em uma segunda-feira, minha vontade não é só colocar o pé na estrada. Mas cair na noitada de uma boate e dançar até esquecer qualquer conhecimento acadêmico, não para sempre, mas como diz o AA, só por hoje. Hoje que estou moída, doída, que compartilho das palavras de Reich em seu livro Escute Zé-Ninguém!

Quero aproveitar que meus sobrinhos estão aqui e jogar Super Nintendo, PlayStation 2 e pular em cima de bichinhos coloridinhos como catarse emocional. Isso porque como diz o Paralamas do Sucesso: “Ninguém foi ao seu quarto quando escureceu”. Trocando a linguagem da música para a da Pedagogia não privilegiaram o conhecimento mas a “decoreba”, pois quando sou obrigada a lembrar que no texto de determinado pensador que afirma que adolescentes gostam de carnaval, para mim é “decoreba” porque a realidade me mostra outra situação.

Como diz os vendedores ambulantes que entram no seu ônibus: “Eu poderia estar estudando, mas estou incomodando o silêncio da tarde de vocês para desabafar”. Minhas notas caíram, cheguei a supor questões cognitivas, ontem li quatro capítulos de Freud: As sutilezas do ato falho, o mecanismo psíquico do esquecimento, lapsos de escrita e lapsos de leitura. Porque a mim é atribuída a responsabilidade de tirar 5,3, 5,5 e 6,6 em três matérias, ao estudante é atribuído a falha e como vivo em uma sociedade, segundo Freud chama de Mal Estar na Civilização, onde a culpa é a “bola da vez”, normalmente acabo por imaginar o que está acontecendo comigo?

O que está acontecendo comigo? Com 40 anos estou traumatizada, com 40 anos acredito que a educação é reprodução ideológica como aponta Althusser, com 40 anos acredito que sou oprimida, como afirma Paulo Freire. Com 40 anos chego a tramar meu plano de vingança de deixar de ser oprimida e maquiavelicamente ser opressora, pois pretendo chegar ao doutorado... Estão ouvindo? Risadas maquiavélicas.

Sinceramente, não é isso que quero, quero que a Amanda Gurgel seja referencial como está sendo... Quero que a educação mude, quero que a bandeira EAD não seja marca de oposição ao estudo presencial, muito menos que a exemplo da fala do Miguel Fallabela, se encontre apenas os restos de giz em uma escavação arqueológica. Desejo que o meu pão nos bailes da vida por onde passar seja conseguido através do ensino da arte, arte lida, arte ouvida, arte vista. A educação precisa ser formadora, construtora e não fragmentadora do sujeito, não é para duvidarmos de que estamos aprendendo. Ao homem é dado o conhecimento, ele sempre vai aprender, formal ou informalmente.

Como diz o Roupa Nova que continuo ouvindo: “A alma advinha o preço que cobram da gente”. Que preço é esse? É o preço de minha sanidade mental que chegou ao ponto de pular questões na prova, imprimir trabalho com páginas faltando, escrever de mim como se fosse do gênero masculino por astenia intelectual ou uma forma de mensagem inconsciente de que não corroboro a imposição dominante daqueles que nos atribuem a nota? É o meu ego que está sendo esfacelado ou minha capacidade cognitiva que está aquém do que a academia exige? Pensem nisso, talvez no meu desabafo à linha de Reich no livro Escute Zé-Ninguém há mais de acadêmico do que se possa supor...
Margareth Sales

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