quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Dança das espécies


Conheci durante a minha vida, pessoas com a capacidade de agregar, de trazer para si o grupo e cuidar dele, em contrapartida conheci tantas outras com a capacidade contrária a estas que desagregam e estabelecem uma condição de viver como um ermitão, ainda que componham um grupo social. Diante disso, também vi o agregador (a) trazer para dentro do seu grupo o solitário ermitão e este se senti tão confiante que tenta reunir o seu próprio grupo. Haja vista que ele é o ermitão solitário por contigências da vida, nunca por uma escolha saudável.
Não foi há muitos dias atrás que vi essas duas espécies de pessoas travarem uma luta feroz. Do conhecimento que tenho do público em questão, percebi antropologicamente, que o agregador se encontrava, no momento, numa espécie de aprisionamento emocional alimentado durante anos. Por isso me pareceu que a luta foi por demais feroz, vi aquele ser, pedir para sair do grupo. Vi durante esses momentos um pedido de misericórdia para com o outro e a tentativa de afinar a situação vivida. Porém também vi o resultado, quando o agregador se estendia até o outro procurando ajudá-lo, dando-lhe uma mão amiga, em seguida era vista uma algema em seus pulsos. O agregador retirou a mão e decidiu romper...
Nessa espécie de dança primitiva que se estabelece nos corpos daqueles que se encontram com a mente voltada para uma expectativa maior, uma expectativa de preenchimento interior. As pessoas se encontram, então, para uma troca interior de vida, onde eu dedico a minha vida para receber a vida do outro. Isso é relacionamento, e quando essas pessoas se empenham nessa troca então há um crescimento emocional e profundo onde cada um cuida do outro, cada um dá o melhor de si para o outro. O agregador faz isso, já tem em si inerentes essas estruturas, o desagregador não, há uma espécie de condição aviltante pregressa onde este ao invés de receber foi-lhe roubado tudo, no caso todo o amor que tinha, o que este decide então é se fechar para que ninguém entre!
O ermitão solitário passa pela vida sem ser visto ou então agrega em volta de si outras almas solitárias, como forma de troféu, como se dissesse para o mundo: “eu venci você, pois tenho quantas(os) quero. Eu já convivi muito de perto com alguns desses, às vezes eles se encontram até mesmo dentro da nossa familia. Toda essa maldade de deixarem o ermitão sem amor não significa que o destino dele era só isso, ele poderia mudar todos podem mudar, mas nem todos querem e seguem assim vida afora, é uma escolha.
Foi isso que entendi ao acompanhar mais de perto essas duas vidas, a do agregador e a do ermitão. O agregador veio como se viesse por um chamado, veio para ajudar, veio para mostrar outro caminho, que havia solução e esperanças, mas o ermitão solitário não soube discernir e resolveu roubar do agregador a paz, resolveu usar todos os recursos que tinha em mãos para tornar a vida do outro miserável. Havia aprendido dessa forma, alguém havia lhe ensinado assim, talvez a mãe? Dividir para conquistar esse era o lema, dividia a alma do outro para que na sujeição se fizesse maior e como consequência reduzia as chances de abandono, porque supostamente era o centro que envolvia tais vidas. Ledo engano, quem envolve é o agregador não o solitário convicto.
Só que esse meu amado agregador havia se perdido, pelos anos incontáveis tentando ajudar a outra alma, e passou muitos anos sem consciência de si, até que nessa noite, eu estava lá, era uma noite de festa... Eu vi o agregador colocar-se de novo no seu salto e retomar sua dignidade, ah, o agregador que me refiro aqui é uma mulher.
Assim, nessa quente e linda noite de sábado, chegou o nosso ermitão solitário que por necessidade de provar supremacia andava em bando, veio como quem aparenta ter o de melhor no mercado. Brigam com outros bandos através do poder da dominação, mas não se sabe quem é o vencedor.
Talvez o vencedor se encontre sozinho e cônscio dessa condição e que se mistura ao bando somente como parte do jogo. Mas que já escolheu o alvo e sabe onde e como atacar. Mas que para chegar lá precisa ir derrubando alguns machos impedernidos que no fundo não são machos de verdade, apenas bebês chorões. Talvez o vencedor de verdade, fosse a agregadora.
A fêmea agregadora, aquela que detêm o poder porque descobriu que saber é poder, aproveita-se de uma noite qualquer dessas para arrasar o bando inteiro, como ela faz isso? Mistura-se a um bando íntegro do qual não faz parte mas que tem acesso e usa-o como retaguarda, depois espera a chegada do bando que a quer dominar e não interagir, esse é o bando que pensa que está no poder.
Quando os vê começa a caçada, primeiro usa o poder que sempre soube que tem, para excluir e exclui visivelmente o bando, os deixa de fora, como sabe que é alvo dos olhares de rapina desses decide dar um vôo raso e desaparece por ali mesmo, mas sabe que será seguida em breve. Por isso, prepara-se para não aparentar intranquilidade ou o medo que tem de voltar a pertencer a um bando degenerado quando a sua busca é crescimento.
Depois de avistada novamente pelo bando decide agora enfrentar todos eles no campo de guerra ou, pista de dança, e como fêmea da espécie sabe muito bem quem ganha na pista: a fêmea mais atraente! E isso vai além da idade, da cor, do perfume ou roupa usada, é uma combinação do que se é, sua estirpe, com o que se usa. E BAM!!! Macho destruído, bando desfeito.
Foi isso que eu vi naquela noite de festa e há alguns dias atrás descobri que o bando do ermitão solitário, sumiu! Foram todos embora. Não houve como ficar, depois de uma queda tão feia a olhos vistos e, principalmente, depois de todos perceberem que quem agregava não se encontrava mais, então não houve quem ficasse e cada um foi aos poucos seguindo seu rumo, procurando outras paragens.
Agora a fêmea, vi a poucos dias também, a fêmea agregadora segue livre o seu curso em busca de um ideal maior, de um novo encontro, de um novo momento consigo mesma e com o outro. Busca por meio de vôos altos, porque não se encontra mais presa ao bando, mas onde seu bico a levar.
Margareth Sales

4 comentários:

  1. Muito interessante seus textos, porque em cada um deles você escreve de um jeito. A mim parece que são sete pessoas diferente escrevendo... No primeiro texto é uma escritora romântica, colocando sentimentos, no segundo texto é uma escritora moderna tirando sarro dos rapazes. Nesse texto aqui, para mesmo uma cientista, uma antropóloga investigando as relações humanas.
    Parabéns, você sabe que fã como eu não existe, não tem nada no mundo que eu queira mais que sempre te seguir. Você sempre foi e sempre será especial em minha vida...
    Paulo

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  2. Fiquei absurdamente envolvida com o texto! Posso espelhar vários momentos da minha vida no texto acima! E quem não pode? Sempre nos deparamos com as duas espécies, É impressionante o quanto os ermitões fazem a própria vida mais difícil e por isso acabam querendo fazer com que as dos outros também sejam! Mas nós agregadoras que somos, damos um jeito rapidinho!
    Os textos estão ótimos! Visito a página diariamente para saber se tem postagem nova! Vou postar comentário nos outros também! Continue sempre, para alegria não só sua, como nossa! Bjs!
    Viviane Nascimento

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  3. Lendo carinhosamente o texto, observei com que doçura a agregada já que mencionas se tratar de uma mulher. soube muito bem se colocar e dar a volta por cima em situação em que o bando estava em numero maior, confesso ter ficado com pena do bando. Rsrsrsrs. Parabéns! como sempre os textos vem nos colocar um ponto de interrogação. Será que já não vivemos esta mesma situação? E não soubemos como agir? Beijos

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  4. VIVA A MULHER!!rsrs... Minha amiga, nós já sabemos que o mundo é das mulheres e tolo é o homem que acredita que pode nos controlar ou manipular. Nós só nos deixamos levar quando queremos, mas levantamos vôo quando vemos que a situação não nos interessa. Assim é a vida, compartilhar sempre, submeter-se nunca.
    Beijos

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