Capítulo 5: Um ogro que volta
Juliano era o amigo número quatro de Amanda. Na
realidade, ele era seu único primo e companheiro de travessuras, na infância. O
rapaz era um sedutor, mas foi criado como irmão da prima e entre eles não havia
desejo algum. Ela aprendia, teoricamente, muito das artimanhas masculinas de
sedução com ele, no entanto, na prática esquecia rapidamente quando eram só... um
pouquinho... mais educados com ela. Todos seus amigos diziam, sutilmente, que
ela precisava trabalhar a carência, sair da posição de alvo fácil, porém só
agora, depois da intervenção, Amanda começava a refletir sobre seus
relacionamentos com os rapazes.
E por esse motivo começou a reavaliar
como eram os relacionamentos pelo ângulo de um sedutor, como era o primo. De
qualquer forma, nenhum dos seus amigos achava o Juliano canalha ou ogro. Isto
porque ele sempre deixava claro em todos os relacionamentos que não eram para
se envolver, ele era livre e gostava disso. As desavisadas poderiam dizer que
foram enganadas, mas ele tinha um radar bom para as maduras emocionalmente, ou
seja, aquelas que entendiam que ele não estava mentindo, que, realmente, ele
não se apaixonaria, seria sempre um ótimo companheiro e amante, com prazo de
validade.
Assim, Juliano era hiper-badalado e com
amigos em todos os lugares. Dentre esses amigos que pensou na estratégia para a
prima conhecer o novo pretendente. Saíram, então, para o bar onde a paquera
rolava, chegando lá ele encontrou com os amigos e em off disse:
- Tá vendo aquela gata? Minha namorada,
a mulher perfeita, em tudo: inteligente, sexy, independente, linda, madura. Não
deixo essa mulher escapar por nada!
Logo depois de dizer isso saiu e foi
dar uns pegas em uma garçonete dali. Conhecia o grupo que tinha infiltrado os
elogios pela prima: os que eram contra mais de um relacionamento. Dito e feito,
um deles se aproximou de Amanda tentando salvá-la do suposto namorado
mulherengo. Nosso protagonista não sabia porque o jovem veio tão incisivo nela,
estranhou, mas ele foi educado e cortês e flertava, nitidamente. Estava
adorando, não sabia o que o primo fez, mas estava dando certo... Até o momento,
que o ogro ex-marido surge e isso não esperava. Ele? Com aquela preguiça toda?
Que achava que relacionamento era ficar trancado em casa, comendo, bebendo e
fazendo amor?
Ao vê-la, Paulo abriu um enorme sorriso
e se encaminhou para cumprimentá-la. Amanda logo ficou muito preocupada, pois
achou que iria rolar briga no bar porque estava com outro cara. Gelou. No
entanto, contra todas as expectativas, o ex foi dócil, fez o que nunca faria na
vida, cumprimentou o oponente e deu a entender que a parabenizava por ter
seguido em frente. Disse que para ele era muito difícil, pois ela era o amor da
sua vida e se arrependia, profundamente, de ter falhado tanto! Clarooo, que o
gelo de Amanda deu uma derretidinha. Em seguida, ele saiu e ficou sozinho no
balcão do bar, nem ligava para as investidas das outras, deixou claro que a
felicidade dele seria voltar com a amada, nada mais era importante no mundo!
Quando Juliano voltou de seus amassos
com a garçonete viu a cena mais repugnante para quem gostava da prima: ela com
o ex-marido, flertando! Dirigiu-se direto para impedir aquela disparate, mas
nada conseguiu, Amanda estava enfeitiçada novamente e era horrível ver alguém
descer tão baixo e se desvalorizar, porém ela era adulta! Bem que queria
tirá-la de lá a força, mas não podia fazer isso, torcia só para que ela
recuperasse o juízo.
E o final de semana que foi prometido
para novos encontros, mudança de vida, a protagonista se enfurnou no velho
apartamento para reviver o que ela achava que estava sendo legal. Afinal, ela
tinha suas urgências e ele era conhecido. Só que ela resolveu ligar o celular e
no início da tarde do Domingo, várias mensagens cobrando e confrontando a
postura que ela tomou. Sentiu-se culpada, claro, e aceitou um convite para o
teatro com Rodrigo, mas sabia ser uma armação realizada pelos amigos para que
ela fosse de qualquer jeito! Isso porque o vizinho usou do artifício que estava
estudando demais e precisava espairecer, mas não queria ir sozinho e tinha um
convite para a peça que ela estava louca para assistir (seus amigos,
obviamente, moveram céus e terra para descolar esse ingresso). Isso tudo fechou
o cerco, como poderia dizer não ao novo amigo, sempre tão solicito, como
poderia dizer não para a peça mais que esgotada que queria tanto assistir?
Despediu-se de Paulo, disse que tinha que voltar para casa e seus compromissos
e saiu.
O que Amanda havia esquecido em seu
desvario de pena do “solitário” ex-marido e de sua cegante “fome do rato”, foi
que ele era obsessivo, controlador, não deixava ela fazer nada, sair com amigos
e nem a deixava em paz. Então, uma hora depois de deixar a casa do ex, já
estava ele, incontinentemente, ligando sem parar. Respondeu que estava no
teatro e ele irado, disse que tudo bem, tinha compromisso com a Joana à tarde
mesmo. Joana era uma mulher que sempre tentou destruir o casamento dos dois e
que Amanda odiava. A jovem respondeu que ele era livre para fazer o que
quisesse. Pela primeira vez, percebeu que não se importava mais. Também
percebeu que sempre que ela não fazia o que ele queria, ele a punia! Por isso,
Amanda colocou o número do ex-marido em sua blacklist, se sentiu idiota por ter cedido, queria um buraco para
enterrar a cabeça. Porque mexer em algo que nunca deu certo? E lembrou do
quanto os amigos, realmente, execravam aquele relacionamento, não teria uma
razão de ser?
Entretanto, depois do banho, da roupa,
dos sapatos, da bolsa para o teatro, se sentia renovada e Rodrigo tocou a
companhia, desta vez sem os pijamas e camisas de super-heróis que costuma usar,
mas uma roupa de homem e para sua surpresa estava hiper-sexy. De intrigada com
o fato de que seu vizinho não era o perdedor que achava, passou a um aperto no
peito inusitado que ela não entendeu o que era, porém a noite foi descontraída
e fantástica, com alguém que era super-bom de papo.
Assim, os desdobramentos da noite, a
avaliação dos novos acontecimentos e as futuras paqueras, no próximo capítulo!Margareth Sales