segunda-feira, 13 de maio de 2013

Literatura em uma bula




Em homenagem ao meu professor de Teoria Literária I, que disse que bula de remédio não é literatura. E agora?

- Ei, você, psiu! Tá precisando de um relaxante aí?
- É, eu sei que você diz que não precisa, que você é “normal”, tá querendo enganar a quem? Nem o dedinho mínimo do seu pé tem qualquer marca de normalidade. Não adianta fugir do psiquiatra, ele vai te achar!

MODO DE USAR
- Vamos, devagar, calma, você consegue! O modo de usar é bem simples, você que é cabeça oca! É só enfiar esse comprimido goela abaixo para ver se você para de dizer que a sua cabeça está sempre tão sobrecarregada de pensamentos.
- Não é esse o efeito que você queria? Modificar sua percepção de dor e perigo. Porque... Fala sério, essa angústia constante com a vida é, no mínimo, decepcionante!
- O modo de usar é tomar e sacudir. Sacudir a vida, sacudir os pensamentos, sacudir a “poeira e dar a volta por cima”.

A DOSE
- A dose é a dose habitual de toma vergonha na cara.  Porque você precisa modificar sua visão de mundo. Essa mania de perseguição já deu, né? O mundo não gira em torno de você. As pessoas não querem, prioritariamente, te fragmentar. É só o seu excesso de ansiedade tirando toda a sua capacidade de julgar de forma mais adequada.
- Sua mente precisa desacelerar, precisa sentir esse barato de um pensamento só, de cada vez, nada mais daquelas trilhões de questões que invadem a sua mente a todo minuto. Depois de experimentar (venhaaaa, proveeeee!), você não vai querer outra vida!

SUSPENSÃO DO TRATAMENTO
- Como eu sou um Rivotril® cabeça, eu sempre falo nesse tom relaxado, irônico, marca da minha eficácia no tratamento, pois modifico a percepção da dor e do perigo, relativizando-os. Aí é que é o perigo e, nesse momento, preciso usar meu tom mais sério.
- O Rivotril® é um medicamento que por agir direto no Sistema Nervoso Central (SNC) tem um grande potencial em causar dependência e uso indevido. Por isso, têm-se dois tipos de visões, diametralmente opostas: aqueles que acham que eu sou um medicamento para maluco (geralmente é o senso comum que pensa assim). A outra visão é a visão de alguns profissionais da área de saúde que acham que a terra foi marcada por um grande evento, no qual houve uma divisão histórica: a.R. e d.R., ou seja, antes e depois do Rivotril®.
- Mas não! Não é verdade que todos precisam de mim e não é verdade que só os loucos usam psicotrópicos. Por exemplo, você meu futuro paciente precisa de um Up na vida e para isso é medicação na veia, ops! Na veia não, na boca com um copo d’água.
- Então, depois de você se convencer da dura realidade de que você está precisando de medicação. Aí então, você entrará no tratamento e para sair é descontinuar, mas você não quer mais, né? Se viciou!
- Para entrar no tratamento eu aconselho uma junta médica, porque psiquiatra olhar para você, consultar a bolinha de cristal e receitar, já deu, né? Só sabendo os pormenores da vida de alguém para receitar com segurança um remédio tão sério (nem tão sério assim kkkkkkk) como eu! Portanto, para sair, junta médica, de novo, e acompanhamento psicológico para te ajudar na caminhada da descontinuação. E é isso... A gente se vê depois de sua ida ao médico!
Margareth Sales

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