sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Fugindo dos ogros


Capítulo 2: Chega de sorvete!

       Passara-se um mês, depois que Amanda deixara o marido e ela continuava lamentando-se, a base de sorvete, sobre o seu destino infeliz, de não dar certo em seus relacionamentos.
        A lamentação chegou num nível insuportável que precisou de que seus cinco melhores amigos fizessem uma intervenção. Cada um deles foi incumbido de apresentar Amanda, durante os próximos cinco finais de semana, a vida real, ou seja, não tem nada disso de sina, maldição, para uma mulher bonita, culta e divertida encontrar o parceiro ideal.
        No primeiro final de semana, depois da intervenção, Marina, a psicóloga, amiga de infância de Amanda, ficou encarregada de fazê-la cair na real.
        Marina conheceu Amanda no antigo Jardim de Infância. Ela havia acabado de derramar o seu Nescau todinho e ao começar a chorar, a nova amiga veio em sua ajuda e ofereceu seu próprio lanchinho. Nunca mais deixaram de ser amigas.
        Marina era psicóloga clínica e iniciou a faculdade, também, ao mesmo tempo que a amiga, só que esta foi para a área de publicidade. Era casada e tinha uma filha de 5 anos. Seu marido era tranquilo e mesmo quando ela resolvia ir para a balada com os amigos, não ligava, ficava de bom grado com a filha, deixando a esposa se divertir, pois confiava demais nela e sabia que ia para a balada dançar e se divertir com amigos, nada demais!
        As duas amigas, então, escolheram a boate mais badalada da cidade para reinserir Amanda na vida. Paqueras era o que não faltava, afinal, duas jovens lindas, aparentemente, na pista. A jovem senhora sabia, magistralmente, sair da investida dos garanhões. Já Amanda não sabia nem mesmo paquerar e precisava de ajuda. Um jovem aproximou-se e veio direto para falar com Marina:
        - Boa Noite, tudo bem com você?
       - Boa Noite! Sim, gostaria de conhecer minha amiga, recém-separada que eu tirei de casa para ver um pouquinho de gente?
        - E você não quer conhecer ninguém?
        - Ah! Não, sou muito bem casada! Estou aqui só de acompanhante. Qual é mesmo seu nome?
        - Marcos.
        - Marcos essa é Amanda, uma excelente publicitária de uma das melhores firmas de publicidade carioca.
        - Sério? - Perguntou, voltando-se para Amanda.
        - Sério! - Respondeu Amanda.
        - E porque recém-separada, uma mulher linda, inteligente como você?
        - Contingências da vida, acontece!
        - É o que eu digo, não se fazem mais homens como antigamente. Aposto que seu ex-marido não lhe deu suporte emocional, não foi ombro. Eu, realmente, não sou assim! Sempre que alguém precisar de ombro, estou aqui para o que der e vier.
        - Bem, ocorreu um conjunto de coisas que não vem ao caso no momento, e não, especificamente, a falta de ombros!
       - Sim, sim, entendo. Porque tenho certeza que você vai parar na minha, sou tranquilo e comigo nunca vai faltar o ombro para te consolar.
        - Mas em que você trabalha mesmo?
      - Sou analista de T.I. e conhecido na firma como a pessoa de mais confiança. Todas as minhas amigas, sempre pedem a minha ajuda. Você sabe, né? Os homens não tão nem aí para oferecer os ombros. Eu não, amo as mulheres e sempre as ajudo com respeito e ombro.
        - Quantos anos você tem mesmo?
        - Trinta e cinco e minha juventude, sempre, foi para ajudar com ombros largos!
        - Você me dá um minutinho? Preciso ir ao banheiro!
        - Eu e meu ombro estaremos aqui esperando por você, princesa!
      Como de hábito, uma mulher nunca vai ao banheiro sozinha e, assim, Amanda levou a amiga, no caminho, a protagonista diz:
        - Acho que vai dar certo, o que eu preciso agora é um ombro amigo para estar ao meu lado e esse cara parece ser legal!
        Dessa vez, a amiga não pode ser aquela pessoa otimista que incentiva a escolha do outro. Aquele era o momento, depois da intervenção que os amigos fizeram, que Amanda precisava cair na real! Por isso, Marina respondeu:
        - Sério?! Você acha? Vamos refletir um pouquinho sobre esse ser humano que se apresentou a você. Primeiro: ele está procurando qualquer uma, deu antes em cima de mim, como viu que comigo não ia rolar, começou a atacar você. Até aí não tem problema, a noite foi feita para caçar mesmo e aquele que não estava interessado pode vir a mudar de ideia, afinal, você é um mulherão, né? Só que o segundo ponto é a fala do meliante, ele usa uma falácia: “dou ombros” e esse argumento tem um nome em latim: Argumentum ad nauseam, significa: argumento até provocar náuseas! Como ele usa esse argumento? Ele repete o tempo todo: “dou ombro”, “dou ombro”. Para convencer que é essa espécie de salvador de donzelas em apuros. Observe, Amanda, ele nada perguntou sobre você. Um comportamento, completamente, egoísta, principalmente, para quem conheceu o outro a primeira vez. Não há nenhum interesse dele por você. O único interesse dele é em si mesmo e colecionar relacionamentos, porque é óbvio que aquele que não se preocupa com os outros não cria vínculos. Essa repetição insistente de que ele é ombro faz muita menininha desavisada cair e, na realidade, existe muita mulher que não amadureceu e é uma menininha carente e desavisada.
        - Tipo eu?
        A amiga olhou desconcertada, não queria jogar na cara essa afirmação, mas era necessário, a protagonista precisava crescer. Já era hora!
        - Sim, você! No entanto, você tem cinco melhores amigos para ajudá-la a chegar a esta maturidade tardia!
        - Quer dizer que aquele cara acaba convencendo por repetir uma mentira?
        - Exatamente, é como se a mentira repetida convencesse o cérebro de que é uma verdade, não é assim que os políticos atuam? Geralmente, quem rouba também usa dessa estratégia, repete que não foi até acreditarem na mentira dessa pessoa, ganham pela náusea, ou no cansaço!
        - E agora o que a gente faz com o cara que está me esperando?
        - Sair de fininho, afinal essa noite já deu!
        Ao chegar perto do elevador do apartamento de Amanda, ela perguntou:
        - Foi uma noite perdida, né? Afinal não conseguimos nosso intento!
        Marina responde enquanto caminhava para o elevador:
      - Claro que conseguimos nosso intento! Todos nós, seus amigos, estamos te levando para um processo de auto-conhecimento, para cair na real. Então... Hoje foi a primeira pedrinha...
        Rodrigo, o vizinho, grita para segurarem o elevador. Elas seguram e ele entra com seu pijama de super-herói, hiper tímido. Amanda pergunta:
        - O que você estava fazendo às três da manhã, com pijama, na rua?
       - Estava estudando, bateu uma mega fome, meu. E não tinha nada na geladeira, aí tive que descer. Ah! Amanda, suas revistas foram, de novo, entregues na minha casa, amanhã te devolvo, ok?
        Amanda sorriu e quando ele desceu no andar dele a amiga perguntou:
        - Quem é o nerd?
       - Meu vizinho, acho que ele me disse que vai tentar o doutorado em linguística, por isso está estudando tanto...
       E assim, termina a primeira madrugada em que Amanda caiu na pista para negócios e também o capítulo 2. No próximo mês, veremos como continua a saga dessa jovem em busca do homem ideal.
Margareth Sales


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