sexta-feira, 29 de abril de 2016

Dança das espécies




Conheci, durante a minha vida, pessoas com a capacidade de agregar, de trazer para si o grupo e cuidar dele! Em contrapartida, conheci tantas outras com a capacidade contrária a estas: que desagregam e estabelecem uma condição de vida solitária, ainda que estejam em um grupo social! Diante disso, também vi os agregadores trazerem para dentro do seu grupo os solitários e estes se sentirem tão confiante que tentam formar seu próprio grupo. Haja vista que é solitário por contingências da vida, nunca fruto de uma escolha saudável.

Não foi há muitos dias atrás que vi essas duas espécies de pessoas travarem uma luta voraz. Do conhecimento antropológico percebi que o agregador se encontrava numa espécie de aprisionamento emocional que fora alimentado durante anos. Por isso me pareceu que a luta foi por demais feroz porque esta rompia com o aprisionamento. Vi durante esses momentos o arrependimento do desagregador e a tentativa de consertar o relacionamento. No entanto, vi o resultado: quando o agregador se estendia ao outro em uma atitude amiga, era logo vista uma algema em seus pulsos. O agregador retirou a mão e decidiu romper...

A dança primitiva se estabelece nos corpos daqueles que se encontram com a mente voltada para uma expectativa maior, uma expectativa de preenchimento interior. Assim, as pessoas se encontram para uma troca interior maior, na qual eu dedico a minha vida para receber a vida do outro. Isso é o relacionamento, e quando essas pessoas se empenham nessa troca, então, há um crescimento emocional e profundo onde cada um cuida do outro, cada um dá o melhor de si para o outro. O agregador faz isso, já tem em si inerentes essas estruturas, o desagregador não, há uma espécie de condição aviltante pregressa, no qual foi-lhe roubado tudo. No caso, todo o amor que tinha, este decide se fechar para que ninguém entre!

O ermitão solitário passa pela vida sem ser visto ou então agrega em volta de si outras almas solitárias, como forma de troféu, como se dissesse para o mundo: “eu venci você, pois tenho quantas(os) quero”. Eu já convivi muito de perto com alguns desses, às vezes eles se encontram até mesmo dentro da nossa família. Toda essa maldade de deixarem o ermitão sem amor não significa que o destino dele era só isso, ele poderia mudar! Todos podem mudar, mas nem todos querem e seguem assim vida afora. É uma escolha.

Foi isso que entendi ao acompanhar mais de perto essas duas vidas, a do agregador e a do ermitão. O agregador veio como se viesse por um chamado, veio para ajudar, veio para mostrar outro caminho, que havia solução e esperanças, mas o ermitão solitário não soube discernir e resolveu roubar do agregador a paz, resolveu usar todos os recursos que tinha em mãos para tornar a vida do outro miserável. Havia aprendido dessa forma, alguém havia lhe ensinado assim, talvez a mãe? Dividir para conquistar esse era o lema, dividia a alma do outro para que na sujeição se fizesse maior e como consequência reduzia as chances de abandono, porque, supostamente, era o centro que envolvia tais vidas. Ledo engano, quem envolve é o agregador não o solitário convicto.

Só que esse meu amado agregador havia se perdido, pelos anos incontáveis tentando ajudar outra alma. Passou muitos anos sem consciência de si, até que nessa noite, eu estava lá, era uma noite de festa... Eu vi o agregador colocar-se de novo no seu salto e retomar sua dignidade, ah, o agregador que me refiro aqui é uma mulher.

Assim, nessa quente e linda noite de sábado, chegou o nosso ermitão solitário que por necessidade de provar supremacia andava em bando, veio como quem aparenta ter o de melhor no mercado. Brigam com outros bandos através do poder da dominação, mas não se sabe quem é o vencedor.

Talvez o vencedor se encontre sozinho e cônscio dessa condição e que se mistura ao bando somente como parte do jogo.  Mas que já escolheu o alvo e sabe onde e como atacar. E para chegar lá precisa ir derrubando alguns machos empedernidos que no fundo não são machos de verdade, apenas bebês chorões. Talvez o vencedor de verdade, fosse a agregadora.

A fêmea agregadora, aquela que detêm o poder porque descobriu que saber é poder, aproveita-se de uma noite qualquer dessas para arrasar o bando inteiro, como ela faz isso? Mistura-se a um bando íntegro do qual não faz parte, mas que tem acesso e usa-o como retaguarda, depois espera a chegada do bando que a quer dominar e não interagir, esse é o bando que pensa que está no poder.

Quando os vê começa a caçada, primeiro usa o poder que sempre soube que tem, para excluir e exclui visivelmente o bando, os deixa de fora, como sabe que é alvo dos olhares de rapina desses decide dar um vôo raso e desaparece por ali mesmo, mas sabe que será seguida em breve. Por isso, prepara-se para não aparentar intranquilidade ou o medo que tem de voltar a pertencer a um bando degenerado quando a sua busca é o crescimento.

Depois de avistada, novamente, pelo bando decide agora enfrentar todos eles no campo de guerra ou, pista de dança, e como fêmea da espécie sabe muito bem quem ganha na pista: a fêmea mais atraente! E isso vai além da idade, da cor, do perfume ou roupa usada, é uma combinação do que se é, sua estirpe, com o que se usa. E BAM!!! Macho destruído, bando desfeito.

Foi isso que eu vi naquela noite de festa e há alguns dias atrás descobri que o bando do ermitão solitário, sumiu! Foram todos embora. Não houve como ficar, depois de uma queda tão feia a olhos vistos e, principalmente, depois perceberem que quem agregava não se encontrava mais, então não houve quem ficasse e cada um foi aos poucos seguindo seu rumo, procurando outras paragens.

Com respeito a fêmea, vi a poucos dias também, segue livre o seu curso em busca de um ideal maior, de um novo encontro, de um novo momento consigo mesma e com o outro. Busca por meio de vôos altos, porque não se encontra mais presa ao bando, mas onde seu bico a levar.
Margareth Sales

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