domingo, 23 de maio de 2010

Sobre escrever

Porque tantos de nós sentimentos dificuldade ao escrever? Como futura educadora posso afirmar antes de tudo que a dificuldade em escrever se encontra arraigada, na dificuldade em lê porque quem lê necessariamente sabe escrever. Porém não estou falando de leitura de símbolos gráficos, mas de letramento, ou seja, aquele que consegue compreender textos, desenhos, pinturas, uma série de TV, o mundo a sua volta, não apenas decodifica símbolos.
Viemos de uma educação tradicionalista, onde fomos alfabetizados, quer dizer, conhecemos o código escrito, mas não letrados e são esses que lêem, como citado anteriormente, e quem lê escreve.
Assim, a primeira regra para uma boa escrita é uma boa leitura e essa pressupõe uma boa leitura de mundo, como sempre citou nosso grande educador, Paulo Freire. A segundo regra para perder-se o medo do papel em branco é aprender a comunicar-se, isso faz realmente muita diferença.
Aprender a comunicar-se é um dos grandes pré-requisitos para aprender a escrever. Umas das grandes dificuldades de todas as épocas era e sempre foi a comunicação. Comunicar-se é imprescidível, mas não é um comportamento fácil de se adquirir, haja vista que vivemos numa sociedade ideologicamente opressora. E todo opressor que se preza tem por principal características calar as vozes, então, cuidado com isso, cuidado com o fato de que sistematicamente calado, você não se transforme em um “calador” compulsivo, uma pessoa que use frases como: “quem fala muito, dá bom dia a cavalo!” essa frase pressupõe uma pessoa fofoqueira e não uma crítica construtiva da realidade, o que quero dizer é que tal ditado popular não pode ser encaixado por ai, aleatoriamente, supondo-se que cada pessoa que possui uma relação de síntese pessoal com sua realidade e SAIBA dizer ela, seja necessariamente uma pessoa que fala demais, sem saber o que está dizendo.
Para comunicar-se é preciso uma critica construtiva da própria realidade e coragem para equilibrar aquilo que precisa ser dito e o que não é importante ou provocaria só estresse. Então um segundo requisito fundamental para uma boa escrita é ser um bom emissor de mensagens.
Haja vista que um bom emissor de mensagens é uma pessoa com um forte argumento pessoal a respeito de tudo o que acontece a sua volta. Esse forte argumento pessoal, pode ser chamado também de capacidade de síntese, argumento é então, um raciocínio do autor onde ele deseja provar uma hipótese e isso significa que todo argumento é válido, a partir do momento que se prove através de indícios ou de vestígios que o seu raciocínio é coerente. O que seria então capacidade de síntase? É a capacidade para observar, antropologicamente, a vida e fazer um resumo pessoal daquilo que se vê, de forma a conferir sentido ao que é visto. Quando, então, compreendo bem a realidade que me cerca consigo lê-la e consigo colocar no papel aquilo que foi lido, mas “eu” compreendo... para que o outro me compreenda é preciso acesso ao domínio do código escrito, quer dizer que se não escrevo adotando o mesmo sistema de signos que o outro possui, posso ter uma comunicação truncada por ruídos, esses que se constituem como falhas de linguagem.
Para se construir um texto é necessário definir o que se pretende com esse texto, isso seria o argumento do texto. Pode-se fazer um texto informativo ou um texto de opinião, sabendo-se que um sempre contém o outro, mas o que diferencia um do outro é, somente, a força que o texto trás: opinião ou informação. Assim, lendo o meu blog você caro leitor e futuro escritor irá perceber que trata-se sempre em textos de opiniões e baseados em fortes argumentos opinitivos, sem querer passar uma postura cientificista, mas uma postura de aconselhamento pessoal, de sente-se ao meu lado e vamos conversar sobre o assunto.
Escrever é muito gostoso e quem ainda não experimentou isso deveria fazê-lo, alguém disse que a pessoa para ser completa precisaria ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Eu digo que escrever um livro é realmente fascinante. Quando dizem que um autor “brinca” com as palavras é porque, na realidade, ele monta e desmonta um texto, atribuindo significados outros na relação gramatical que a palavra não possuía, conferindo um significado pessoal em cima de uma realidade dada e fornecendo novas informações para o mundo que nos cerca, tornando-o mais criativo e mais significativo.
O texto de opinião é exatamente isso, um desnundamento do autor, uma forma de se fazer conhecido, suas aspirações, seus anseios. Já o texto de informação, traz claro a diferenciação, ou seja, o autor não se mistura não se funde ao texto, apenas informa e não há como conhecer-lhe porque o texto não o revela. Dessa forma, quando o leitor lê o autor, convencendo-se ou não do argumento levantado pelo escritor, aconteceu o que esse queria, ou seja, provocar o leitor a uma reflexão crítica, tanto faz rechaçando o texto lido ou enaltecendo-o.
Conferir novos significados a vida tira-nos do senso comum, dá-nos novo alento, mais vivacida e alegria de vida. Para isso existem os livros e esses estão ai há tantos anos, exatamente, para ajudar em nossa relação existencial com o mundo de forma a sair da mesmice e trabalhar com várias ressignificações, ateando fogo e paixão a existência.
Isso porque ler e escrever possuem intencionalidade, ou seja, não escrevo apenas como forma de mostrar que tenho domínio sobre o código escrito, mas escrevo e falo como forma de comunicação. Por último, quando se aprende a dizer aquilo que se leu na vida, no jornal impresso, no jornal televisivo ou mesmo nas novelas, se cria um canal onde a escrita acontece. Se eu sei falar eu vou sempre saber escrever, não resta dúvidas, mas se eu só falo aquilo que eu repito do que o outro me disse, tenho uma educação tradicionalista onde, também, eu só sei escrever o que está decorado ou copiado do outro. Para adquirir conhecimento, eu preciso ter minha própria visão de mundo, a conexão entre aquilo que eu vejo e o que eu reflito do que eu vejo, dessa forma, escreverei a minha fala e saberei escrever porque é minha e porque já foi falada por mim.
A escrita vai além do escritor, ela impera, ela pede, ela demanda, não como fugir de determinados textos, eles vêm, mais cedo ou mais tarde, eles vêm... Então, agora vai meu conselho para você que deseja escrever, escrever é uma arte e como toda a arte, não há parâmetros, nem limites e a aprendizagem se faz na própria prática. Escrever dando vazão a reflexões pessoais próprias, condizentes com a percepção crítica de outros, ou não, é arte! Arte é provocação também, provocação no sentido de angustiar o expectador, leitor a tomar uma posição crítica e reflexiva diante do exposto.

Margareth Sales

3 comentários:

  1. Muito claro o texto. Gostei!

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  2. Bela capacidade de síntese!

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  3. Realmente, muito bom texto...
    A leitura realmente enaltece o ser humano, mas são poucos que tem a capacidade de transformar o que leu em algo escrito de importancia...
    É claro que tudo vem com aprendizagem e conhecimento de causa...

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