quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O telefonema

Estava eu, tranquilamente almoçando na Vivenda do Camarão, quando sou interpelada por alguém que não vejo há uns 20 anos. Almoçamos juntas e em torno de uma hora já sabia tudo de sua vida, talvez até a cor da calcinha. Bem, sabendo ela da existência do meu blog, pediu insistentemente que eu publicasse e destrinchasse o telefonema do jeito que fiz naquele sábado. E como eu não gosto nada de colocar uma lenha na fogueira na briga entre os sexos, segue o teor da carta e o aconselhamento leigo:

Oi, quero te ver antes de terminar o ano é possível?
Temos duas possibilidades, ou é um cara legal que realmente quer terminar o ano em grande estilo, revendo alguém que gosta... Ou é o ex dessa minha antiga amiga que percebeu o banha-maria e que não era tão mais importante assim, pois estava sendo apenas usado para preencher um vazio. Isso porque? Comumente a raça masculina, sendo caçadora nata, percebe que a presa está a quilometros de distância de sua garras, então adotam a postura de sair da zona de conforto, dão um salto, mas não em ato, somente em palavras, mexendo com imaginário feminino que foi criado pela cultura. E aqui especificamente, o imaginário feminino está atrelado ao desespero de ver alguém antes da virada do ano, supõem ser o auge do romantismo.

Estou perto, não dá para a gente dar uma fugidinha?
Incentivo ao lado aventureiro e romântico de algumas donzelas em perigo (será?). Se não fosse um jogo o mais maduro seria, vou te ver, ponto! Dude (Cara, em inglês), que tipo de mulher esse meliante anda conquistando? Porque se for uma mulher mais madura ela tem conhecimento que festa de final de ano faz parte do insconsciente coletivo e usar a frase “quero te ver antes de terminar o ano é tão clichê que a pessoa do outro lado deve estar rindo e colocando o telefone no viva-voz para as amigas, fazendo sinal de L na testa (em inglês perdedor, traduz-se por babaca também).

Eu estou com vontade de dar um pega maneiro em você...
Isso é legal, mas se você preparou toda essa estratégia no final de ano para pegar o objeto dos seus desejos, talvez não seja porque você tentou o ano inteiro e não conseguiu? Se for isso... e a mulher te enrola dizendo que você é gostosão, que adoraria ficar sozinha só vocês, ela está te cozinhando em banho-maria e zoando com tua cara. Há muito tempo ela “caga e anda” para você. Agora será que a culpa é dela? O que você fez, provavelmente foi um manezão, né?

Mas se não der, eu não tenho pressa...
Agora, estou com pena de você, a mulher só te veta e você igual a um cachorrinho. Mas tudo bem, a pena vai acabar, sei que nas próximas falas você vai aprontar... Mesmo se você dizesse que comprou um presente especial, tipo: óbvio que ela não está nem ai!

Você me faz muito bem...
Frases de efeito, são usadas por qualquer canalha da pior estirpe, que ver onde você acha frases igualzinhas a essa? Assista o filme Confiar, queridas moiçolas, vocês ficarão chocadas como é fácil usar frases de efeito e não se enganem, não são só as de 12 aninhos que caem. Isso porque uma frase dessas é real quando o contexto é real, o crivo é, se a pessoa é capaz de repetir isso na frente de um público e, principalmente, se a recíproca é verdadeira, ele também te faz bem?

Estou me separando, mas está tudo bem, sem stress...
Good for you! Jogou as cartas altas. Mas se ela não for bobinha vai saber muito bem a diferença entre falar e fazer. E outra... Se você na realidade forjou um casamento pela enorme solidão que sente, ela também vai saber que essa separação já existia, só que só agora você resolveu abrir o verbo. Essa foi a frase mais canalha porque jogar alto como forma de subverter a decisão de uma mulher é canalisse à última potência. Não é mais fácil conseguir via escolha, quer... quer... não quer... não quer!

Então, esse foi o telefonema. Minha amiga, não foi ao encontro. Mas ao mesmo tempo, no final do nosso papo, ficou: preciso rever ele, poxa, você sabe! Meu filho, está morando no meu apartamento, porque eu cedi e eu vivo de aluguel, preciso conversar com fulaninho, porque ele sempre deu jeito no meu filho. Sem ele, nem sei como fazer para botar rédea curta no meu filho. 

Sinto dizer querida amiga de anos atrás, essa frase é subterfúgio para se encontrar com o carinha do telefone. Lembro de uma época em que pensei que iri ficar a vida inteira dependente daquele que me ensinou montagem e manutenção de computadores, ninguém era tão bom quanto ele! Nadaaaa... Hoje, quem cuida de todos os computadores da minha casa sou eu e exclusivamente eu. Então, meu recado final: seu filho é o seu filho, ninguém melhor para cuidar e dar limites do que você mesma! Agora se quiser dar uma voltinha com o meliante do telefone, a decisão é sua!
Margareth Sales

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