terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Adultério


Palavra derivada da expressão latina ad alterum torum que é na cama de outro. Com o tempo a palavra ganhou o concepção de fraudar ou falsificar, esse significado veio da palavra adulterar.

Então pretendo ir além do senso comum e declarar: não se enganem! Adúltero é aquele que mantém uma mulher em casa e vive pensando na outra, mesmo que nunca tenha a coragem de tomá-la para si.

O que pretendo falar com isso: que casamentos acabam e precisa de uma dose muito grande de coragem para asssumir que algo que tanto a sociedade quanto nossos próprios desejos pessoais desejam que dê certo: acabou!

E quem não assume isso? Covarde! Porque as pessoas não possuem a maturidade e a decência de assumir quando algo não está dando certo? Quando não mais funciona? Porque parece ser mais decente, mais santo, ficar com a mulher ou o homem se corroendo por dentro do que liberar, seguir em frente?

Quando eu falo liberar, não uso o termo moderno liberar geral. Liberar aqui, é se permitir ser quem você é e ir em busca de seus desejos. O mesmo para a mulher, liberá-la para buscar a felicidade, ter o direito de sentir-se amada, sem a sufocação de segurar uma situação que já não possui mais condições de acontecer. Ou seja: não acontece há muito tempo.

Nesse contexto, porque chamam ter um casamento e uma outra mulher de pecado? Talvez porque seja pecado? Ou não? Há várias bases e vários comportamentos. Às vezes, um casamento nem está mal, mas surge outra pessoa e mesmo sem intenção: rola. Ficar com as duas? Quem pode julgar? Quem pode prender o comportamento humano em curvas de normalidade? Os padrões religiosos, claro, que definem comportamento. E porque padrões religiosos definem comportamentos? Porque são santos, certos e conduzem só ao bem? Não! Os mais coerentes sabem, perceberam que os padrões religiosos existem apenas para moldar a massa, isto é, deixar cada coisa no seu lugar: quem têm poder continua com o poder e quem não tem (maioria) serve a minoria.

A questão do adultério, então, se encontra muito mais ligada a fraudar, adulterar, do que propriamente a ocupar a cama do outro. Porque digo isso? Porque quando se está em um casamento onde não restou mais nada, nem mesmo a dignidade, provavelmente o amor também já voou pela janela. Porque fraudar alguém, prendendo, tentando prender ou mesmo soltando. Deixando ela fazer o que quer, mas não permitindo que essa encontre um outro. Porque fraudar em você mesmo um sentimento, um orgulho de ser casado que você já não possui. Ao contrário, você sente vergonha daquela pessoa. Porque procurar sexo na rua quando não há mais sexo em casa. Óbvio é que em um relacionamento desgastado a primeira coisa a desaparecer é a relação sexual. Ninguém quer se tocado por quem odeia. E quando a relação sexual não desaparece? Já sabemos que é condicionamento sexual, faz todo o movimento, goza (talvez só o homem) e resta o vazio de se virar para o lado!

Duro? Demais, mas tem casamentos que tornaram-se apenas a vergonha de um dia ter ido ao altar, ao púpito, ao juiz com aquela pessoa. E você é obrigado a continuar nisso, né? Quem obrigou? Você se obrigou, não venha com a historinha para boi dormir de que foi a igreja, a família dela, sua família. Você se acostumou tanto a falsificar sentimentos, falsificar verdades que nem conhece mais outra vida. Quer coisa pior que isso? Aí você pensa: “Poxa, queria ter 16 anos de novo, curtir Legião Urbana com minha garota gostosa!” Sabendo-se que a garota gostosa não é sua esposa, essa pode até ser gostosa para outro homem, ser valorizada. Mas o casamento de vocês já era! Porém, é sinal de incompetência deixar que os outros saibam disso, né? Claro que não! Mas você não amadureceu para perceber essa verdade.

Por último, e pior, é a mulher que fica em maus lençóis quando vive uma situação da outra. Primeiro, existe uma pesquisa antropológica onde demonstra que as mulheres acima de 30 que não se casaram competem com outras 50 por um homem solteiro. Essa pesquisa demonstrou que existe um determinismo geográfico no estado do Rio de Janeiro. Ou seja, a mulher que desejar um homem e todas elas desejam, depois de maduras, terão que optar por um casado. Ou então, mudem-se para Minas Gerais!

Segundo, a outra não é puta e odeia o estigma. Como visto, ela tornou-se outra porque optou entre a solidão ou um relacionamento oculto. E diga-se de passagem, relacionamentos são relacionamentos, mesmo que não sigam a convenção social: quarta, sexta, sábado e domingo aqui em casa, senão: término!         Para se fazer um relacionamento é necessário, apenas, duas pessoas atuando, trocando, se falando, se vendo, esporadicamente? Talvez! Mas é um relacionamento!

E por último, o mito do tabu, tão defendido por Freud. Nesse tabu é um termo polinésico onde significa: sagrado, consagrado, misterioso, perigoso, proibido ou impuro. Olha a mistura semântica em uma só palavra. A outra vira a mulher tabú e que mulher é essa? A mulher que se tocada contamina as outras. Não se enganem, só em novela adultério é bem aceito, em nossa sociedade a Outra vira tabu. Como virou tabu ela costuma enfrentar o preconceito e tentam tocá-la ou vitimá-la pelo desvario inconsequente de homens que acham que podem. E existe muitos assim!

Concluindo, o poder masculino se estabelece na força bruta e vitima. O poder feminino se estabelece no medo que a mulher provoca na sociedade masculina. Esse medo é revertido em violência contra ela. Nem todo homem que escolhe a outra, necessariamente, é violento ou canalha, talvez covarde. Os homens que têm suas outras estão tentando ser felizes, as mulheres que estão com o cara casado estão tentando ser felizes. Nem sempre terminar um casamento tão rápido é o aconselhável, mas se se descobrirem que há sentimentos que vale a pena. Que é um relacionamento que refresca, refrigera, dá novo alento. Deixemos de ser covardes vamos assumir o outro, a outra como nosso(a) e liberar quem, supostamente, ainda se encontra em nossa cama.

REFERÊNCIAS

FREUD, Sigmund. Edição Eletrônica de Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, [s.d.]

GOLDENBERG, Miriam. A Outra: um estudo antropológico sobre a identidade da amante do homem casado. Rio de Janeiro: Record, 1997.
Margareth Sales

6 comentários:

  1. Boa a parte que vc diz: "Adúltero é aquele que mantém uma mulher em casa e vive pensando na outra, mesmo que nunca tenha a coragem de tomá-la para si".

    Infelizmente ainda existe muita gente que prefere viver na mentira, não entendo o motivo. Não tenho filhos, mas acredito que até esse motivo que muitos colocam com barreira para evitar o sofrimento não é aceitável.

    Conheço casais que vivem em adultério pelo medo de enfrentar a verdade. Acho triste!

    Higor Azevedo

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  2. Infelizmente pra muitas pessoas é difícil se tomar decisões, saber qual a melhor maneira de falar,qual a fórnula de fazer as pessoas entenderem que chegou o fim.
    Pois sabemos que qualquer decisão que tomamos na vida, seja a mais certa ou errada,ela sempre tem algo a nós ensinar.

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  3. Derrepente a pessoa que não ama mais com quem se casou, pode estar presa nesse relecionamento por medo, como aquela estória do leão preso na jaula, quando esta está no meio da floresta e ja não existem as travas que o prendiam. O leão prefere ficar dentro, tem medo de enfrentar a floresta. A jaula é jaula, mas é conhecida!
    Lamentável!
    Raquel

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  4. Pois é, quando termina o amor, eu penso que é o momento de cada qual seguir seu caminho e não ficar traindo a pessoa com quem se casou... Nesse caso em questão do texto, digamos que é no minimo muita covardia e picaretagem do homem, não se separar da sua esposa e não assumir o romance c/ a outra por puro medo do qe a sociedade vai pensar dele.

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  5. Bem o tabú está começando a se chamar putaria, pois o que eu vejo de pessoas que traem e sabem tb que são traidas... o verdadeiro tabu ainda está nas pessoas mais conservadoras daquela epoca da Vovó. Mas a nova geração só se importa no que eles tem vontade, deixando de pensar se isso é feio ou errado e muito menos com que os irmãos da igreja falariam... Acho que em um futuro breve vai ser considerado normal ficar com várias pessoas mesmo estando casados... Mas claro que haverá exceções...

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  6. Acredito que o adultério pode ser um lugar ENTRE. O que quero dizer é que entre um momento e outro, algo ocorre e surge o adultério. Mas é para pensar de novo e decidir, vou ficar com o velho ou parto para o novo. Trair sentimentos não é legal.

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