Capítulo 4: O ogro pão-duro!
Marcella
era a terceira amiga que batalharia para que Amanda conhecesse o par ideal. Ela
era bancária durante o dia e as noites fazia dança de salão. Sua paixão era a
dança, mas como tinha que se sustentar trabalhava com o financeiro há muitos
anos. No entanto, durante a noite buscava os melhores ambientes de dança de
salão da cidade. E sempre estava acompanhada, pois era uma mulher que esbanjava
sensualidade e ciente de seu poder de atração. Não era das típicas
“casadouras”, gostava do encontro, da novidade. Namorava sério sim, mas nunca
por um tempo excessivo. Ao término de seus relacionamentos deixava os parceiros
arrasados e apaixonados. Porém, não era de propósito que fazia isso, não era
intencional magoar o outro. E compensava tornando-se grande amiga do ex e eles
sentiam-se agradecidos.
Começou a amizade com Amanda no segundo grau,
pois no primeiro, no primeiro ano do Ensino Médio, Amanda acabou irritando a
classe porque fazia muitas perguntas ao professor, gostava de um bom debate
teórico e a turma se estressava. Nesse ínterim quem ficou estressada com a
falta de motivação de seus colegas adolescentes foi Marcella que se levantou,
deu uma chamada aos amigos blasés e uma lição de moral sobre a importância da
aprendizagem. Ficaram amigas! E sempre que precisava ser defendida, Marcella
vinha ao embate pela amiga.
Assim, nessa terceira saída, as duas
iriam sem lenço e sem documento à Lapa a um desses barzinhos com samba de
gafieira para dançar. Claro que Amanda ficou preocupada em procurar um parceiro
em um local específico de dançar, afinal, não dançava nada e estava
envergonhada, porém, para que servem os amigos? Forçar que as amigas façam
coisas nas quais elas se arrependerão, amargamente, e aos 80 anos, será mais um
motivo para que, nas reuniões sociais, todos possam rir muito, da desgraça
alheia!
Diante dessa argumentação tão clara do
papel da amizade, Amanda teve que ceder e foi procurar o amado na gafieira. Ao
chegar ao ambiente, Marcella já recebeu o germe da dança e seu corpo todo
balançava, mas não saiu do lado da amiga, estava ali por uma missão pedagógica
e, claro, não iria largar nunca uma amiga em um terreno hostil à ela. O que
Amanda não conseguia perceber, é que ela, também, atraía o outro, não era
somente a amiga, a diferença é que Marcella reconhecia esse potencial e
dispensava aqueles que não interessavam. Já Amanda agarrava-se ao primeiro que
aparecesse por se considerar indigna de um relacionamento saudável. Além de
tudo, acabava por esnobar os interessantes, pois intuía que eles não a queriam.
Gerava-se o ciclo vicioso, no qual os interessantes pensavam que ela não estava
interessada. Então, sobravam os ogros e pensava que se não os aceitasse, não
conseguiria nada de melhor!
Só que chegou o momento das revelações,
das aprendizagens em que seus amigos já não deixariam mais que ela cometesse
erros tão tolos, porque como dito: era o momento intervenção!
Aí surgiu um dançarino, Miguel Ângelo e
a puxou para a pista. Amanda ficou, extremamente, sem graça, mas como a
condução é sempre do cavalheiro, ele a fez sentir-se nas nuvens. Claro, que
tinha consciência de que não havia se tornado uma exímia dançarina da noite
para o dia. No entanto, a sensação de dançar bem, ser conduzida era magnífica.
Amanda sentiu-se apaixonada por aquele excelente pé de valsa e no decorrer da
noite pode perder alguns quilinhos, pois ficaram horas na pista de dança e como
estava de salto o esforço físico era maior, pelo jeito economizou uma semana de
academia. Ao final da noite o perfeito cavalheiro disse:
- Que tal perder o sapatinho?
Primeiro, a protagonista não entendeu,
mas logo em seguida linkou o conto de fadas à realidade atual e entregou seu
telefone, respondendo:
- Aqui está meu sapatinho de cristal!
No sábado, o cavalheiro, prontamente,
liga e a convida para uma casa do pastel super-fantástica que ela iria adorar!
Na hora marcada, Amanda desce, linda, no seu mais novo salto alto comprado para
a ocasião, pois pressentiu: “Agora vai dar certo e a ocasião merece um sapato
novo”. Sentiu o coração pular, porque a noite passada foi tão incrível,
provavelmente, esta seria indescritível. Trocaram beijos sociais e ela
encaminhou-se para o ponto do táxi, quando o perfeito cavalheiro a interpela:
- Ah! É perto, vamos curtir essa bela
noite, caminhando...
Amanda achou ultra-romântico o convite e
ficou mais maravilhada. Ao chegar ao trailer uma ficha começou a cair e ela
achou esquisito, mas não deu muito tempo de pensar, pois o salto doía, não era
tão perto assim como quis fazer parecer o acompanhante.
Miguel Ângelo escolhe um cantinho bem
aconchegante, disse que reservou essa mesa para os dois. Pediu o cardápio. Bem,
não havia muito o que escolher, afinal, era uma casa de pastel, então...
Entretanto, o protagonista escolheu um que parecia bem apetitoso e expressão
dele pareceu mudar, em seguida, disse:
- Bem, estou com um incômodo no
estômago, vou pedir só o refrigerante! - Pediu um de dois litros e passou a
noite inteira com aquele refrigerante. A ficha agora balançava as demais e
parecia que iam cair todas! E Amanda entendeu aquele homem depois da ficha cair
completamente, disse:
- Estou muito cansada, onde tem um ponto
de táxi para eu ir embora?
- Daqui? Só ônibus! Eu te levo caminhando!
Não foi tão gostoso a nossa vinda?
- Claroooo que não!!! - Pensou, mas não
respondeu.
Em seguida, planejou como iria livrar-se
do ogro pão-duro. Quem poderia chamar para resgatá-la, afinal, em um sábado a
noite todos os seus amigos estavam ocupados. Lembrou do amigo nerd que, de novo, tinha ficado em casa
estudando. Ligou para ele.
Dez minutos depois, prontamente, ele
viria resgatá-la e terminariam a noite no apartamento dele zoando a ingenuidade
e predisposição de Amanda em se dar tão mal para arrumar um par. Ela devolveu a
zoação e disse:
- Ah! Tá bom, sábado à noite em casa,
até parece que você é o pegador! - E fez careta para ele!
- Bem, pegador, nunca fui, porque não
acredito que as pessoas são descartáveis, mas, também, nunca tive problemas
para entrar e sair dos relacionamentos, me considero satisfeito nessa área!
Logo em seguida, despediu-se, já estava
tarde. Deixando, assim, Amanda atônita, pois em seu pré-julgamento o amigo era
tão virgem que seria até um BV, vulgo boca virgem. Claro que isso seria,
praticamente, impossível em nossa sociedade, mas imaginar uma pessoa que só
pensa em estudar tendo vida social era, até então, inconcebível na concepção
dela, guardou a curiosidade. Precisava ligar para Marcella, contar o fiasco da
noite e preparar-se para a nova investida, no próximo final de semana, e no
próximo capítulo...
Margareth Sales