quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Aprisionamento Feminino

(repostagem com correções)

Num mundo contemporâneo engana-se quem crê que o aprisionamento feminino é uma coisa do passado e ficou há anos de distância de nossa moderna realidade. As mulheres ainda estão sujeitas a sufocamentos e aprisionamentos pelo machismo, pelas condições sócioeconômicas. É a elas que cabe a parte mais dura e sofrida pela condição de aviltamento criado nos séculos anteriores, aos poucos vem sendo quebrado, só que ainda não ocorreu definitivamente.
         E a mulher é: Eros, beleza, força, aprisionamento, que se desenvolve e se movimenta na força de sua beleza, na força de suas decisões. No entanto, paradoxalmente, durante séculos fora impedida de decidir, pelo medo do seu poder e que poder seria esse? O poder de dizer sim ou não ao homem, esse homem que a subjuga. Esse homem, aparentemente forte, cai derrotado na força dessa mulher.
         Mulher corajosa, guerreira, que não se queixa, mas que na sua cintura, requebra o jogo da vida, jogo que, muitas vezes, é necessário aturar e calar, aprisionada. Entretanto, luta e briga para libertar-se desse jugo. Mulher bela, faceira, rendeira, olhos que se afogam num mar de solidão, dor e, por vezes, alegria intensa.
         Ela estava lá, as margens daquele rio, sozinha, apreciando a própria companhia, alimentando-se com o prazer de si mesma, tal como Narciso alimentava-se, curtindo sua própria natureza, a beleza da natureza que lhe cercava e o rio que a seduzia e que não intentava enfrentá-lo. Já havia enfrentado muito, durante toda a sua vida, dessa vez precisava parar. Dessa vez não queria enfrentar o rio sozinha, mas não se importava de estar sozinha, bastava-se no momento. Não estava mais aprisionada, já esteve, e quando esteve era proibida de atravessar o rio, mas agora não mais, ela podia atravessar, mas não queria mais tomar esse caminho sozinha. Se tivesse que estabelecer uma mudança seria acompanhada, do contrário, continuava deleitando-se no seu leito de águas cristalinas, na sua calma, o seu espaço de reflexão.
         Qual a diferença? Antes não deixava ninguém aproximar-se, pelo trauma da violência vivida. Agora, estava livre. E homem veio, quando menos se esperava, Yin e Yang, sol e lua, homem e mulher, duas forças que se completam. Ele estava ali, depois de tanto tempo de tranquilidade e... a olhou. Dessa vez, derrubando todos os outros olhares que a atravessaram. A atravessaram, não a encontraram! Não a deixaram ser e muito menos não a respeitaram por toda a força de movimento e vida pela qual tinha passado. Fizeram desses momentos, julgamento, fizeram desses momentos tribunais para condená-la por vil, para a despersonalizar, mesmo que ela não deixasse.
         Mas ele olhou e a viu e deixou a vontade e lhe falou muitas coisas em um pequeno olhar: fechou um contrato implícito de segurança e de conforto ao seu lado. Declarou nesse contrato que nenhum mar a submergiria, novamente, não permitiria! Não que ela precisasse ser salva, mas amada. Sabia ser sozinha, pois havia uma satisfação em ter escrito em seu próprio corpo, no movimento de seus lábios que ela era o mistério intocável. Gozava em guardar a sete chaves o mapa de sua alma e não dar-lhe a ninguém, reservar só para si mesma. Apesar disso, ela cedeu. Gostou da novidade!
         Sua prisão emocional ocorreu porque alguns por imaturidade ainda, aprisionavam, pelo medo, pelo contrato que ainda não tinha sido firmado definitivamente, pelo medo de perder quem, supostamente, se tem e diante disso, acontece o aprisionamento. Engano, mulher não é bicho que só fica ao lado quando é aprisionada. Submeter o outro, controlá-lo, talvez, até haja amor nessa relação, mas ainda não foi entendido, não foi percebido plenamente e esse grande amor que tinha chances de sê-lo, transforma-se em aversão. E a mulher aprendeu não que o amor aprisiona, isso definitivamente não faz parte do amor!
         Por conservar em seu cerne uma fera indomada, decidiu se deixar ali as margens daquele rio, só observando as correntezas. Não esperava por aquele homem ali a sua frente que apareceu de repente! Não sabia da onde veio, mas sabia o que pretendia. Pretendia ela, como um imã que lhe atraía e que fazia daquele homem forte, sem forças, por aquela linda mulher que viu no rio. Pretendia tomar-lhe em seus braços e atravessar, assim, com ela o rio. Pretendia levar-lhe aonde ela desejasse ir e pretendia ser dela. Ele também cedeu, o amor se fez, ele a dominou, ela o amansou. Ela o fez mais HOMEM, ele o fez mais MULHER. E eles cederam e libertaram-se...
Margareth Sales
 (baseado em um sonho)



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