quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Quando uma criança se torna adulta antes do tempo


Difícil delimitar, até porque a criança que passa por essa situação pensa apenas que isso é normal que estaria vivendo aquilo que faz parte de sua infância. Nunca percebe que se assume cedo demais e que desde tenra infância não tem ninguém mais por ela. Alguns adultos quando levados a rever seu passado não conseguem reconhecer isso, como dito, pensam que tudo o que viveram era “normal” e que fazia parte desse momento da vida que é a infância.

Por isso, que é tão difícil distinguir as fronteiras para identificar quando um filho já era adulto e tomava as próprias decisões. Há que se levar em conta que a diferenciação está no fato dessa criança ser impelida a tomar decisões que marcarão o seu futuro. No caso, ela nunca foi protegida, ou seja, ela teve que se posicionar a respeito de situações que marcariam todos os próximos anos de sua existência e não houve outro jeito.

Um dos motivos dessas crianças crescerem cedo demais talvez seja o fato de que seus pais não eram amadurecidos, ou mesmo, não queriam ter filhos. Então, esses filhos são de verdade estorvos e quando bem comportados a relação é harmoniosa. Mas criança nunca é bem comportada e os problemas surgem, principalmente, quando essa mesma criança adoece. Há pais que cobram de seus filhos o fato de que eles não devem adoecer porque ao adoecerem o adulto que deveria cuidar daquela criança não sabe o que fazer, desesperando-se por que tem que cuidar de um outro ser quando não sabem nem decidir-se por si mesmos.

O pequeno adulto desde cedo se vê entregue a si mesmo, e o que é mais difícil, como é criança não se mantêm. Então, precisam decidir tudo a respeito de si mesmo mas sem autonomia financeira para arcar com as decisões tomadas. A autonomia então é emocional, decidem, enfrentam mas não vão muito a frente, por falta de condições econômicas.

Exemplificando, uma mãe que ao ver o filho chorando de uma dor física intensa e somente consegue dizer para ele o quanto isso a incomoda porque não sabe ou não pode tomar atitude nenhuma, com certeza, fará com que essa criança desde cedo, tente não mais adoecer (será que isso é possível?) pois não tem ninguém por ela. A criança cresce cedo demais, decide cedo demais por questões em que deveria ser apoiada e não cobrada. Fazer uma criança decidir a própria vida é, no mínimo, desumano.

Há que se levantar também a hipótese de que tais pais ainda desejam que em um futuro breve essa criança venha a resgatá-los da vida, sem muitas perspectivas, na qual vivem. Habituada a salvar os pais das mazelas vividas é bem provável que essa criança adulta venha por agregar essa tarefa a si mesma e tentar realizá-la com afinco. A grande questão é, seria um erro salvar, cuidar daqueles que em nenhum momento nada fizeram pelo próprio filho? De verdade no mundo adulto não existe essa relação de erro e acerto, existe toda uma subjetividade que irá desenhar as possíveis atuações de uma criança que já era adulta quando deveria ser criança.

Portanto, aqui não há juízos de valor e não há também respostas para essas crianças que não viveram o que deveriam viver. Não há respostas porque aqui trato de passado, mas se há alguma criança, hoje, no presente vivendo tal situação, talvez seja possível uma intervenção, talvez não. Na realidade, o texto é só um alerta, pois quem sabe um pai, uma mãe desavisada não vão parar nesse texto e nesse blog e darão de cara com o presente texto. Essa é minha esperança, com relação aos que foram adultos muito cedo, que não repitam o próprio erro com os filhos e que os convidem para brincar. A intenção é que ao brincar com o próprio filho aquilo que lhe foi tirado possa ser revivido e finalmente, superado com o tom da ludicidade.
Margareth Sales

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