domingo, 23 de maio de 2010

Sobre o dia das mães
Esse texto demorou para ser feito, e foi realizado especialmente pelo pedido de uma seguidora do blog, desculpe não tê-lo feito antes, muitas provas na faculdade e muito trabalho para além do trabalho de escritor. Porém o texto demorou, mas veio!

Para quem me conhece seria difícil imaginar eu escrevendo um texto pelo dia das mães, pois pareço por demais desapegada da família, mas a realidade é que não sou. Sou independente, uma pessoa moderna até para a contemporaneidade, ainda hoje, penso além da minha própria época, e olha que estamos terminando a primeira década do novo milênio.

Então, para falar sobre mãe resolvi colocá-la dentro da relação família e falar sobre um enfoque familiar a relação com minha mãe. A primeira coisa a se pontuar é que somos duas mulheres muito obstinadas, muitas vezes teimosas mesmo e isso nos caracteriza, quando ela quer algo, nada a impede eu tenho a mesma postura, nada me detêm. Em função disso, somos duas briguentas, sempre em pé de guerra, mas essa mesma mãe que sempre se opôs a mim foi a que me ensinou a ser mulher e haja vista, foi muito bem ensinado!

Uma das primeiras coisas que lembro de ter aprendido com ela foi: “o desprezo é a arma que fere!”. Assim aprendi a ser uma mulher determinada em relação a todos os que me provocam e isso está muito ligado a relação mulher-homem, com uma postura feminina de supremacia pessoal, sou quem sou e gosto do valor atribuído a minha pessoa, como valorizo o ser humano de um modo em geral.

Lembro de um episódio muito interessante, claro que na realidade esse é um de vários, mas esse ficou bem marcado porque como dito anteriormente minha mãe me ensinou muito bem a me defender quando as pessoas passavam dos limites e não havia como um diálogo franco pudesse restabelecer a relação. Uma outra observação antes de prosseguir com a história, o diálogo franco eu aprendi sozinha, minha mãe veio da geração onde diálogo franco era motivo para uma boa surra, ou por meio da ditadura o exílio político e, com certeza, em sua cabeça associa-se diálogo franco a perda total de autonomia.

Voltando ao episódio... bem, nunca em meus 39 anos de idade namorei alguém ciumento, odeio! Mas aos 18 esbarrei, escorreguei, por assim dizer, nessa situação... Recém entrada no meio evangélico namorei um “irmãozinho” que era bem quisto em todos os restaurantes gospel e espaços assim, mas que sufocou-me enormemente, logo no primeiro dia já queria me apresentar a toda família e me apresentou mesmo, depois pirou de ciúmes, do tipo: “para quem você está olhando?”, “porque você vai conversar com o pastor?” Não lembro bem, mas acho que não durou dois dias, talvez no máximo uma semana! Mas quando começou essas gracinhas e como fiquei com um pavor tremendo desse cara planejei levá-lo direto para minha mãe e contar o que estava ocorrendo, planejei e fiz! Ali mesmo minha mãe proibiu o namoro e eu com cara de cínica: “Shii! Ela proibiu, não vai rolar, tchau e benção!” Claro que não foram essas palavras em 1988 e, obviamente, como toda boa adolescente que se preze se fosse alguém que me interessasse, com certeza, ia ter fight com minha mãe, porém é para isso que servem as mães, nos tirar do rolo e eu agradeço a Deus por ela ter me livrado daquela fria enorme que não sabia como sair. Uma lição ficou: homens não brinquem comigo pois se o fizerem apresento o leão que minha mãe é! rsrsrs.

Mais adiante ela me ensinou algo que nunca poderei esquecer e que me ajudou muito: guardar as coisas sempre no mesmo lugar. Lembro de como perdia pente, chaves etc. A partir da informação dela não tenho que ficar preocupada nem doida atrás de objetos perdidos, pois cada um tem seu lugar e é fácil achá-lo, até mesmo para dar a localização a um amigo que me pede emprestado e não estando em casa, passo-lhe as coordenadas de como pegar o objeto.

Porém, além de ensinar coisas importantes ou coisas simples e práticas, ela, minha mãe, ensinou-me algo fundamental: amor pela família e o quanto defender com garras cada um daqueles que compõem meu vínculo familiar. Essa aprendizagem fez com que, da família se desdobrasse para o amor e companheirismo com os amigos, não falem mal dos meus amigos porque os amo e os defendo sempre. Claro que isso não significa que vá, como dizia meu pai, membro da minha família, colocar “capa” nas pessoas, se alguém, tanto famílias como amigos tiverem defeito não os encubro mas quero deixar ciência de que os amo e os amarei apesar de.

Amo a minha família o sangue dela pulsa em mim, não defendo uns e detrimentos dos outros... Amo a todos de igual modo, diferenciando defeitos e qualidades, por isso, não se coloque entre quem amo porque os defenderei como leoa, minha família é parte do que eu sou e posso dizer que foram eles que construiram meu caráter, durante minha primeira infância.

Minha mãe ensinou-me a tratar primos como irmãos e com esses irmãos-primos passei várias férias na infância e posso dizer, se um dia já escrevi estórias infantis foi baseada em minhas férias que eu as escrevi.

A família da minha mãe que é a extensão da nossa família nuclear foi, também, a que me deu respaldos para atuar de forma competente no mundo. Eles são meu referencial de honestidade, amor e companheirismo, vivi e vivo mais realizada porque os tenho como suporte, distantes ou não, “problemáticos” ou “normais” são e sempre serão porto seguro nos momentos de crise, quantas vezes terminei um namoro e me refugiei na casa de minha tia!

Isso me leva a uma reflexão importante... como pode alguém gostar da gente e dizer que não quer agrada em nada alguém que seja sangue do nosso sangue. Essa pressuposição é meio excludente, porque pressupõe que essa mesma pessoa também não se importe tanto com você quanto você acha, haja vista que se ela se importasse não se colocaria nunca entre você e seus familiares.

Com isso aprendi desde cedo que eu posso quebrar o pau com a minha família, mas você que está ai de fora não... Não permito que mexam com ela, me entender é uma coisa, estar ao meu lado é outra, mas ir lá e afrontar qualquer membro da minha família em meu nome, nunca, não permito!

E essa defesa dos que eu amo foi gerada na convivência com minha mãe, aquela que defende qualquer componente da minha família cegamente, não é o meu caso. Nunca defendo ninguém cegamente, sim, falo, tal pessoa está errada, mas isso nunca deu o direito do outro ir pessoalmente para resolver a “parada”, deixe que eu me encarrego de fazer isso e sei como fazê-lo, mesmo que isso demande tempo, mas sempre faço a alteridade entender o que necessita ser entendido.

Então, apesar do texto parecer se perder entre as reflexões pontuados, na realidade não se perdeu não! Para fechar o texto e o raciocínio, o dia das mães é então aquele dia especial em que você, apesar de todas as disposições em contrário, vê que você é GENTE porque sua família te fez gente e, principalmente, sua mãe atuou diretamente, nesses últimos anos para que isso viesse a se tornar realidade.

A publicidade que tem como o seu grande veículo de consumo, o dia das mães, repete sempre o velho chavão de que ser mãe é padecer no paraíso. Na realidade, ser mãe de verdade é ter eu como filha, desde de criança questionadora, tipo: porque? porque? que coisinha mais irritante, é ter uma filha que briga com o pai para defender a mãe e que depois, no final das contas, ainda estou errada que não tinha nada que botar o bedelho onde não fui chamada. Ser mãe é ter uma filha como eu, com todas as qualidades e defeitos, porque sem mim, com certeza, ela não seria mãe, posso dizer o mesmo do meu irmão, então ser mãe é ter eu e meu irmão como filhos.

Porque realmente não posso supor o que é ser mãe no papel de mãe, não sou mãe e nunca fui, mas posso dizer o que é ser mãe no papel de filha. E é nesse papel, o de filha, que me coloco para falar sobre as mães e essa maravilhosa experiência que é ter um montão de pentelhinhos para apurrinhar o resto de suas vidas, mas se perguntar para ela se somos de verdade pentelhos... Cuidado! Vai achar um inimigo fortíssimo... nossa mãe, porque ela nunca irá admitir que somos tão sem sensos assim e ficará, sem dúvida, contra você!
Margareth Sales

Um comentário:

  1. Não sei se felizmente ou infelizmente, mas não tenho a mesma visão/sentimento que vc. Pra mim minha familia são as pessoas que fazem e querem o meu bem, independente delas terem o meu sangue ou não. Se algum familiar não contribuir para minha felicidade, não vejo porque permanecer com o vinculo afetivo, permaneço somente com o convívio, pq é inevitável! Assim como um amigo, pode se tornar meu irmão.
    Acho sim que alguém pode gostar de vc e não querer agradar em nada um familiar seu, a amizade é sua e não obrigatoriamente extensiva aos seus familiares, visto que seria ótimo se fosse. Assim como não há necessidade de afrontamento, cada um respeitando seu espaço.
    E sobre essa pessoa se importar com vc, vc vai ter que tirar suas próprias conclusões, vc é a melhor pessoa pra isso.

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