Conheci, durante a minha vida, pessoas com
a capacidade de agregar, de trazer para si o grupo e cuidar dele! Em
contrapartida, conheci tantas outras com a capacidade contrária a estas: que
desagregam e estabelecem uma condição de vida solitária, ainda que estejam em
um grupo social! Diante disso, também vi os agregadores trazerem para dentro do
seu grupo os solitários e estes se sentirem tão confiante que tentam formar seu
próprio grupo. Haja vista que é solitário por contingências da vida, nunca
fruto de uma escolha saudável.
Não foi há muitos dias atrás que vi essas
duas espécies de pessoas travarem uma luta voraz. Do conhecimento antropológico
percebi que o agregador se encontrava numa espécie de aprisionamento emocional
que fora alimentado durante anos. Por isso me pareceu que a luta foi por demais
feroz porque esta rompia com o aprisionamento. Vi durante esses momentos o
arrependimento do desagregador e a tentativa de consertar o relacionamento. No
entanto, vi o resultado: quando o agregador se estendia ao outro em uma atitude
amiga, era logo vista uma algema em seus pulsos. O agregador retirou a mão e
decidiu romper...
A dança primitiva se estabelece nos corpos
daqueles que se encontram com a mente voltada para uma expectativa maior, uma
expectativa de preenchimento interior. Assim, as pessoas se encontram para uma
troca interior maior, na qual eu dedico a minha vida para receber a vida do
outro. Isso é o relacionamento, e quando essas pessoas se empenham nessa troca,
então, há um crescimento emocional e profundo onde cada um cuida do outro, cada
um dá o melhor de si para o outro. O agregador faz isso, já tem em si inerentes
essas estruturas, o desagregador não, há uma espécie de condição aviltante
pregressa, no qual foi-lhe roubado tudo. No caso, todo o amor que tinha, este
decide se fechar para que ninguém entre!
O ermitão solitário passa pela vida sem ser
visto ou então agrega em volta de si outras almas solitárias, como forma de
troféu, como se dissesse para o mundo: “eu venci você, pois tenho quantas(os)
quero”. Eu já convivi muito de perto com alguns desses, às vezes eles se
encontram até mesmo dentro da nossa família. Toda essa maldade de deixarem o
ermitão sem amor não significa que o destino dele era só isso, ele poderia
mudar! Todos podem mudar, mas nem todos querem e seguem assim vida afora. É uma
escolha.
Foi isso que entendi ao acompanhar mais de
perto essas duas vidas, a do agregador e a do ermitão. O agregador veio como se
viesse por um chamado, veio para ajudar, veio para mostrar outro caminho, que
havia solução e esperanças, mas o ermitão solitário não soube discernir e
resolveu roubar do agregador a paz, resolveu usar todos os recursos que tinha
em mãos para tornar a vida do outro miserável. Havia aprendido dessa forma,
alguém havia lhe ensinado assim, talvez a mãe? Dividir para conquistar esse era
o lema, dividia a alma do outro para que na sujeição se fizesse maior e como
consequência reduzia as chances de abandono, porque, supostamente, era o centro
que envolvia tais vidas. Ledo engano, quem envolve é o agregador não o
solitário convicto.
Só que esse meu amado agregador havia se
perdido, pelos anos incontáveis tentando ajudar outra alma. Passou muitos anos
sem consciência de si, até que nessa noite, eu estava lá, era uma noite de
festa... Eu vi o agregador colocar-se de novo no seu salto e retomar sua
dignidade, ah, o agregador que me refiro aqui é uma mulher.
Assim, nessa quente e linda noite de
sábado, chegou o nosso ermitão solitário que por necessidade de provar
supremacia andava em bando, veio como quem aparenta ter o de melhor no mercado.
Brigam com outros bandos através do poder da dominação, mas não se sabe quem é
o vencedor.
Talvez o vencedor se encontre sozinho e
cônscio dessa condição e que se mistura ao bando somente como parte do
jogo. Mas que já escolheu o alvo e sabe
onde e como atacar. E para chegar lá precisa ir derrubando alguns machos empedernidos
que no fundo não são machos de verdade, apenas bebês chorões. Talvez o vencedor
de verdade, fosse a agregadora.
A fêmea agregadora, aquela que detêm o
poder porque descobriu que saber é poder, aproveita-se de uma noite qualquer
dessas para arrasar o bando inteiro, como ela faz isso? Mistura-se a um bando
íntegro do qual não faz parte, mas que tem acesso e usa-o como retaguarda,
depois espera a chegada do bando que a quer dominar e não interagir, esse é o
bando que pensa que está no poder.
Quando os vê começa a caçada, primeiro usa
o poder que sempre soube que tem, para excluir e exclui visivelmente o bando,
os deixa de fora, como sabe que é alvo dos olhares de rapina desses decide dar
um vôo raso e desaparece por ali mesmo, mas sabe que será seguida em breve. Por
isso, prepara-se para não aparentar intranquilidade ou o medo que tem de voltar
a pertencer a um bando degenerado quando a sua busca é o crescimento.
Depois de avistada, novamente, pelo bando
decide agora enfrentar todos eles no campo de guerra ou, pista de dança, e como
fêmea da espécie sabe muito bem quem ganha na pista: a fêmea mais atraente! E
isso vai além da idade, da cor, do perfume ou roupa usada, é uma combinação do
que se é, sua estirpe, com o que se usa. E BAM!!! Macho destruído, bando
desfeito.
Foi isso que eu vi naquela noite de festa e
há alguns dias atrás descobri que o bando do ermitão solitário, sumiu! Foram
todos embora. Não houve como ficar, depois de uma queda tão feia a olhos vistos
e, principalmente, depois perceberem que quem agregava não se encontrava mais,
então não houve quem ficasse e cada um foi aos poucos seguindo seu rumo,
procurando outras paragens.
Com respeito a
fêmea, vi a poucos dias também, segue livre o seu curso em busca de um ideal
maior, de um novo encontro, de um novo momento consigo mesma e com o outro.
Busca por meio de vôos altos, porque não se encontra mais presa ao bando, mas
onde seu bico a levar.
Margareth Sales
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