Capítulo 2: Chega de sorvete!
Passara-se um mês, depois que Amanda
deixara o marido e ela continuava lamentando-se, a base de sorvete, sobre o seu
destino infeliz, de não dar certo em seus relacionamentos.
A lamentação chegou num nível
insuportável que precisou de que seus cinco melhores amigos fizessem uma
intervenção. Cada um deles foi incumbido de apresentar Amanda, durante os
próximos cinco finais de semana, a vida real, ou seja, não tem nada disso de
sina, maldição, para uma mulher bonita, culta e divertida encontrar o parceiro
ideal.
No primeiro final de semana, depois da
intervenção, Marina, a psicóloga, amiga de infância de Amanda, ficou
encarregada de fazê-la cair na real.
Marina conheceu Amanda no antigo Jardim
de Infância. Ela havia acabado de derramar o seu Nescau todinho e ao começar a
chorar, a nova amiga veio em sua ajuda e ofereceu seu próprio lanchinho. Nunca
mais deixaram de ser amigas.
Marina era psicóloga clínica e iniciou a
faculdade, também, ao mesmo tempo que a amiga, só que esta foi para a área de
publicidade. Era casada e tinha uma filha de 5 anos. Seu marido era tranquilo e
mesmo quando ela resolvia ir para a balada com os amigos, não ligava, ficava de
bom grado com a filha, deixando a esposa se divertir, pois confiava demais nela
e sabia que ia para a balada dançar e se divertir com amigos, nada demais!
As duas amigas, então, escolheram a
boate mais badalada da cidade para reinserir Amanda na vida. Paqueras era o que
não faltava, afinal, duas jovens lindas, aparentemente, na pista. A jovem
senhora sabia, magistralmente, sair da investida dos garanhões. Já Amanda não
sabia nem mesmo paquerar e precisava de ajuda. Um jovem aproximou-se e veio
direto para falar com Marina:
- Boa Noite, tudo bem com você?
- Boa Noite! Sim, gostaria de conhecer
minha amiga, recém-separada que eu tirei de casa para ver um pouquinho de
gente?
- E você não quer conhecer ninguém?
- Ah! Não, sou muito bem casada! Estou
aqui só de acompanhante. Qual é mesmo seu nome?
- Marcos.
- Marcos essa é Amanda, uma excelente
publicitária de uma das melhores firmas de publicidade carioca.
- Sério? - Perguntou, voltando-se para
Amanda.
- Sério! - Respondeu Amanda.
- E porque recém-separada, uma mulher
linda, inteligente como você?
- Contingências da vida, acontece!
- É o que eu digo, não se fazem mais
homens como antigamente. Aposto que seu ex-marido não lhe deu suporte
emocional, não foi ombro. Eu, realmente, não sou assim! Sempre que alguém
precisar de ombro, estou aqui para o que der e vier.
- Bem, ocorreu um conjunto de coisas que
não vem ao caso no momento, e não, especificamente, a falta de ombros!
- Sim, sim, entendo. Porque tenho
certeza que você vai parar na minha, sou tranquilo e comigo nunca vai faltar o
ombro para te consolar.
- Mas em que você trabalha mesmo?
- Sou analista de T.I. e conhecido na
firma como a pessoa de mais confiança. Todas as minhas amigas, sempre pedem a
minha ajuda. Você sabe, né? Os homens não tão nem aí para oferecer os ombros.
Eu não, amo as mulheres e sempre as ajudo com respeito e ombro.
- Quantos anos você tem mesmo?
- Trinta e cinco e minha juventude,
sempre, foi para ajudar com ombros largos!
- Você me dá um minutinho? Preciso ir ao
banheiro!
- Eu e meu ombro estaremos aqui esperando
por você, princesa!
Como de hábito, uma mulher nunca vai ao
banheiro sozinha e, assim, Amanda levou a amiga, no caminho, a protagonista
diz:
- Acho que vai dar certo, o que eu
preciso agora é um ombro amigo para estar ao meu lado e esse cara parece ser
legal!
Dessa vez, a amiga não pode ser aquela
pessoa otimista que incentiva a escolha do outro. Aquele era o momento, depois
da intervenção que os amigos fizeram, que Amanda precisava cair na real! Por
isso, Marina respondeu:
- Sério?! Você acha? Vamos refletir um
pouquinho sobre esse ser humano que se apresentou a você. Primeiro: ele está
procurando qualquer uma, deu antes em cima de mim, como viu que comigo não ia
rolar, começou a atacar você. Até aí não tem problema, a noite foi feita para
caçar mesmo e aquele que não estava interessado pode vir a mudar de ideia,
afinal, você é um mulherão, né? Só que o segundo ponto é a fala do meliante,
ele usa uma falácia: “dou ombros” e esse argumento tem um nome em latim:
Argumentum ad nauseam, significa: argumento até provocar náuseas! Como ele usa
esse argumento? Ele repete o tempo todo: “dou ombro”, “dou ombro”. Para
convencer que é essa espécie de salvador de donzelas em apuros. Observe,
Amanda, ele nada perguntou sobre você. Um comportamento, completamente,
egoísta, principalmente, para quem conheceu o outro a primeira vez. Não há
nenhum interesse dele por você. O único interesse dele é em si mesmo e
colecionar relacionamentos, porque é óbvio que aquele que não se preocupa com
os outros não cria vínculos. Essa repetição insistente de que ele é ombro faz
muita menininha desavisada cair e, na realidade, existe muita mulher que não
amadureceu e é uma menininha carente e desavisada.
- Tipo eu?
A amiga olhou desconcertada, não queria
jogar na cara essa afirmação, mas era necessário, a protagonista precisava
crescer. Já era hora!
- Sim, você! No entanto, você tem cinco
melhores amigos para ajudá-la a chegar a esta maturidade tardia!
- Quer dizer que aquele cara acaba
convencendo por repetir uma mentira?
- Exatamente, é como se a mentira
repetida convencesse o cérebro de que é uma verdade, não é assim que os
políticos atuam? Geralmente, quem rouba também usa dessa estratégia, repete que
não foi até acreditarem na mentira dessa pessoa, ganham pela náusea, ou no
cansaço!
- E agora o que a gente faz com o cara
que está me esperando?
- Sair de fininho, afinal essa noite já
deu!
Ao chegar perto do elevador do
apartamento de Amanda, ela perguntou:
- Foi uma noite perdida, né? Afinal não
conseguimos nosso intento!
Marina responde enquanto caminhava para
o elevador:
- Claro que conseguimos nosso intento!
Todos nós, seus amigos, estamos te levando para um processo de
auto-conhecimento, para cair na real. Então... Hoje foi a primeira pedrinha...
Rodrigo, o vizinho, grita para segurarem
o elevador. Elas seguram e ele entra com seu pijama de super-herói, hiper
tímido. Amanda pergunta:
- O que você estava fazendo às três da
manhã, com pijama, na rua?
- Estava estudando, bateu uma mega fome,
meu. E não tinha nada na geladeira, aí tive que descer. Ah! Amanda, suas
revistas foram, de novo, entregues na minha casa, amanhã te devolvo, ok?
Amanda sorriu e quando ele desceu no
andar dele a amiga perguntou:
- Quem é o nerd?
- Meu vizinho, acho que ele me disse que
vai tentar o doutorado em linguística, por isso está estudando tanto...
E assim, termina a primeira madrugada em
que Amanda caiu na pista para negócios e também o capítulo 2. No próximo mês,
veremos como continua a saga dessa jovem em busca do homem ideal.
Margareth Sales