O que te define? O que você é no meio de
tantas vozes que tem por hábito te nomear com adjetivos que nem você mesmo sabe
se é real ou fruto de algum mecanismo de transferência?
Há fases que são especificamente momento de
auto-definição. Momentos de reconhecimento. Identidade é o que nos norteia,
aqueles que não reconhecem sua identidade ainda vagueiam vazios pela vida. É
natural que na mais tenra idade a identidade ainda esteja sendo construída
através do contato com o outro, por meio dos embates que nos forjam. Mas um
adulto sem identidade? Isso não é muito saudável, pois a falta dessa pressupõe
ser levado atrás da multidão, tendo como fim último a supressão completa ou
parcial dos próprios desejos e decisões.
A identidade nos liberta, aos nossos anseios
e aos caminhos que queremos trilhar, assim não somos mais levados pela vontade
de outros que muitas vezes não se coaduna com nossas verdades mais internas.
Em um sentido mais amplo a sociedade tenta
impor à todos um único tipo de identidade, aquela chamada “normal”. Antes de
tudo é necessário esclarecer o já incessantemente dito: NÃO EXISTE NORMALIDADE!
Por outro lado, nem essa personalidade “normal” imposta é de verdade
“normal”...
Haja vista que para tal “normalidade”
pressupõe a ausência de angústia, um bom exemplo desse modelo de identidade
pode ser resumido em uma frase que ouvi muito no carnaval: “nada me incomoda”!
Como assim? Se nada incomoda essa pessoa já está há muito distante de qualquer
forma de contato com o real, ou seja, essa pessoa surtou há muito tempo e vive
no mundo do Faz de Conta e não percebeu ainda.
A pressão da sociedade é em não querer
enxergar e te impedir de manifestar personalidade conflitante, pois isso é um
reflexo bem ampliado na cara de uma sociedade que usa o slogan do “nada me
incomoda” só para fugir de si mesmos. Fugindo de si mesmo voltamos ao velho
círculo vicioso: a falta de identidade que só provoca vazios.
Identidade é então, saber-se portador de
angústias, de altos e baixos. Saber com certeza absoluta que, sim, muitas
coisas te aborrecem, mas que também você sabe enumerar e não são poucas, todas
aquelas que agradam.
Concluindo, com um exemplo: ter identidade é
saber que não te incomoda comer arroz requentado de uma semana, mesmo que seu
amigo também reconheça em sua própria identidade que arroz requentado é
intragável, cada um na sua, respeitando a escolha do outro. Identidade é
ciência profunda e real de quem se é com todas as sua nuances, tanto as boas
quanto as socialmente desagradáveis, mas todas são você!
Margareth Sales