sábado, 21 de outubro de 2017

Sobre a prática da escrita





Porque tantos de nós sentimentos dificuldade ao escrever? Como educadora posso afirmar, antes de tudo, que a dificuldade em escrever se encontra arraigada na dificuldade em ler. Porque quem lê, geralmente, sabe escrever. Não estou falando de leitura de símbolos gráficos, mas de letramento, ou seja, aquele que consegue compreender textos, desenhos, pinturas, uma série de TV, o mundo a sua volta, não apenas decodificar símbolos.
         Viemos de uma educação tradicionalista, na qual fomos alfabetizados, mas não letrados e os que leem, como citado anteriormente, escrevem. Quer dizer que não basta, somente, conhecer o CÓDIGO escrito.
         Assim, a primeira regra para uma boa escrita é uma boa leitura, pressupondo uma boa leitura de mundo, como sempre citou nosso grande educador: Paulo Freire. A segundo regra para perder o medo do papel em branco é aprender a comunicar-se. Isso faz, realmente, muita diferença!
         Aprender a comunicar-se é, também, um dos grandes pré-requisitos para aprender a escrever. Uma das grandes dificuldades de todas as épocas sempre foi a comunicação. Comunicar-se é imprescindível, mas não é um comportamento fácil adquirir, haja visto que vivemos numa sociedade, ideologicamente, opressora. E todo opressor que se preza tem por principal característica calar as vozes! Cuidado com isso!
         Para comunicar-se é preciso uma critica construtiva da própria realidade e coragem para equilibrar aquilo que precisa ser dito e o que não é importante ou provocaria só estresse. Resumindo, o segundo requisito fundamental para uma boa escrita é ser um bom emissor de mensagens.
         Haja visto que um bom emissor de mensagens é uma pessoa com um forte argumento pessoal a respeito do todo. Esse forte argumento pessoal desdobra em capacidade de síntese. O que seria então capacidade de síntese? É a capacidade para observar, antropologicamente, a vida e fazer um resumo pessoal daquilo que se vê, de forma a conferir sentido ao que é visto. Quando, então, compreendo bem a realidade que me cerca consigo lê-la e consigo colocar no papel aquilo que foi lido, mas “eu” compreendo... para que o outro me compreenda é preciso acesso ao domínio do código escrito, quer dizer que se não escrevo adotando o mesmo sistema de signos que o outro possui, posso ter a comunicação truncada por ruídos, esses que se constituem como falhas ao enviar a mensagem. Argumento é, então, um raciocínio do autor onde deseja provar uma hipótese. Todo argumento é válido, a partir do momento que se prove através da pesquisa de indícios que o seu raciocínio é coerente.     Para se construir um texto é necessário definir o que se pretende com esse texto, isso seria o argumento do texto.          Escrever é muito gostoso e quem ainda não experimentou deveria fazê-lo. Alguém falou que a pessoa para ser completa precisaria ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Eu ressalto: escrever um livro é realmente fascinante. Quando dizem que um autor “brinca” com as palavras é porque, na realidade, ele monta e desmonta um texto, atribuindo significados outros na relação gramatical que a palavra não possuía, conferindo um significado pessoal em cima de uma realidade dada e fornecendo novas informações para o mundo que nos cerca, tornando-o mais criativo e mais significativo.
         O texto de opinião pode ser um desnudamento do autor, uma forma de se fazer conhecido, suas aspirações, seus anseios. Já o texto de informação, traz clara a diferenciação, ou seja, o autor não pretende se misturar, se fundir ao texto, apenas informar. Dessa forma, quando o leitor lê o autor, convencendo-se ou não do argumento levantado pelo escritor, aconteceu o que esse queria, ou seja, provocar o leitor a uma reflexão crítica, tanto faz rechaçando o texto lido ou enaltecendo-o.
         Conferir novos significados a vida tira-nos do senso comum, dá-nos novo alento, mais vivacidade e alegria de vida. Para isso existem os livros e esses estão ai há tantos anos, exatamente, para ajudar em nossa relação existencial com o mundo de forma a sair da mesmice e trabalhar com várias ressignificações, ateando fogo e paixão a existência.
         Ler e escrever possui intencionalidade, ou seja, não escrevo apenas como forma de mostrar que tenho domínio sobre o código escrito, mas escrevo e falo como forma de comunicação. Por último, quando se aprende a dizer aquilo que se leu na vida, no jornal impresso, no jornal televisivo ou mesmo nas novelas, se cria um canal onde a escrita acontece. Se eu sei falar, vou sempre saber escrever, mas se só falo aquilo que repito do que o outro me disse, tenho uma educação tradicionalista na qual, também, só sei escrever o que está decorado ou copiado do outro. Para adquirir conhecimento, preciso ter minha própria visão de mundo, a conexão entre aquilo que vejo e o que reflito do que vejo. Dessa forma, escreverei a minha fala e saberei escrever porque é minha e porque já foi falada por mim.
         A escrita vai além do escritor, impera, pede, demanda, não há como fugir de determinados textos, eles vêm, mais cedo ou mais tarde, vêm... Meu conselho para você que deseja escrever: escrever é uma arte e como toda a arte, não há parâmetros, nem limites e a aprendizagem se faz na própria prática. Escrever dando vazão a reflexões pessoais próprias, condizentes com a percepção crítica de outros, ou não, é arte! Arte é provocação também, provocação no sentido de angustiar o leitor a tomar uma posição crítica e reflexiva diante do exposto.
Margareth Sales

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