sábado, 12 de março de 2011

Tornar-se responsável

Tal qual o autor do pequeno príncipe: “Tu te tornas, eternamente, responsável por aquilo que cativas”. Essa responsabilidade é ser adulto com seus desejos e escolhas. Se o meu desejo causa confronto e estranhamento sobre o desejo do outro, preciso repensar porque responsável e gostando ou amando essa outra pessoa, você não gostaria de vê-la subjugada, não é? Um exemplo: sou casado e minha melhor amiga passou a me encantar, motivos? O cansaço da rotina sobrepondo alguém novo, bonito e interessante... Não são motivos válidos para investir nessa pessoa, porque por mais moderna que talvez ela seja, ela procura sobriedade, um relacionamento maduro no qual ela possa construir. Mas você tem uma carta extra na manga: o mar não está para peixe, nesse sentido, as oportunidades de construção de relacionamentos estão meio escassas para sua amiga e... só sobra VOCÊ! Cuidado, se você é responsável pelo afeto-amizade dedicado a você não venha mexer nesse terreno arenoso.
 
É preciso ter cuidado para não se matar destinos, como no exemplo citado acima, a amiga está solteira, sem possibilidades imediatas de um relacionamento sério. Essa pessoa pode ser presa nas mãos de um homem casado, mesmo que não seja por maldade nem por canalice, você tem um casamento sólido e misturar uma terceira pessoa nessa química, para matar o tédio da rotina, necessariamente pode ser a morte emocional de sua amiga que poderá a contra-gosto e por achar-se sem opção, se envolver. Não mate futuros promissores por um simples capricho de quem escolheu estar casado.

Ser responsável é, então, não roubar a paz da pessoa que você cativou. E não roubar a paz é não usar de artifícios para não deixá-la ir quando ela quer ir. Porém, pessoas só tornam-se responsáveis quando já amadureceram, falta de amadurecimento emocional sempre foi premissa para irresponsabilidade. A comprovação disso são os estudos de Piaget, ao associar o senso de justiça e a criança. O que ele diz? Bem, para o autor para se fazer justiça é necessário avaliar, pesar e interpretar a situação. A criança então não amadureceu no sentido da justiça, confundindo-a com a lei e a autoridade, isso só significa uma coisa: qualquer pessoa munida de lei ou autoridade é cegamente obedecida pela criança.

Não somos mais crianças, sabemos que qualquer circunstância   por mais inusitada que pareça precisa passar pelo crivo do adulto responsável. Ou seja, eu preciso avaliar se meus intentos poderiam matar o futuro de alguém, suas perspectivas ou meu próprio futuro. Pesar na balança se o que desejo roubará minha paz ou a da outra pessoa, porque não de todo uma comunidade?
 
Por último, tenho que interpretar se minhas intenções mais profundas irão em último caso destruir ou construir. Mas quando se trata de destruição ou construção necessito interpretar para além do senso comum. Nesse caso, entender que muitas vezes a construção só acontece depois de uma destruição em massa. Exemplo? O universo formou-se do caos, assim, privilegia-se uma desconstrução que assemelha-se a destruição, qual seria a diferença? A minha integridade, essa não poderá ser tocada.
 
Nesse sentido, se opto por fazer algo mais profundo, mas forte do que a sociedade consegue suportar, o crivo então seria a responsabilidade comigo mesmo. Enfrentarei oposições? Sim, mas me sinto coerente e madura com a escolha tomada, me sinto bem, apesar do caos, do torvelinho que me sobrevêm.
 
Concluindo, tornar-se responsável é então a diferenciação entre fazer o que uma suposta lei dada, imposta quer e seu desejo. Sim, posso como adulto escolher levar minha vida para onde quero a contramão das imposições sociais. Mas se sou adulto mesmo, meu diferencial é que sou responsável por mim, pelo outro que poderei estar envolvendo. Nisso, fica uma lei maior, a de que não poderei só porque desejo passar por cima dos desejos do outro. Preciso concatenar desejos, descobrir se estão na mesma sintonia que eu, se o meu desejo vai de encontro ao desejo do outro e se, maduramente, posso trabalhar com a oposição da maioria. O quanto me sinto em paz com isso, relaxado. 

Então, se descubro que entre duas situações a melhor para mim e para o outro também, é o confronto com o que é imposto, preciso ser honesta comigo mesma e enfrentar. Nesse caso, torno-me responsável pelas minhas escolhas e aceito os desafios resultantes.
Margareth Sales

Um comentário:

  1. Você sempre tem uma maneira inusitada de comunicar o que pensa. Uma forma, de pontuar coisas novas que não tinhamos visto.
    Abraços,
    LPBS

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