terça-feira, 31 de agosto de 2010

A ida em vão



Sabendo-se que tudo vai, nada fica e que as situações estão em constante mudança, há que se perceber que ir, na realidade, não é nenhum bicho de sete cabeças, diria que até natural. Mas o que choca, dói, no fundo de nossa alma é a ida em vão e o que seria a ida em vão? Eu tenho um sinônimo para ida em vão = abandono!

O ser humano é a presa mais eficaz do auto-engano, se encontra sempre nesse misto de conhecimento e cegueira. Para alguns essa posição não incomoda porque não refletem sobre ela, porque não a ressiginificam, para outros é o inferno na Terra porque aprenderam que querem e merecem mais do que tem e por isso mergulham em um nível mais fundo de conhecimento.

Embarcar nessa viagem interior não é fácil, requer coragem, requer tempo para se ouvir, espaço para se sentir e chorar quando necessário! E esse terreno socrático, conheça-te a ti mesmo, não vem sozinha, mas pressupõe um movimento em direção ao outro para troca; para compartilhar.

E esse outro muitas vezes é a figura da sua paixão, o seu desejo que precisa ser realizado. Lembrando-se que esse desejo é ideal, não real, é o contato, os embates, os sustos e, principalmente, o tempo que torna esse desejo real.

O real constrói-se a partir da inserção da palavra dentro da natureza, que em si é hostil e essa hostilidade causa estranhamento, a partir desse estranhamento é que as pessoas não formam laços, deixam-se levar, deixam os outros irem, para não se comprometerem. A diferença entre o real e o ideal é a palavra dada, a palavra falada, o comprometimento de quem assume primeiro na palavra tornando o ideal em real. A palavra dada mesmo que insegura, trôpega, torna-se real porque pronunciada, porque mesmo diante dos medos, veste-se de coragem para manter o que foi primeiro dito.

A palavra é, então, um contrato. Sim, claro, é e sempre foi, ainda que alguns a queiram falsificar... Vão receber sua consequência, a vida cobrará a palavra dada, de um jeito ou de outro.

A ida sem razão é quando não se intenta ir, mas vai, cria-se uma dor, um buraco sem precedentes que torna todo o resto vazio. Em um sentido mais estrito, alguns relacionamentos são tão confortáveis que não causam mais estranhamento, mas também nem ao menos conduzem ao crescimento, vira uma espécie de show de horrores porque não queremos mexer com nossa acomodação.

Essa relação é em vão e torna tudo sempre tão neurotizante, tão frustrante, como se fóssemos Dom Quixote, sempre correndo atrás de nossos moinhos de vento. Para que banalizar tanto a vida e as situações, porque se assustar tanto? Quer dizer, porque não apostar no novo, no estranhamento?

Movimento, libertar-se, parar de impedir as situações. Não deixar a dor embotar o querer... Assim vai se realizar e não se vai!
Margareth Sales

2 comentários:

  1. olá!
    tudo bom???
    muito prazer,me chamo Augusto César...
    gostei muito do seu blogger. show de bola!
    estou lhe seguindo,me siga também???
    http://osegredodosescritores.blogspot.com/

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  2. Me parece que você adotou uma linha diferente de escrita ou estou enganado? Isso me causa curiosidade o que será que transformou a escritora? De qualquer forma, gostei do viés psicanalítico dos textos. Vejo que teu futuro é grande e acredito que sua escrita ainda se transformará mais.
    Um forte abraço.

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