quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

E não houve outro jeito, era amor!

Não posso dissociar amor de Corintíos 13, especialmente em seu primeiro versículo: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa, ou como o sino que tine”. Nos dias de hoje, essa falta de musicalidade nos relacionamentos, esses sentimentos parcos e frios que soam apenas como algo em que se bate e não se produz som, nem há vida, é porque o amor vem ao longo dos tempos esfriando. Não é preciso citar aqui as prováveis causas desse tão grande esfriamento, porque não quero falar de causas, quero falar do amor!
Quero falar de amor sólido que contrapõem a liquidez moderna, que se estende para o cuidado com o outro, que se estende para desafiar o outro a viver, novamente, quando esse já nem mais queria. E esse amor sólido existe e se encontra em uma amizade, num relacionamento amoroso ou mesmo na troca com a alteridade, troca genuína essa, troca de vida, de corpos quando se trata do amor eros. E esse é a chave mestra da felicidade é de onde tiramos o alento, é de onde vem a alegria e essa se desdobra em alegria de viver...
Amor assim, infelizmente não se encontra fácil e não se encontra por ai, em qualquer esquina, porque difere da paixão, porque difere do desejo, mas que encontra tudo isso em seu cerne. Eu nunca vi nada igual quando deparei com ele pela primeira vez, porque eu já havia visto tudo separado, já havia visto desejo intenso, sexual ou não, já havia visto admiração, já havia visto apreço, já havia visto companheirismo, mas nunca havia visto tudo isso misturado, tudo isso fortalecido e sacudido no liquidificador da maturidade.
Esse amor não tinha dimensão era maior do que eu mesma, quando o vi pela primeira vez! Muito maior que a minha capacidade de dar amor. Esse amor um dia me tirou o ar, porque foi lá dentro do meu coração, dentro da sede das emoções e mexeu com a dor que existia lá e não só mexeu, sacudiu ela, sacudiu tão forte que ela foi obrigada a sair e quando saiu veio arranhando, veio cortando e despedaçando e parou na garganta e sufocou, pensei que fosse morrer... Mas o amor me levou para perto da janela e a abriu e me ajudou a respirar e me forneceu ar e me deu esperança e opção quando finalizou com O abraço.
As amizades sólidas vieram desse amor que encheu meu tanque e então pude dividir, doar. Essas são aquelas que se tornaram apesar de não seguirem ou, mesmo, burlarem todas as regras, porque não esperam, porque simplesmente, se vêem abatidas por um sentimento tão intenso que não há como refrear e, mais do que isso, contra toda a racionalidade: “Tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta” (1Cor:13:7). E como se baseia unicamente no amor, o que excluí a possibilidade de egoísmo, porque o amor não busca os próprios interesses. Talvez este tipo de amizade inicie nos últimos dias do começo de sua vida, cunhei essa frase nesse momento, onde percebe-se que para trás ficam os dias maus e que agora uma nova fase se inicia. Em outras palavras, as amizades sólidas surgem na maturidade. Sabendo-se que existem amigos que nos acompanharam de longas datas, até aqui, para estes, digo, que o despontar da maturidade sela o selo.
Haja vista que crescimentos são feitos com altos e baixos, dissoluções e companheirimos, brigas e retomadas, a diferença entre a verdadeira amizade e aquela que não irá a frente é tênue, pois as duas comportam estas idiossincrasias. A diferença fundamental é que custe o que custar, aconteça o que acontecer... o laço se solidifica e não arrefece! A diferença é que você foge léguas, mas quando percebe está novamente em frente ao amor e quando bate de frente, não consegue e não intenta fugir. A gente chega muito longe para voltar e mesmo que se pudesse voltar não há mais voltas, ficamos enlaçados para sempre, laços de amor.
Então a amizade sólida é constituída com regras de reciprocidade e uma forma madura e profunda de se colocar no lugar do outro. Sendo então, reciprocidade diferente de coação, não há como agir em um estágio infantilizado onde se pede ao outro confiança cega, sem explicações. Essa relação unilateral não se assemelha de modo nenhum com uma amizade sólida, pois impõe no lugar do mútuo acordo. Olhar para o outro também é fundamental e isso requer parar de olhar para o próprio umbigo! Disso deriva respeito mútuo e autonomia.
A verdadeira amizade cura a solidão, não porque está sempre ali, mas porque cria uma certeza tão absoluta dentro de nosso coração que este nos tranquiliza no meio da tempestade. Quem aprende amar a um amigo, a um irmão aprende a amar o futuro companheiro (a).
Esse amor eros vem até você de certa forma quando você está despercebido da vida, quando você está tão atarefado dando conta de mil outras coisas e não enfocando-o que não percebe quando ele chega, se aloja e se faz!
Há muitos anos atrás eu havia feito um pacto com Deus, eu prometi a ele que quando o amor chegasse eu o reconheceria, mesmo que eu viesse de uma família disfuncional, mesmo que no meu passado eu nada tenha aprendido sobre o amor. E Deus sabia que eu não poderia cumprir esse pacto se Ele não me mostrasse essa possibilidade de amor.
Hoje eu sei como é o amor, onde ele está e sei que posso doar esse amor, sei que durante toda a minha vida foi muito difícil querer dar amor, quando não tinha para dá-lo. Mas sei que a partir do momento que o descobri eu quero dividir, não posso escondê-lo, o cheiro dele é forte demais e todos sentem...
Minha vida agora é música e ainda que eu não seja musical, o que eu escrevo é, sonorizado, apaixonado, forte e impactante que confronta e faz pensar. Eu não quero mais nada dessa vida que não esteja envolto em amor, amor pelos amigos, pela arte, pela família, pela pessoa da sua vida...
Eu quero você que me olhou e me viu, por trás das cascas, por trás das falsas intenções... Se você quiser voltar para esse amor, eu vou cuidar desse amor, do nosso amor... Esse sentimento é forte e não pode ser detido e ele brota, surge e não deixa ir, mas não aprisiona, liberta no compartilhar, liberta na troca. Quando eu vi esse sentimento pela primeira vez eu fiquei extasiada, eu vi alguém se dar todo por mim, me prometer superar a própria morte para estar lá quando eu precisasse... Não estou dizendo aqui que esse amor faz voltar da morte, depois da morte não há mais volta, não para AQUI. Mas esse amor desafiou, por mim, a morte e disse que não deixaria essa pegá-lo até que pudesse me entregar sadia para o meu amor eros.
E eu sei que era você e veio até mim, chegou até mim, depois de tudo o que viveu porque buscava o amor e nem sabia que era isso que queria. Eu sei que eu não tinha visto quando você veio até mim pedindo amor, mas logo que me dei conta pude te devolver, eu te derrotei na guerra da vida, quando você se bateu repudiando esse amor, quando você mentiu para os outros e para si mesmo que não tinha importância. Eu sei que eu me vi porque você me olhou e porque você me olhou e eu me vi, você pôde chorar... Depois de muito tempo você pode chorar, você pode liberar o peso que estava sentindo incontáveis anos, porque eu me liberei para te cuidar, mesmo com medo eu me liberei para você.
Eu me defendi de você e você se defendeu de mim, a gente se bateu por isso, mas se rendeu, porque você me buscou durante tantos anos e eu te busquei e a gente se achou, porque o amor não falha, ele simplesmente acontece!


Margareth Sales

7 comentários:

  1. Nossa, como você brinca com as palavras!!!
    Esplêndido!!
    Muito boa a historia,estou curiosa pra ver o que vem por ai, posta outras.

    Sabrina Sales

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  2. Margareth, muito bom o seu texto e pude perceber coisas que também sinto e concordo em relação ao amor. Quando vc diz " Nos dias de hoje essa falta de musicalidade nos relacionamentos, sentimentos parcos e frios... nem há vida. O amor vem ao longo dos tempos esfriando"
    Tenho refletido muito sobre a amor, amor esse que até agora parece que não chegou até a mim, será por que ainda não o fui apresentado? Será que não estou aberto a ele, ou mesmo minha "teoria" que as pessoas querem sentir e ter o amor mas sem o peso do comprometimento? O descarte (amor líquido) é a cultura do momento, percebo que todos querem o amor, porém, até o momento que não há crise. O resultado disso é que vejo pessoas ao meu lado que encontraram sim o amor, mas não crescem pois querem viver dos amores de contos de fada.
    Apesar de tudo isso acredito sim na solidez do amor, ainda existe em algum lugar pessoas com o intuito do zelo, o cuidado pelo outro. Hoje tenho sinto esse amor nas amizades especiais que tenho, ainda não encontrei alguém pra cuidar de mim em especial... hehehhe mas acredito que uma hora irá acontecer.
    Para aqueles que encontraram que por algum motivo, seja por medo, insegurança, etc preferiram deixar passar, considero como covardia consigo mesmo e tb com o próximo que lhe deu o amor, nem sempre podemos mudar as escolhas do outro. Porém, para estes que negam a existência e preferem ignorar a vida e o verdadeiro amor que Deus lhe concedeu não encontrarão a musicalidade da vida, será somente mais um nessa "procura" pelo amor.

    Muito bom o texto!
    Abraços,
    Higor AZevedo

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  3. Que bom que era amor!
    Ele toca nossos corações e nos transforma de forma involuntária , nos faz sonhar, nos faz alcançar e chegar mais alto do que um dia imaginavamos.

    Felicidades.

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  4. Amor que não se pede, Amor que não mede, Amor que não se repete! O amor é genuinamente simples, mas gostamos de inventar varias ramificações pra ele! Ele acontece e pronto! É como uma flor que nasce entre as rochas!

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  5. Me encantei com o texto, e percebo que essa é a realidade nos dias atuais, muitos encontrarm o amor e por medo insegurança os deixam ir.
    Qual conselho para essas pessoas?
    abraços

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  6. surgi-me diante de seu texto como por um encanto:procurava só uma frase- O amor não falha em sua dimensão!Pq essa frase foi simplesmente psicografada por não sei quem....E vc me deu de presente um texto maravilhoso,baseado em capitulos do evangelho!!Que bom encontrar pessoas que se preocupam com o amor!!!!!

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  7. Por um momento fiquei sufocado por cada letra do texto por você descrito. Parabéns, prezo muito meu clico de amizade e certamente você pensa como a gente... O liquificador da maturidade eu pude ligar com apenas 24 anos, nos proximo dias farei 26... são 02 anos sacudidos em certezas, e não mais incertezas! Cresci, cresço, e agradeço pela oportunidade de saber que assim como eu, existem outros seres iluminados como vc margareth.... bjao e fique com deus, Jonathan Lopez... lopez.jon0@gmail.com

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