quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Definição de amizade

Diante do divórcio do primeiro texto que demorou muito para se fazer e levou tempos até que a decisão fosse tomada, foi que eu decidir escrever um livro sobre amizade. E o livro estava aqui sendo escrito, já a bastante tempo, só que deu uma parada porque eu e minha amiga resolvemos tentar mais uma vez... O resultado já sabemos, está na primeira postagem do blog. Assim, o livro foi tirado do fundo do baú e revisto e misturado ao blog e fala de amizades, o livro; o blog de outras crônicas e os dois agora são casados e são um só.
A questão do título Amizade líquida, se baseia na mesma questão tão bem desenvolvida em seus livros, por Bauman que explica que líquido é o que se opõem ao sólido e como tal não suporta uma força que possa modificar a sua forma e, por último que sofrem mudanças quando submetidos a tensão. Resumindo é o oposto de tudo o que se constrói, o que se leva tempo para solidificar e crescer, nossa sociedade é liquida, nossos relacionamentos são líquidos, nossas atitudes são líquidas. Querer ser sólido hoje é meio que lutar contra o status quo vigente.
No nosso tempo contemporâneo ensina-se a idéia que, às vezes, a amizade precisa “respirar”. Mas é difícil entender esse conceito quando em um outro momento aprendemos que a amizade foi feita, exatamente, para descarregar as tensões. Será que uma amizade submetida a uma tensão tangencial e que não a suporta poderia se chamar amizade?
Haja vista que a amizade se fundamenta no amor e que definição de amor mais real e profunda do que a bíblica. Se a Bíblia coloca que o amor tudo suporta, significa que o amor tem condições de aceitar uma força tangencial e deformante sobre si mesmo. Ou será que o mundo moderno líquido, requer de você que escolha momentos para ter uma dor intensa? Momentos em que não deva atrapalhar o emprego da Maria, o namoro da Débora ou o bebê da Solange?
A amizade na realidade requer disponibilidade para entrega, se não há essa disponibilidade, porque, então, começar um relacionamento? É necessário amar de verdade os que se comprementem em um relacionamento, na alegria e na tristeza, o que significa que todo relacionamento é uma espécie de casamento, envolvendo o comprometimento de ambas as partes.
Então tudo o que envolve o modo como eu hajo aqui na vida que tenho, requer uma posição séria e comprometida. Séria no que tange ao respeito com meus sentimentos e dos outros, sem o peso excessivo de seriedade, mas com uma atitude relaxada, de confiança para consigo mesma, o outro e a vida.
Esta confiança requer desse jeito, análise profunda e esta análise revela, muitas vezes a doença de um relacionamento. Pode-se perceber tal doença quando se entra numa relação onde a coação fala mais alto que a cooperação. Quando se impõe formas de pensar e supostas verdades, sem reciprocidade, é necessário, dessa forma, um conhecimento profundo de si mesmo para definir se estamos estabelecendo relacionamentos doentes ou que nos suguem algo? Necessário é rever as regras que foram constituídas no cerne desse relacionamento.
Se sobrepõem a essa modernidade líquida o fato de que se vive num tempo onde as pessoas adoecem, emocionalmente, de uma forma tão profunda e incontestável que, muitas vezes, se transforma numa dor tão abrupta, profunda e pungente que não há como se resgatar a pessoa que se ama. Ela acaba se perdendo mesmo que aqueles que a amam tentem trazê-la de volta; a única forma de maturidade é ver que a pessoa vai e que ficamos e precisamos viver com isso.
Sabendo-se que é necessário reconhecer a diferença entre a possibilidade e a limitação e estas estão sempre no sujeito. É a partir dele que se irá definir se há possibilidades de resgate ou não! O que muitas vezes, a amizade, pressupõe investir na situação que aproxima os amigos, para não permitir que as que afastam se tornem maiores. Porém, mesmo diante de tamanho esforço a amizade se perde, e não há maneiras de retomá-la, exceto o tempo, este se torna a única forma de mudança radical de situações estagnadas e engessadas.
A grande questão da vida, principalmente, da modernidade é que as pessoas se encontram em diferentes estágios de maturidade e isto significa que a comunicação, parte primordial do crescimento de um relacionamento se encontra com ruídos e não há maneiras de se dizer: “Estou tentando me ajuda nisto!” Pois ambos saem prejudicados ao perderem o que tentam cultivar.
Um cuidado muito importante que não podemos perder de vista, não só como amigos, mas como pessoas: nunca menospreze a capacidade do outro de ir. E isto é um erro crasso, há sempre o sentimento: “Farei o que quiser, pois essa pessoa estará sempre aqui para mim”. E ninguém fica para sempre, a morte é a prova incontestável de tal pressuposição!
A questão patente é que essas amizades existem, apenas, por um único viés egoísta, onde não se sufoca não se sobrecarrega quando é o outro que está precisando de mais uma gota de amizade para seguir adiante com seus projetos de vida. Tal qual a dependência química é a dependência emocional diante desta amizade, sabendo-se que a partir do momento que não mais “preciso” da substância, a amizade é logo descartada com a idéia de que é sufocamente demais.
Quando se perde o mais importante, não há como se reaver mais, e o mais importante numa amizade verdadeira é a confiança. E esta confiança se desdobra de várias maneiras, como por exemplo: confiança de que, haja o que houver, sempre estaremos lá. Confiança no sentimento do outro, sabemos da nossa importância para o amigo e reconhecemos nosso amigo como um valioso bem. Significando: as duas partes estão comprometidas e não somente um lado da situação.
Se as duas partes se comprometem a tomada de decisões vem então dos dois lados e, conseqüentemente, o investimento na relação. Isso leva a crer que quando se sente que o investimento, que o desdobramento está sendo apenas por um lado então a balança começa a se desequilibrar, talvez seja o momento de uma reflexão. A reflexão pressupõe uma posição em favor de si mesmo, com vistas ao equilíbrio da balança ou a percepção do valor pessoal e este valor está atrelado ao termo troca e companheirismo, sem esse sentimento não há como continuar. Não se tem mais subsídios para a promoção do crescimento desse relacionamento, este estagnou e tende a morte. Pois que tal como seres humanos que somos conscientes de que estamos em permanente devir, a amizade também observa este mesmo princípio. Quando não: decretada está a sua morte!

Margareth Sales

5 comentários:

  1. Quando falamos de seres humanos, Não há nada que possa durar. Podemos falar assim da amizade ou também da decisão de que esta amizade findou. Novos reecontros e situações podem trazer, de volta a vida, a uma amizade que sucumbiu - triste - em um cato sujo qualquer.
    Acredito que mais segura que uma amizade líquida e mais resistente que uma amizade sólida é a amizade que consegue dobrar com a pressão e se esticar quando for preciso (principalmente nas distancias). Uma amizade elástica é mais eficaz.
    Neste caso. Penso que a palavra morte ganha um sinonimo inusitado. Essa palavra é mágoa. Enquanto a mágoa durar a morte da amizade fica assegurada. Mais ela pode ressucitar ao terceiro dia, mês ou telefonema. Agora.Quem tomará a iniciativa?!

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  2. Como a teoria de Darwin toda forma de vida é adaptável, então acredito que as formas de amizades também. Então vejo que não realidade nossas amizades de hoje vão ser e sempre serão "líquidas", pois nós é que sempre estamos mudando de estado, nos adpatando sempre a uma nova tendência. Nós somos complexos por isso amizades sólidas são quase que impossíveis nos dias atuais em que vivemos em um mundo mais preocupado com a matéria do que com nossos próprios sentimentos.

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  3. Definição de amizade: Sua amiga te perdoar por todas as vezes que você diz que fará alguma coisa e não faz!

    Postarei uma melhor, eu juro. Se não postar, me perdoe, tá?

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  5. Amei a parte em que fala: "No nosso tempo contemporâneo ensina-se a idéia que, às vezes, a amizade precisa “respirar”. Mas é difícil entender esse conceito quando em um outro momento aprendemos que a amizade foi feita, exatamente, para descarregar as tensões."

    Em textos como este, percebemos como uma amizade, saudável, deve ser. Uma amizade em que as duas partes contribuem para esse relacionamento ser o mais feliz e companheiro possível. Mas ao ler esse texto me perguntei: A amizade precisa respirar? No meu pensamento a resposta é não! A amizade é como um relacionamento de um casal. Vc só irá querer "respirar" quando vc não quer mais ...

    (Fernanda Pinheiro)

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