Em homenagem ao meu professor de
Teoria Literária I, que disse que bula de remédio não é literatura. E agora?
-
Ei, você, psiu! Tá precisando de um relaxante aí?
- É,
eu sei que você diz que não precisa, que você é “normal”, tá querendo enganar a
quem? Nem o dedinho mínimo do seu pé tem qualquer marca de normalidade. Não
adianta fugir do psiquiatra, ele vai te achar!
MODO DE USAR
-
Vamos, devagar, calma, você consegue! O modo de usar é bem simples, você que é
cabeça oca! É só enfiar esse comprimido goela abaixo para ver se você para de
dizer que a sua cabeça está sempre tão sobrecarregada de pensamentos.
-
Não é esse o efeito que você queria? Modificar sua percepção de dor e perigo.
Porque... Fala sério, essa angústia constante com a vida é, no mínimo,
decepcionante!
- O
modo de usar é tomar e sacudir. Sacudir a vida, sacudir os pensamentos, sacudir
a “poeira e dar a volta por cima”.
A DOSE
- A
dose é a dose habitual de toma vergonha na cara. Porque você precisa modificar sua visão de
mundo. Essa mania de perseguição já deu, né? O mundo não gira em torno de você.
As pessoas não querem, prioritariamente, te fragmentar. É só o seu excesso de
ansiedade tirando toda a sua capacidade de julgar de forma mais adequada.
-
Sua mente precisa desacelerar, precisa sentir esse barato de um pensamento só,
de cada vez, nada mais daquelas trilhões de questões que invadem a sua mente a
todo minuto. Depois de experimentar (venhaaaa, proveeeee!), você não vai querer
outra vida!
SUSPENSÃO DO TRATAMENTO
-
Como eu sou um Rivotril® cabeça, eu sempre falo nesse tom relaxado, irônico,
marca da minha eficácia no tratamento, pois modifico a percepção da dor e do
perigo, relativizando-os. Aí é que é o perigo e, nesse momento, preciso usar
meu tom mais sério.
- O
Rivotril® é um medicamento que por agir direto no Sistema Nervoso Central (SNC)
tem um grande potencial em causar dependência e uso indevido. Por isso, têm-se
dois tipos de visões, diametralmente opostas: aqueles que acham que eu sou um
medicamento para maluco (geralmente é o senso comum que pensa assim). A outra
visão é a visão de alguns profissionais da área de saúde que acham que a terra
foi marcada por um grande evento, no qual houve uma divisão histórica: a.R. e
d.R., ou seja, antes e depois do Rivotril®.
-
Mas não! Não é verdade que todos precisam de mim e não é verdade que só os
loucos usam psicotrópicos. Por exemplo, você meu futuro paciente precisa de um
Up na vida e para isso é medicação na veia, ops! Na veia não, na boca com um
copo d’água.
-
Então, depois de você se convencer da dura realidade de que você está
precisando de medicação. Aí então, você entrará no tratamento e para sair é
descontinuar, mas você não quer mais, né? Se viciou!
- Para
entrar no tratamento eu aconselho uma junta médica, porque psiquiatra olhar
para você, consultar a bolinha de cristal e receitar, já deu, né? Só sabendo os
pormenores da vida de alguém para receitar com segurança um remédio tão sério
(nem tão sério assim kkkkkkk) como eu! Portanto, para sair, junta médica, de
novo, e acompanhamento psicológico para te ajudar na caminhada da
descontinuação. E é isso... A gente se vê depois de sua ida ao médico!
Margareth Sales
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