terça-feira, 26 de janeiro de 2010

APRISIONAMENTO FEMININO


Num mundo contemporâneo engana-se quem crê que o aprisionamento feminino é uma coisa do passado, que ficou a anos de distância de nossa moderna realidade. As mulheres ainda estão sujeitas a sufocamentos e aprisionamentos pelo machismo, pelas condições sócio-econômicas, muitas vezes é a elas que cabe a parte mais dura e sofrida pela condição de aviltamento criado nos séculos anteriores e que aos poucos vai sendo quebrado, mas ainda não ocorreu definitivamente.

Eros, beleza, força, aprisionamento, todas essas características de uma mulher. Uma mulher que se desenvolve e se movimenta na força de sua beleza, na força de suas decisões, mas que durantes séculos fora impedida de decidir, pelo medo do seu poder, e que poder seria esse? O poder de decidir, o poder de dizer sim ou não para a força do homem, esse homem aparentemente forte, cai derrotado na força dessa mulher.


Mulher corajosa, guerreira, que não se queixa, mas que na sua cintura, requebra o jogo da vida, jogo que é necessário aturar e calar, aprisionada. Mas luta e briga para libertar-se desse jugo. Mulher bela, faceira, rendeira, olhos que afogam num mar de solidão, dor e, por vezes, alegria intensa.

Ela estava lá, as margens daquele rio, sozinha, apreciando a própria companhia, alimentando-se com o prazer de si mesma, tal como Narciso alimentava-se, curtindo sua própria natureza, a beleza da natureza que lhe cercava e o rio que a seduzia, mas que ela não intentava enfrentá-lo. Já havia enfrentado muito, durante toda a sua vida, dessa vez precisava parar. Dessa vez não queria enfrentar o rio sozinha, mas não se importava de estar sozinha, bastava-se no momento. Não estava mais aprisionada, já esteve, e quando esteve era proibida de atravessar o rio, mas agora não mais, ela podia atravessar, mas não queria. Não mais tomar esse caminho sozinha, se tivesse que estabelecer uma mudança seria acompanhada, do contrário, continuava deleitando-se no seu leito de águas cristalinas, na sua calma, o seu espaço de reflexão.

Só que o homem veio, quando menos se esperava, Yin e Yang, sol e lua, homem e mulher, duas forças que se completam, ele estava ali, depois de tanto tempo de tranqüilidade e... ele a olhou. Dessa vez, derrubando todos os outros olhares que a atravessaram, a atravessaram não a encontraram, não a deixaram ser e muito menos não a respeitaram por toda a força de movimento e vida pela qual ela tinha passado. Fizeram desses momentos, julgamento, fizeram desses momentos tribunais para que a pudessem condenar de vil, para que a despersonalizassem, mesmo que ela não deixasse.

Mas ele a olhou e a viu e a deixou a vontade e lhe falou muitas coisas em um pequeno olhar e fechou um contrato implícito de segurança e de conforto ao seu lado, declarando nesse contrato que nenhum mar a submergiria novamente, ele não permitiria. Não que ela precisasse ser salva, mas ela se sentiu confortável nessa posição, ela sabia ser sozinha, mas ela gostou da novidade, porque ao mesmo tempo que havia uma satisfação em ter escrito em seu próprio corpo, no movimento de seus lábios que ela era mistério intocável, que não se importava em guardar a sete-chaves o mapa de sua alma e não dar-lhe a ninguém, reservar só para si mesma. Mesmo assim, mesmo apesar disso, ela cedeu!

A mulher havia aprendido não que o amor aprisione, isso definitivamente não faz parte do amor, mas as vezes alguns por imaturidade ainda, aprisionam, pelo medo, pelo contrato que ainda não foi firmado definitivamente, porque descobre-se que aquela que se tem não se “pode” perder e diante disso a aprisiona para tê-la. Engano, mulher não é bicho que só fica ao lado quando é aprisionada. Submeter o outro, controlá-lo talvez até haja amor nessa relação, mas ainda não foi entendido, não foi percebido plenamente e esse grande amor que tinha chances de sê-lo, transforma-se em aversão.

Por conservar em seu cerne uma fera indomada, decidiu se deixar ali as margens daquele rio, só observando as correntezas, não esperava por aquele homem ali a sua frente, apareceu de repente, não sabia da onde veio, mas sabia o que pretendia. Pretendia ela, como um imã que lhe atraía e que fazia daquele homem forte, sem forças, por aquela linda mulher que viu no rio. Pretendia tomar-lhe em seus braços e atravessar, assim, com ela o rio. Pretendia levar-lhe aonde ela desejasse ir e pretendia ser dela. Ele também cedeu, o amor se fez, ele a dominou, ela o amansou. Ela o fez mais HOMEM, ele o fez mais MULHER. E eles cederam e libertaram-se...

Margareth Sales

(Baseado num sonho)

5 comentários:

  1. MAga, estou começando a aprender que amor é troca. Se vc não sabe amar, não sabe ser amado, não reconhece o amor. Sei por experiência própria como é isso. Hoje, espero ter encontrado alguém que me mostre o retorno do amor, pq cansei de mostrar e não ter retorno. O amor é pra somar, multiplicar e dividir, não pra subtrair.

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  2. Adorei sua última frase Cristina.
    Já tive um relacionamento com uma pessoa muito egoísta. Era muito complicado construir uma relação equilibrada e saudável.

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  3. A frase "Deixo livres todas as coisas que amo, pois se voltarem é porque realmente as tenho", seria o melhor dos mundos. Pela minha caminhada ainda não conheci esse ser tão libertário que consegue não ter ciúme, não fazer jogos ou usar de artifícios para aprisionar o ser amado! Faz parte da natureza humana!

    Viviane Nascimento

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  4. Primeiramente gostaria de parabenizar você Margareth Sales e todas as mulheres pelo dia 8 de março.O texto é bem interessante, relata um pouco da evolução da mulher no mercado de trabalho e igualdade social. Confesso que me perdi um pouco no texto, ela estava um pouco desiludida no texto, as desilusões, são frutos de nossas cabeças ocas, digo isso, pois se alguém se desilude com outra, isso significa que ela vai se trancar num quarto e fechar as portas para todo mundo ou até mesmo querer se matar? Sei que isso é típico do comportamento humano, mas não tem sentido, porque as pessoas generalizam, com certeza tem uma pessoa melhor que aquela, a pessoa só deu azar de não encontrá-la antes dessa. rsrsr conseguiu entender meu raciocínio? rsrsr porque até eu me enrolei um pouco. rsrss ... mas o final foi típico de contos de fada... como: "Baseado num sonho"...rsrrsrs

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  5. MAravilhoso...tudo o que vivo atualmente...e sei que realmente aquilo que amamos quando voltam é porque realmente as temos...beijo no seu coração...Sej feliz sempre!!!

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